Morreu a atriz e encenadora brasileira Bibi Ferreira

A atriz, produtora e encenadora brasileira Bibi Ferreira, de 96 anos, morreu hoje à tarde em sua casa, no Rio de Janeiro, no Brasil, confirmou à revista Veja a empresa que geria a carreira da atriz.

Morreu a atriz e encenadora brasileira Bibi Ferreira

Segundo a agência Montenegro, representante da atriz de ascendência portuguesa, Bibi Ferreira estava acompanhada pela sua única filha, Teresa Cristina, e pela sua cuidadora.

A atriz, cantora, encenadora, compositora e produtora Bibi Ferreira, que atuou e dirigiu espetáculos no Parque Mayer, em Lisboa, nos anos de 1950, e que voltou repetidas vezes a Portugal, para celebrar Amália e o Ano do Brasil, em 2012, afastou-se dos palcos no passado mês de setembro, depois de 20 dias internada, num hospital do Rio de Janeiro.

“Nunca pensei em parar, essa palavra nunca fez parte do meu vocabulário, mas entender a vida é ser inteligente”, escreveu a atriz nas redes sociais, quando anunciou o fim da carreira, acrescentando que se orgulhava muito do que tinha feito e agradecendo a todos os que a acompanharam ao longo de uma carreira de nove décadas.

A atriz deu nome a um teatro em S. Paulo e ao prémio mais conceituado para teatro musical no Brasil.

Filha do ator carioca Procópio Ferreira e da bailarina espanhola Aída Izquierdo Ferreira, Bibi Ferreira subiu pela primeira vez a um palco com 24 dias, substituindo uma boneca que desaparecera dos adereços, pouco antes do início da peça “Manhãs de Sol”, escrita por seu padrinho, Oduvaldo Viana, e protagonizada pela cantora Abigail Maia, sua madrinha, de quem herdara o nome. Não parou mais.

Musicais como “My Fair Lady”, “O Homem de La Mancha”, “Alô, Dolly”, “Gota d’Água” destacam-se no seu percurso. Edith Piaf, Amália Rodrigues e Frank Sinatra foram personalidades com quem se cruzou e que homenageou.

Ao longo da carreira Bibi Ferreira recebeu perto de 30 prémios

Abigail Izquierdo Ferreira nasceu no Rio de Janeiro, em 1922. Aos três anos entrava já num espetáculo a cantar zarzuelas em espanhol, integrada na companhia Revista Espanhola Velasco, onde a mãe trabalhava como bailarina.

Bibi Ferreira cantou ainda em óperas e bailados e chegou a fazer parte do Corpo de Baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, antes de ir estudar para Londres, onde se dedicou às artes dramáticas.

Em 1936 estreou-se no cinema, no filme “Cidade-Mulher”, de Humberto Mauro, em que cantava o samba “Na Bahia”, de Noel Rosa e José Maria de Abreu.

A última participação de Bibi Ferreira no grande ecrã, foi a fazer de si própria em “O teatro na palma da mão” (2011), de Flávio Rangel.

Na televisão participou na minissérie “Marquesa de Santos” (1987), de Wilson Aguiar Filho, personificando a rainha Carlota Joaquina.

Em 1941, estreou no Brasil a peça cómica “La Locandiera”, de Carlo Goldoni, protagonizando Mirandolina.

Três anos depois fundou a sua própria companhia na qual fez “Sétimo céu”.

Bibi Ferreira deu aulas de interpretação e direção no Teatro Duse e na Fundação Brasileira de Teatro, no Rio de Janeiro, na década de 1950.

Em 1957, trouxe o seu repertório de revista para Portugal, apresentando-se no Parque Mayer, com “Horas Felizes” e “Curvas perigosas”, no Teatro Variedades e no Maria Vitória, respetivamente.

No ano seguinte, continuou no Parque Mayer, em Lisboa, para protagonizar três comédias no Teatro Maria Vitória, entre as quais “Com o amor não se brinca” e, em 1959, no mesmo teatro, protagonizou dois sucessos: “Encosta a cabecinha e chora…” e “Tudo na Lua”.

“Taco a taco”, de novo no Maria Vitória, em 1960, foi a última peça que a atriz representou no Parque Mayer.

Bibi voltou ao Brasil em 1960 e começou a trabalhar com a televisão, em teleteatros como o que apresentava no programa Bibi ao Vivo, da TV Tupi.

Na década seguinte, em plena ditadura, dirigiu Maria Bethânia e Ítalo Rossi, Paulo Gracindo e Clara Nunes, no musical “Brasileiro, Profissão: Esperança”, no Rio de Janeiro.

Em 1975, estreou “Gota d’Água”, de Chico Buarque e Paulo Pontes, pelo qual recebeu os prémios Molière e Associação Paulista dos Críticos de Artes (APCA), ao interpretar Joana.

“Deus lhe pague”, onde contracenou com Walmor Chagas e Marília Pera, entre outros, foi outro dos espetáculos que representou, mas foi “Piaf, a vida de uma estrela de canção”, estreado em 1983, o espetáculo mais coinhecido de Bibi Ferreira.

Na década de 1990, voltou ao palco com “Brasileiro, Profissão: Esperança” e a um musical dedicado à cantora francesa.

Em 1996, foi homenageada no Prémio Sharp de Teatro. Três anos depois dirigiu a “Carmen”, de Bizet.

“Bibi vive Amália” foi a peça escrita pelo português Tiago Torres da Silva que Bibi Ferreira protagonizou numa homenagem a Amália Rodrigues, em 2001, no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, e numa digressão pelo Brasil.

Em novembro de 2012, apresentou-se de novo em Lisboa, num espetáculo integrado no “Ano do Brasil em Portugal”, no qual interpretou temas variados de repertório brasileiro, sem esquecer de novo as canções de Amália.

Fez a digressão de despedida em 2017, “Bibi, por toda a minha vida”.

Ao longo da carreira Bibi Ferreira recebeu perto de 30 prémios, entre os quais, por quatro vezes, o principal galardão para teatro de imprensa do Brasil e, por duas vezes, o prémio Molière, do seu país.

 

 

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