Número de diabéticos diagnosticados atinge valor mais alto de sempre
Cerca de 75 mil pessoas foram diagnosticadas com diabetes em 2023, elevando para mais de 900 mil o total de diabéticos registados nos cuidados de saúde primários, o valor mais elevado de sempre em Portugal.
Os dados sobre o número de diabéticos em Portugal constam do relatório de 2024 do Programa Nacional para a Diabetes (PND) da Direção-Geral da Saúde (DGS), hoje apresentado, e que indica que em 2023 foram registados 75.661 novos diagnósticos da doença em Portugal continental.
“Em Portugal, em dezembro de 2023, estavam registadas mais de 900 mil pessoas com diagnóstico de diabetes nos cuidados de saúde primários, correspondendo a cerca de 8,6% do total de utentes inscritos no Serviço Nacional de Saúde (SNS), o valor mais elevado de sempre”, salienta o documento.
A Direção-Geral da Saúde (DGS) alerta que se mantém a tendência crescente verificada nos últimos anos e estima que, tendo em conta o elevado número de pessoas que desconhecem o seu diagnóstico, deverão existir mais de um milhão de portugueses com diabetes.
“O que é preocupante é que temos muitas pessoas identificadas, muitas pessoas em risco e isso faz prever que, nos próximos anos, possivelmente estes números vão continuar a aumentar”, adianta a diretora do Programa Nacional para a Diabetes (PND).
Em causa está uma doença com “custos muito elevados”, uma vez que se estima que cerca de 12% do orçamento da saúde esteja relacionado com a diabetes, refere Sónia do Vale, ao salientar que em Portugal “ainda falta fazer uma aposta na prevenção”, uma vez que é mais barato prevenir do que tratar a doença.
A despesa total com antidiabéticos estabilizou em 2023 – 494 milhões de euros em 2022 e 493 milhões de euros em 2023 –, após aumentos acentuados nos anos anteriores, adianta o documento.
O relatório indica também que em 2022 verificaram-se 254.516 admissões hospitalares de pessoas com diagnóstico de diabetes, sendo que em 21,1% dos casos a doença constituiu o diagnóstico principal, com uma duração média de internamento de 10 dias, superior à média geral dos internamentos no SNS que foi de 8,6 dias.
Nesse ano, a diabetes foi responsável por 3.727 mortes, correspondendo a 3% dos óbitos em Portugal, dos quais 9,4% ocorreram em pessoas com menos de 70 anos.
“Em 2022, a diabetes foi responsável por 2.838 anos potenciais de vida perdidos abaixo dos 70 anos, com uma média de 8,1 anos de vida perdidos por cada óbito ocorrido abaixo dessa idade”, alerta ainda o relatório.
Obesidade contribui para o aumento da diabetes
De acordo com o documento, os novos casos de diabetes registados em 2023 tiveram uma cobertura elevada no acesso a cuidados de saúde em termos de vigilância médica e de enfermagem e estima-se que entre 35 mil e 40 mil pessoas em Portugal tenham diabetes tipo 1.
Em 2021 e 2023, nos cuidados de saúde primários foram identificados cerca de 3,4 milhões de utentes com pelo menos uma avaliação de risco de diabetes tipo 2, correspondendo globalmente a 55% da população alvo, dos quais mais de um milhão (31,9%) com risco moderado, alto ou muito alto.
Esses números permitem também dizer que mais de metade da população alvo está rastreada, realçou a diretora do PND, que elencou a obesidade, mas também o sedentarismo e o envelhecimento da população, como as causas para a elevada prevalência da doença em Portugal.
“Se conseguíssemos prevenir a obesidade, iríamos prevenir a maior parte dos casos de diabetes”, refere Sónia da Vale. Quanto ao rastreio das complicações da diabetes, em 2023 já foram alcançados os valores de pré-pandemia, no entanto, no caso da retinopatia diabética a taxa de cobertura populacional não ultrapassou os 51% e a taxa de rastreio populacional foi de 32%.
Para 2025-2027, o PND propõe um plano de ação para reduzir o desenvolvimento da diabetes em pessoas em risco, aumentar o número de diagnósticos precoces e reduzir a morbilidade e mortalidade por diabetes.
Sónia do Vale adiantou que foi delineado um programa para prevenção baseado nos cuidados de saúde primários, mas defendeu a necessidade de “dar o salto” para envolver também a comunidade e as autarquias, no sentido de apoiarem programas de prevenção e controlo da diabetes.
Em relação aos programas para quem está com risco elevado, os “cuidados de saúde primários são muito importantes e, portanto, era importante reforçar as equipas e a ideia de que a educação terapêutica faz parte da atividade das unidades”, preconizou a diretora do PND.
Número de diabéticos dispara em todo o mundo
De acordo com a International Diabetes Federation, 537 milhões de pessoas entre os 20 e os 79 anos sofriam de diabetes em todo o mundo em 2021. Isto representa 10,5 por cento da população mundial nesta faixa etária.
O número total de adultos com a doença deve aumentar para 787 milhões (12,2 por cento da população global) até 2045. As regiões com os maiores números estimados de adultos com a doença são o Pacífico Ocidental e o Sudeste Asiático. Espera-se que no continente africano se assista ao maior aumento no número de pessoas a viverem com a doença. A Federação Internacional de Diabetes prevê um aumento de mais de 130 por cento nos casos até 2045.
Na Europa, estima-se que pouco mais de 61 milhões de adultos tinham diabetes em 2021, número que deve chegar a 69,2 milhões até 2045. A Federação Internacional destaca ainda que, globalmente, a diabetes está agora entre as dez principais causas de morte e que representa um desafio sério e crescente para a saúde pública.
Cerca de 40% dos portugueses com diabetes desconhecem ter a doença
“Quando analisamos, por exemplo, a percentagem de doentes que estão por diagnosticar, em média, anda à volta dos 40%. Mas, por exemplo, entre os 30 e os 40 anos pode atingir os 60%, porque estas pessoas são ativas profissionalmente e não vão ao médico e não fazem análises”, adianta o endocrinologista Davide Carvalho.
De acordo com o também professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, os sintomas da diabetes “são mais ou menos conhecidos” – como ter muita sede, urinar muito e ter tendência a beber muitos líquidos, que aparecem numa fase doença “mais avançada”, em que já é sintomática.
Aconselhando avaliações periódicas ao estado de saúde, Davide Carvalho refere que as pessoas deveriam “fazer análises idealmente uma vez por ano”, mas, observa, se fizerem entre três e cinco anos, “a maioria acabaria por ser diagnosticada”.
“Devem fazer avaliações de acordo com o contexto, porque muitas vezes estes doentes têm história familiar de diabetes, nasceram com excesso de peso ou […] têm também obesidade ou outras doenças, como, por exemplo, hipertensão. Portanto, nestes casos, deve ser feito o doseamento da glicose para se diagnosticar diabetes”, sustenta.
Como atitudes simples podem prevenir ou controlar a diabetes
Statista
Novembro é o mês de prevenção à diabetes, focado no dia 14 de Novembro, Dia Mundial da Diabetes, hoje assinalado. O objetivo é o de consciencializar as pessoas sobre os perigos da doença, bem como tratamentos e prevenção da condição.
Como ocorre a diabetes?
A doença ocorre quando o organismo enfrenta dificuldades em regular os níveis de glicose no sangue. No tipo 1, o sistema imunológico ataca e destrói as células produtoras de insulina no pâncreas. No tipo 2, as células desenvolvem resistência à insulina, o que gera níveis elevados de glicose.
Fatores genéticos, estilo de vida e obesidade contribuem para o desenvolvimento da diabetes tipo 2. No entanto, a ausência de controle adequado pode levar a complicações sérias, enfatizando a importância da vigilância, dieta equilibrada e, em alguns casos, medicamentos.
Como prevenir?
De acordo com o médico cardiologista Dr. Roberto Yano, a prevenção da diabetes está voltada para a prática de hábitos saudáveis e acompanhamento clínico rigoroso com o seu médico.
“A prevenção da diabetes é importante pois uma vez adquirida, a doença não tem cura, mas a maioria dos casos poderia ter sido prevenida. Esses cuidados baseiam-se na mudança de hábitos, como melhora na alimentação, reduzindo o consumo de açúcares e comidas industrializadas, assim como gorduras trans, substituindo-os por frutas, verduras, legumes e alimentos in-natura.”
Sete sinais de alarme que não pode ignorar
Perante o desconhecimento de muitas pessoas, existem alguns sinais que não pode ignorar. E que são sinal de que poderá sofrer de diabetes. Sendo importante realçar que o excesso de peso ajuda a que as pessoas possam vir a ter esta condição.
1 – Ir à casa de banho com muita frequência, especialmente à noite;
2 – Sentir-se mais cansado;
3 – Perder peso sem qualquer esforço;
4 – Comichão ou candidíase genital;
5 – Cortes e feridas demoram mais a cicatrizar;
6 – Visão embaciada;
7 – Ter muita sede.
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