Morreu a atriz Madalena Pestana, do primeiro elenco do teatro da Comuna
A atriz Madalena Pestana, que fez parte do elenco fundador da companhia A Comuna – Teatro de Pesquisa, morreu na segunda-feira, em Lisboa, aos 70 anos.
Nascida no concelho de Sintra, em novembro de 1949, Maria Madalena Batalha Pestana foi uma das protagonistas do teatro independente, em Portugal, na década de 1970, uma “atriz-força da natureza”, como a crítica a definiu, logo na estreia, em 1969, no papel de “Antígona”, espetáculo inaugural do grupo Primeiro Acto, que também lhe valeu os elogios de autores como José Cardoso Pires e Alves Redol.
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Ao longo de quase uma década, segundo a base de dados do Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, o nome de Madalena Pestana surge em companhias como Grupo 4, mas sobretudo em A Comuna – Teatro de Pesquisa, que tem no seu núcleo fundador atores como João Mota, Carlos Paulo, António Rama, Manuela de Freitas, Maria Emília Correia e Melim Teixeira.
Madalena Pestana fez parte do elenco da primeira peça desta companhia, “Para onde is?”, construída sobre o “Auto da Alma” e o “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente, estreada em 01 de maio de 1972, data que marca a fundação de A Comuna.
A atriz manteve-se nesta estrutura, nos anos seguintes, entrando em produções como “Feliciano e as Batatas”, de Catherine Dasté, peça distinguida com o Prémio da Casa de Imprensa do Melhor Espectáculo Juvenil ou Infantil de 1972, e “Brincadeiras”, criação coletiva, em que também participou, estreada no verão do ano seguinte.
Através do Centro de Estudos de Teatro da Universidade de Lisboa o nome de Madalena Pestana surge ainda nos elencos de “A Ceia I”, estreada em 1974, antes do 25 de Abril, e de “A Ceia II”, levada a cena após a queda da ditadura e o termo da censura.
Trabalho coletivo sobre textos de Bertolt Brecht, Gil Vicente, Antero de Quental, Vinicius de Moraes e Mário Dionísio, assim como da “Bíblia” e do “Corão”, “A Ceia”, encenada por João Mota, recebeu o Prémio de Imprensa do Melhor Texto Teatral de 1974.
O nome de Madalena Pestana está ainda presente em “A Cegada”, espectáculo criado para a homenagem ao Movimento das Forças Armadas, organizada por artistas plásticos no Dia de Portugal, de 1974.
A carreira da atriz também inclui “Viva’, ó parque infantil”, uma peça para crianças de Lauro Olmo e Pilar Enciso, traduzida por Luís de Sttau Monteiro, posta em cena pelo Grupo 4 – Sociedade de Actores, em 1977.
A estreia de Madalena Pestana remonta a julho de 1969, como protagonista de “Antígona”, do dramaturgo francês Jean Anouilh, a partir da tragédia de Sófocles, espetáculo inaugural do Primeiro Acto, uma encenação de Armando Caldas, com música de cena de Jorge Peixinho.
“Uma revelação como atriz-força da natureza, cujo grito de liberdade ultrapassou as paredes do Primeiro Acto, convocou gente de todos os lados, por vezes incrédula ou fascinada, perante algo que parecia fora dos limites consentidos”, recordou Eduardo Pedrozo, em 2007, na revista Sinais de Cena, da Associação Portuguesa de Críticos de Teatro, com o Centro de Estudos de Teatro.
Nesse artigo dedicado ao “Clube de Teatro” de Algés, projeto que anulou a distância entre o público e o palco e mobilizou criadores como Luiza Neto Jorge e Ernesto de Sousa, surgem ainda cartazes da época e citações da crítica.
Alves Redol, autor do neorrealismo português, destacou em Madalena Pestana uma intuição rara de atriz, no papel de Antígona. O escritor José Cardoso Pires, por seu lado, falou dos protagonistas: “Dois novos atores, Madalena Pestana e José Capela, apresentam um esquema de interpretação muito mais válido do que o da maioria dos profissionais que cruzam os nossos palcos de modernismo ultrapassado”.
Madalena Pestana era irmã da antiga provedora da Casa Pia de Lisboa, Catalina Pestana (1946-2018), e foi casada com o escritor Nuno Bragança (1929-1985), o autor de romances como “A Noite e o Riso”, “Directa” e “Square Tolstoi”, que conheceu durante os anos de trabalho em A Comuna.
O nome Maria Madalena Batalha Pestana surge entre os quase 30 mil do Memorial aos Presos e Perseguidos Políticos da ditadura do Estado Novo, iniciativa de cidadãos, que esteve durante um ano nos corredores da estação de metro Baixa/Chiado, em Lisboa, e cujo testemunho se perpetua através da página memorial2019.org.
Foto: LINKEDIN
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