Nove mulheres acusam Neil Gaiman de abusos sexuais que autor nega
Pelo menos nove mulheres dizem ter sido vítimas de abusos e agressões sexuais pelo escritor britânico Neil Gaiman, em casos denunciados nos media em julho e esta semana, e cujas acusações o autor rejeita.
Esta semana, a revista New York publicou uma longa reportagem sobre o premiado escritor Neil Gaiman, na qual detalha casos de violência sexual e relacionamentos abusivos com várias mulheres, e contextualiza a vida familiar do autor na infância e adolescência. Algumas das mulheres contactadas pela New York já tinham partilhado acusações de abuso, agressão e coação, numa investigação divulgada em julho passado num ‘podcast’ da Tortoise Media.
Citando várias fontes testemunhais, incluindo oito vítimas e amigos, e fontes documentais, como mensagens, diários, biografias, entrevistas e informações policiais, a revista New York revela que duas das mulheres trabalharam para Neil Gaiman e cinco eram admiradoras e que, na altura da maioria dos factos, o autor teria mais de 40 anos (atualmente tem 64). Uma das mulheres é Kendra Stout, que teve um relacionamento com Neil Gaiman depois de o ter conhecido em 2003, num evento literário onde este dava autógrafos. Em outubro passado, a mulher apresentou uma queixa na polícia contra o escritor por violação e na reportagem da revista New York refere um comportamento sexual violento não consentido.
Outro dos casos é contado por Scarlett Pavlovich, que conheceu Neil Gaiman através de Amanda Palmer, à época mulher do autor, e que chegou a tomar conta do filho de ambos. Pavlovich conta que teve um relacionamento intermitente com Neil Gaiman e que sofreu abusos sexuais não consentidos em vários momentos. Em janeiro de 2023, formalizou uma queixa na polícia por agressão sexual, que não foi por diante. Na terça-feira, em reação à reportagem da New York Magazine, mas remetendo também para a investigação da Tortoise Media, Neil Gaiman rejeitou as acusações de que é alvo e garantiu que nunca se envolveu “em atividades sexuais não consensuais com ninguém”.
“Na época em que eu estava nesses relacionamentos, eles pareciam positivos e felizes de ambas as partes”, escreveu Neil Gaiman, numa declaração na página oficial. Ainda assim, o escritor admitiu que estava “emocionalmente indisponível enquanto estava sexualmente disponível”. “Obviamente fui negligente com o coração e os sentimentos das pessoas e isso é algo que lamento profundamente. Foi egoísta da minha parte. Fiquei preso na minha própria história e ignorei a das outras pessoas”, escreveu.
Neil Gaiman é um dos mais populares e influentes escritores e argumentistas da literatura anglo-saxónica, no universo da fantasia. Tendo trocado o jornalismo pela ficção, publicou romances, contos, livros ilustrados, banda desenhada, argumentos para cinema e televisão. “The Sandman”, “Deuses Americanos”, “Bons augúrios”, coassinado com Terry Pratchett, “A estranha vida de Nobody Owens”, “Coraline e a porta secreta”, “Terra do Nada” e “Stardust” são alguns dos livros da extensa bibliografia de Neil Gaiman.
O autor, que foi embaixador da boa vontade da ONU entre 2017 e 2019, reúne ainda alguns dos mais relevantes prémios literários do género, nomeadamente os prémios Hugo, Nebula e Eisner, além das distinções Newbery e Carnegie, na literatura para crianças e jovens. Desde que surgiram as reportagens sobre os alegados casos de abusos sexuais, alguns dos projetos audiovisuais envolvendo Neil Gaiman foram adiados ou cancelados, como a terceira temporada da série “Good Omens”, da Amazon Prime, e a adaptação de “A estranha vida de Nobody Owens” pela Disney. Não foi confirmada a data exata da nova temporada da série “The Sandman”, este ano na Netflix.
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