O relato emotivo do homem que retirou o corpo de Julen do poço
Na casa deste homem que fez parte da equipa de resgate e que durante 13 dias acreditou num desfecho feliz, não se falava noutra coisa. O filho de Nicólas, perguntava-lhe todos os dias: «Pai, é hoje que vais resgatar o Julen?».
Nicolás Rando, um profissional em resgates de montanha, foi o homem que teve a dura tarefa de retirar o corpo do pequeno Julen do poço em Totalán, Málaga.
Na casa deste homem que fez parte da equipa de resgate e que durante 13 dias acreditou num desfecho feliz, não se falava noutra coisa. O filho de Nicólas, perguntava-lhe todos os dias: «Pai, é hoje que vais resgatar o Julen?».
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Ao Diario Sur, relatou que quando recebeu a chamada que dava conta do caso de Julen, estava de folga, com a família. «Contou-me que um menino tinha caído num poço de 25 centímetros de diâmetro em Totalán e que não sabiam o que fazer. Queria saber se tínhamos alguma ideia». Na segunda-feira, no dia seguinte à queda, Nico já lá estava. E lá ficou, até dia 26 de janeiro.
Este homem ainda não podia saber, mas a autópsia viria a confirmar que Julen morreu no domingo, dia 13, com um traumatismo cranioencefálico resultado da queda a pique.
Os primeiros dias foram «decepcionantes», como conta ao jornal. «Cada vez que aparecia um problema, perdíamos muito tempo em solucioná-lo».
O resgate de Julen foi marcado por inúmeros contratempos. E Nico sempre ali, à espera da hora em que pudesse descer e encontrar Julen com vida.«Dissemos a nós próprios que dali não saíamos até encontrarmos Julen».
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Superadas as adversidades do entubamento, os mineiros estavam prontos a descer. As horas seguintes seriam de mais frustração para a equipa de seis mineiros e dois engenheiros. O solo era demasiado duro e foi necessário proceder a quatro micro explosões. Nico desceu após a segunda detonação, à quarta descida da cápsula.
«É uma sensação estranha, descer por um cano de ferro. Já entrei em buracos mais apertados e claustrofóbicos, mas aquele…», confessa.
Quando chegaram aos 2,50 metros dos 3,8 que eram necessários, tomou-se a decisão de que a partir dali desceria também um guardia civil para exercer as funções de polícia judicial. Se o menino estivesse vivo, haveria que socorrê-lo. Se não, era necessário recolher vestígios e fazer inspecção ocular.
Chegando ao 3,70 metros, chegaram finalmente ao tubo onde estava Julen. «O meu colega colocou uma câmara no buraco que abrimos e ele viu a criança», conta.
Foi Nico o homem que levou a cabo a árdua tarefa de retirar o corpo de Julen.
«Tocou-me a mim. A partir daí, tive sentimentos mistos. Um certo alívio por ter terminado o trabalho. Mas enfurecido com o resultado. Movemos terra que dava para parar sete aviões, conseguimos alcançá-lo e retirámo-lo. Não estava vivo, isso é o pior. Mas fizemos de tudo». Nico confessa que o sossega que Julen tenho morrido com a queda e não tenha ficado ali, à espera de salvação.
Quando entregou o corpo às entidades forenses, embora estivesse preparado para o desfecho porque este é o seu trabalho, teve necessidade de estar sozinho e aí chorou.
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