Museu mais visitado da Praia quer reativar campanhas de recolha de peças

O Museu Etnográfico da Praia, o mais visitado da capital cabo-verdiana, quer reativar campanhas de recolha de peças para o seu espólio, constituído por artigos do quotidiano de outrora, sobretudo do mundo rural.

Museu mais visitado da Praia quer reativar campanhas de recolha de peças

“Queremos sair, para o terreno, e continuar a recolher, porque, se nos anos 90 havia peças que estavam em perigo, de certeza que hoje será ainda mais difícil recolhê-las”, aponta Eugénia Alves, técnica da direção da instituição situada na rua pedonal do Plateau, centro histórico.

Campanhas do género decorreram em 1992 e 1994, com o objetivo de dar prioridade a peças “do mundo rural” que fizeram parte da identidade cabo-verdiana, ao longo das décadas.

“Estavam a cair em desuso e, com a entrada de materiais em plástico, as pessoas deixaram de utilizar esses objetos tradicionais”, explica a antropóloga, para justificar a importância do museu: permite, num único espaço, acesso a património e memórias que começam a escassear sobre a cultura do país.

Vontade não falta para retomar as campanhas de recolha, mas a falta de espaço tem travado a ideia.

“Hoje temos mais peças do que aquelas que foram recolhidas nas campanhas de 1992 e 1994”, resultantes de entregas pontuais por parte de particulares.

A antropóloga serve de guia numa visita ao espaço, poucos dias depois de conhecidos os números que o colocam como o mais procurado da Praia em 2023: recebeu 5.423 visitantes, mais 39% que no ano anterior.

Uma tábua em madeira, atravessada por sulcos, para lavar roupa (em poços, tanques ou em casa) e o respetivo alguidar, também em madeira, despertam a atenção de estudantes, porque já ninguém os conhece — muito menos em madeira, o que é uma raridade em Cabo Verde.

O museu funciona como uma espécie de antídoto contra a amnésia entre gerações.

“São das peças mais importantes, por causa da sua singularidade: servem para contar a história do nosso contexto sociocultural”, que tende a ficar esquecido, conta à Lusa Eugénia Alves, técnica da direção da instituição.

Um moinho em pedra, antes usado para fazer farinha de milho, o “fogão primo” em ferro, utilizado para cozer alimentos, e o “binde de madeira”, panela furada na base, usada para fazer cuscuz, são outras peças no percurso guiado apresentadas pelo conservador, José Lima.

A instituição apresenta coleções variadas para retratar as principais atividades económicas tradicionais de Cabo Verde, nomeadamente, a agricultura, a pecuária, a pesca, o artesanato, a cestaria e a olaria.

Além das categorias associadas às atividades económicas, expõe também as de música e brinquedos tradicionais.

O edifício que acolhe o museu pertencia a “um grande comerciante” do Plateau, centro histórico da capital do país, e foi inaugurado em 1997.

De lá para cá, já passou por três remodelações, a última em 2014, preservando uma arquitetura neoclássica, com tijolos e vigas de madeira reutilizadas, que faziam parte dos materiais da construção original.

Há ainda um espaço de histórias que expõe máquinas fotográficas e gravadores de som, recolhidos em todas as ilhas do arquipélago.

*** Serviços áudio e vídeo disponíveis em www.lusa.pt ***

*** Rosana Semedo (texto), Ricardino Pedro (vídeo) e Elton Monteiro (fotos), da agência Lusa ***

ROZS/LFO // VM

Lusa/Fim

By Impala News / Lusa

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