Pixar explora nostalgia, inclusão e amizade com monstros do mar no novo filme “Luca”

O novo filme da Disney Pixar, “Luca”, explora a nostalgia das amizades adolescentes e a busca de pertença e inclusão numa aventura onde há lendas e monstros do mar, diz realizador Enrico Casarosa.

Pixar explora nostalgia, inclusão e amizade com monstros do mar no novo filme

O novo filme da Disney Pixar, “Luca“, explora a nostalgia das amizades adolescentes e a busca de pertença e inclusão numa aventura onde há lendas e monstros do mar, diz o realizador Enrico Casarosa. “Muitos de nós sentem-se excluídos, eu e o meu melhor amigo certamente sentíamo-nos assim”, afirmou o realizador, que se inspirou em verões da sua adolescência para criar o ambiente e os personagens do filme. A história segue Luca e Alberto, monstros do mar que ganham aparência humana quando saem da água e secam, um processo que foi inspirado nas lulas e polvos que mudam a cor da pele para se esconderem. Eles têm de manter a sua origem em segredo durante as aventuras entre os humanos, uma metáfora para o sentimento de exclusão que muitos adolescentes sentem – e para a vontade de vivenciar mundos diferentes.

“Espero que se torne uma metáfora para as formas como as pessoas se sentem deslocadas”

“Esse sentimento de sermos estranhos é importante, porque nas amizades não importa: podemos ser idiotas, esquisitos, demasiado intensos”, disse Casarosa à Lusa. “Falamos à curiosidade e à conexão que constrói pontes. Podes ser um monstro do mar e sentires-te envergonhado ou inseguro, mas os amigos são aqueles que não querem saber e te aceitam”. A curiosidade é a ponte que liga a aventura e o medo, num Luca bem comportado, mas sonhador, curioso. “Espero que se torne uma metáfora para as formas como as pessoas se sentem deslocadas”, disse Casarosa.

O aspeto de “Luca” é pictórico e diferente daquilo a que a Pixar habituou a audiência, contendo a vibração e textura dos ‘sketches’ de Casarosa, e introduzindo linguagens visuais novas que desafiaram a equipa de animadores. “Abraçámos o facto de ser uma história sobre crianças num mundo de crianças, com ideias estranhas, e isso deve ser mais brincalhão, deve ter o ponto de vista de uma criança”, descreveu Casarosa. “Encontrámos uma visão poética e expressionista deste mundo, em que menos é mais”.

Realizador quer que filme “toque as crianças que existem dentro dos adultos”

A ação situa-se num pitoresco porto italiano no início dos anos sessenta do século passado, e por isso a língua italiana está presente de uma forma integral, mesmo na versão original – em inglês – e em todas as versões dobradas. Essa característica permitiu-lhe brincar com os sotaques e ter um “sentido de humor um pouco bizarro”, descreveu Casarosa. “Em muitos filmes, toda a gente tem o mesmo sotaque. Percebemos que havia algo interessante em os monstros do mar serem separados dos humanos em termos da língua”, explicou o realizador. A humana Giulia, por exemplo, diz “Santa Mozarella”, Massimo diz aos comensais “Mangiamo” e o vilão Ercole chama aos ajudantes “idioti”. “A lógica do filme foi manter o sotaque neutro no mundo marinho e daí eles não perceberem bem a cultura dos humanos e acharem que ‘vê se tens cuidado, stupido’ é uma saudação”.

Enrico Casarosa, que trabalhou em filmes como “Up – Altamente” e “Os Incríveis 2”, e foi nomeado para os Óscares pela ‘curta’ de animação “La Luna”, em 2012, espera ter feito um filme que contém algo interessante para toda a gente. “Mas também sinto que é importante fazer filmes diferentes e não achar que todos os filmes têm de ter todas as características”, ressalvou. “A minha esperança é que seja mais acessível às crianças, mas que toque as crianças que existem dentro dos adultos”, afirmou o realizador, que “adora” filmes que o fazem sentir-se criança outra vez.

Não há um mundo onde toda a gente vai abraçar as suas diferenças, mas esperamos encontrar as pessoas boas”

“Fala um pouco ao lado mais nostálgico dos adultos e espero que se apaixonem pelo lado brincalhão, pela nostalgia destas amizades”, continuou. “Para os adultos é um olhar para o passado com amor, nostalgia e vontade de se divertirem”. Para as crianças, além da diversão, “é a apreciação das amizades e não ficarem presas nas inseguranças”. A inclusão e aceitação das diferenças é um tema transversal, subentendido na dualidade entre a vida secreta como monstros do mar e a vida em Portorosso, o vilarejo dos humanos. “Há uma linha que escrevemos com cuidado no meio da turbulência social que estava a acontecer nos Estados Unidos”, descreveu Casarosa.

“Quando a mãe diz que não pode deixar o Luca neste mundo, porque é demasiado perigoso, e a avó responde que algumas pessoas nunca o vão aceitar, mas ele sabe onde encontrar as pessoas que o aceitam”. A mensagem é válida para todas as idades e relevante no momento que vivemos. “Era importante para mim dizer que isto não será só céu azul”, disse Casarosa. “A amizade é a chave. Não há um mundo onde toda a gente vai abraçar as suas diferenças, mas esperamos encontrar as pessoas boas”. Com produção de Andrea Warren e música de Dan Romer, “Luca” estreia-se na plataforma de streaming Disney+ na sexta-feira, 18 de junho.

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