Primeira noite de enfermeiro em greve de fome «foi dura e com muito frio»
Carlos Ramalho, profissional de Saúde e presidente do sindicato dos enfermeiros Sindepor, encontra-se no jardim em frente ao Palácio de Belém desde as 12h00 desta quarta-feira a fazer uma greve de fome em nome de todos os enfermeiros. O protestante conta ao Portal de Notícias como foi a primeira noite da manifestação
Num tom menos enérgico mas igualmente determinado, Carlos Ramalho disse ao Portal de Notícias Impala, ao final da manhã desta quinta-feira, que a primeira noite da greve de fome que iniciou junto à residência do Presidente da República foi «dura e com muito frio». Apesar de confessar sentir-se cansado, o enfermeiro, que começou a manifestação às 12h00 desta quarta-feira por tempo indefinido, garante que não vai desistir. «Continuo motivado para resistir.»
Tal como afirmou ontem ao nosso site, o presidente do Sindepor continua a declarar que vai ficar em Belém «enquanto a condição física o permitir». O sindicalista, que só irá parar a greve «quando o Governo voltar a negociar com os enfermeiros», refere que a primeira noite pode ter sido difícil de suportar, mas foi difícil em companhia. «Outros enfermeiros têm aparecido para prestar apoio. Têm sido fantásticos. Não passei a noite sozinho. Houve colegas que ficaram.»
Vera, de 36 anos, foi uma das enfermeiras que fez questão de passar nos jardins do Palácio de Belém para dar força ao colega nestas primeiras 24 horas. «Estou aqui para apoiar o enfermeiro porque acredito que é essencial alguém continuar a lutar para que alguma coisa mude.» A profissional de Saúde do Hospital de Santa de Maria que admitiu estar a fazer greve diz estar indignada com o «braço de ferro do Governo com os enfermeiros» e exige uma maior «compreensão» pelas reivindicações dos profissionais. «Os enfermeiros são os primeiros a sacrificarem-se em prole dos seus utentes. Portanto, nós também merecemos o respeito dos utentes.»
«Realmente é preciso ter muito coragem para se tomar uma decisão destas»
Se inicialmente o planeamento da greve de fome, num sentido mais prático, tinha sido ultrapassado por «uma determinação muito grande», agora, Carlos Ramalho pensa nas condições com que vai viver nos próximos dias de outra maneira. «Já me vieram trazer tudo, incluindo uma manta». O profissional de Saúde também confirma ao nosso site que, tal como vou divulgado numa nota na página oficial da Presidência da República, uma equipa médica disponibilizada por Marcelo Rebelo de Sousa já se encontrou com o manifestante para averiguar como estava o seu estado de saúde. «Uma enfermeira já esteve aqui a oferecer ajuda.»
Sobre o anúncio de que Duarte Gil Barbosa, um enfermeiro do Hospital de São João, no Porto, se vai juntar à greve de fome por solidariedade ao presidente da Sindepor na próxima sexta-feira, junto do Parlamento, Carlos Ramalho deixa uma mensagem de força e agradece o gesto do colega.
«Que tenha muita força porque realmente é preciso ter muito coragem para se tomar uma decisão destas. Gostava de lhe dizer também que estou grato pelo seu gesto de solidariedade.»
Governo vs enfermeiros: Os principais pontos de discórdia
A greve cirúrgica foi convocada pela Associação Sindical Portuguesa dos Enfermeiros (ASPE) e pelo Sindicato Democráticos dos Enfermeiros (Sindepor) em dez centros hospitalares, até 28 de fevereiro, depois de uma paralisação idêntica de 45 dias no final de 2018. As duas greves foram convocadas após um movimento de enfermeiros ter lançado recolhas de fundos numa plataforma ‘online’ para financiar as paralisações, conseguindo um total de 740 mil euros. Os principais pontos de discórdia são o descongelamento das progressões na carreira e o aumento do salário base dos enfermeiros. A requisição civil foi contestada pelo Sindepor no Supremo Tribunal Administrativo, que se deverá pronunciar nos próximos dias. No final da semana passada, o Conselho Consultivo da Procuradoria-Geral da República considerou que a greve é ilícita, um parecer que foi de imediato homologado pela ministra da Saúde, ordenando a marcação de faltas injustificadas aos enfermeiros em greve a partir de hoje. A ASPE pediu a suspensão imediata da paralisação, mas o Sindepor vai mantê-la.
Reportagem WiN: Mafalda Tello Silva; Fotos: Paula Alveno
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