Para Carminho, 2024 vai ser “um ano rico” no cinema, em estúdio e na estrada
A fadista Carminho entra em 2024 a planear uma nova digressão internacional, a pensar já num novo álbum e a colher os frutos de experiências imprevistas, como entrar no filme “Pobres Criaturas”, de Yorgos Lanthimos.
Carminho tem uma breve participação neste filme, a interpretar à guitarra portuguesa o fado “O quarto”, numa cena com a atriz Emma Stone, num cenário de uma Lisboa imaginária, de tempo indefinido, mas onde não faltam azulejos, ruelas antigas e muitos pastéis de nata.
Nas vésperas da estreia portuguesa de “Pobres Criaturas”, marcada para quinta-feira, Carminho recordou à agência Lusa que participou na rodagem em 2021, num estúdio em Budapeste, numa altura em que estava a preparar o álbum “Portuguesa”.
Carminho conta que o realizador, bem informado sobre fado, queria para o filme uma certa “ligação entre o tradicional e a imagem contemporânea” e pediu-lhe ainda que tocasse guitarra portuguesa, o que para a fadista foi uma estreia e é uma experiência ainda rara entre as mulheres.
“O filme fala muito sobre feminismo e desconstrói posições mais ortodoxas entre homens e mulheres e o fado foi moldado durante muitos anos por posições muito definidas: a mulher canta, os homens gerem a casa de fados, tocam, fazem os poemas. Ele [o realizador] quer desconstruir essas construções mais calcificadas. Eu também sinto que esse é o meu papel”, explicou a cantora.
Para Carminho, que cresceu neste meio, que se estreou em palco com 12 anos e editou o primeiro disco há 15 anos, precisamente intitulado “Fado” (2009), o fado é uma linguagem.
“O fado é a minha tradição, foi no fado que aprendi a ler música, a interpretar. O fado é a linguagem, mas o discurso não tem de ser o de há cem anos, nem de há cinco anos, tem de ser um discurso que me represente, que fala comigo”, sublinhou.
O álbum “Portuguesa”, que abre com o fado “O quarto”, foi publicado em março de 2023, enquanto o filme “Pobres Criaturas” teve uma estreia mundial, premiada, em setembro de 2023 no festival de Veneza.
Carminho teve um ano intenso, com quase 80 concertos em Portugal, noutros palcos europeus, no Brasil, em Moçambique e nos Estados Unidos, onde em dezembro participou ainda na antestreia comercial ao lado do realizador e do elenco e teve direito a uma interpretação surpresa do fado que canta no filme.
“Pobres Criaturas” tem somado vários prémios e é dada como certa a presença entre os nomeados para os Óscares, incluindo na categoria de banda sonora original, assinada pelo músico inglês Jerskin Fendrix, e da qual faz parte também o fado interpretado por Carminho.
Tudo isto acontece num momento em que Carminho vai continuar este ano na estrada a mostrar o álbum “Portuguesa”, mas está já em pré-produção de músicas novas, “a gravar, a ouvir, a experimentar.”
“Para mim é sempre o momento mais apaixonante de todos, ver as coisas a acontecer, mas também é o que faz sofrer mais”, admitiu.
Para a cantora, 2024 “adivinha-se um ano rico” e a participação em “Pobres Criaturas” surge na sequência de uma aposta, nos últimos anos, em chegar a mais territórios, seja na Europa, seja no universo da língua portuguesa, seja na América do Norte, “o grande mercado que decide o que é que existe no mundo de forma ‘mainstream'”.
Essa é a estratégia, “entusiasmante, mas dura”, de “trabalhar território, de ir, de insistir”.
“Podia ser mais confortável ficar [só por Portugal]? Podia, mas os frutos são incríveis e talvez nunca estivesse neste filme do Yorgos se eu não tivesse chegado até ele por alguma via e isso tem a ver com a internacionalização”, defendeu.
E rematou: “É um privilégio estar presente neste momento deste filme, mas depois este filme vai sair de cartaz e nós continuamos.”
SS // MAG
By Impala News / Lusa
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