Pode a doença de Alzheimer de que sofre Ricardo Salgado ser revertida?

Duas pessoas diagnosticadas com Alzheimer, a doença de que sofre Ricardo Salgado, afirmam ter vencido a doença através de simples mudanças no estilo de vida.

Pode a doença de Alzheimer de que sofre Ricardo Salgado ser revertida?

Demência e Alzheimer são cada vez mais uma das principais causas de morte em Portugal e no Mundo. Embora novos medicamentos possam reduzir a progressão da doença, surgem mais evidências de que algo tão simples como ter um estilo de vida saudável pode “reverter” os sintomas da doença de Alzheimer, de que sofre Ricardo Salgado.

A doença de Alzheimer pode ser dividida em dois subgrupos, familiar e esporádica. Apenas 5% dos pacientes com Alzheimer são familiares, herdados, e 95% dos pacientes com Alzheimer são esporádicos, devido a fatores de risco ambientais, de estilo de vida e genéticos. Consequentemente, a tática mais eficaz para combater a doença de Alzheimer é a prevenção e um estilo de vida saudável. Isto levou os investigadores a estudar os fatores de risco associados ao Alzheimer.

Ao contrário do antigo bancário – cujo advogado que o representa nos tribunais defende que, por causa desta condição, o cliente não deve ser condenado – duas pessoas que sofrem de Alzheimer, Cici Zerbe e Simon Nicholls, afirmam ter vencido a doença mortal com mudanças simples no estilo de vida. A dupla detalhou a sua jornada na reportagem da CNN The Last Alzheimer’s Patient – O Último Paciente de Alzheimer, em Português.

Zerbe teve uma reversão dos sintomas depois de participar num ensaio clínico nos EUA. O ensaio explora os efeitos de mudanças intensivas no estilo de vida no comprometimento cognitivo leve ou na demência precoce devido à doença de Alzheimer. O estudo ainda não foi publicado.

As alterações no estilo de vida incluem a mudança para uma dieta baseada em vegetais, exercícios regulares, sessões de apoio em grupo, ioga e meditação. Zerbe disse que se sente “muito melhor” do que antes de participar no estudo, há cinco anos, depois de diagnosticada com a doença.

Melhorias notáveis nos sintomas de Alzheimer

Simon Nicholls, de 55 anos, é outro paciente com Alzheimer que surge na reportagem da CNN e que participou no ensaio. Nicholls é portador de duas cópias da variante genética ApoE4, que aumenta significativamente o risco de Alzheimer. No entanto, depois de adotar mudanças para um estilo de vida mais saudável, teve “melhorias notáveis” ​​nos seus sintomas.

Cerca de 25% da população é portadora de, pelo menos, uma cópia da variante do gene ApoE4 (a que os clínicos chamam “alelo”) e 5% porta duas cópias. Ser portador de um alelo ApoE4 está associado a um risco três a quatro vezes maior de desenvolver a doença de Alzheimer. Ter duas cópias aumenta o risco em até 12 vezes, tornando-o no maior fator de risco genético para a doença de Alzheimer.

As estatísticas amplificam a natureza notável e digna de nota do feito de Nicholls na reversão dos sintomas da doença de Alzheimer simplesmente através das suas escolhas de estilo de vida. Os seus biomarcadores para a doença de Alzheimer desapareceram em 14 meses, o que é consideravelmente mais eficaz do que a maioria dos tratamentos para a doença.

Nicholls destacou a atividade física e as mudanças na dieta como fundamentais para a sua jornada. No início, recebeu tirzepatida, um medicamento desenvolvido para suprimir o apetite, regulando os níveis de açúcar no sangue. Também incorporou exercícios regulares, incluindo treino de força três vezes por semana, caminhar 10 mil passos diariamente e correr ou andar de bicicleta todas as manhãs.

A doença cardiovascular é um importante fator de risco e potencial ‘preditor’ futuro da doença de Alzheimer. A ligação coração-cérebro é crucial para fornecer energia e oxigénio às células cerebrais através do fluxo sanguíneo cerebral. Assim, a má saúde do coração pode aumentar o risco de Alzheimer, uma vez que as células cerebrais recebem menos energia para funcionar. Isto explica por que a melhoria da saúde cardíaca e o aumento da atividade cardiovascular de Nicholls melhoraram os seus sintomas.

Também impôs mudanças na dieta – removendo açúcar, álcool e alimentos processados ​​– e abraçou a dieta mediterrânica, rica em antioxidantes, que protegem as células cerebrais contra danos e vários estudos sugerem igualmente que os nutrientes obtidos com a dieta ajudam a manter a memória e as habilidades cognitivas. Um extenso estudo recente realizado com 60 mil britânicos mostrou que aderir a uma dieta mediterrânica diminui o risco de demência em 23%.

Nicholls também tem implementado uma boa higiene do sono para tentar melhorar o seu padrão irregular de sono, já que alguns estudos mostram que a privação do sono está ligada à doença de Alzheimer.

A teoria dominante é a de que, durante o sono, as proteínas tóxicas, como a amiloide, podem ser eliminadas pelo sistema linfático. Caso contrário, acumular-se-iam e causariam demência. Porém, deve-se notar que um estudo recente em ratos questiona esta teoria.

Cientistas do Imperial College London descobriram entretanto que a eliminação de toxinas foi reduzida durante o sono, sugerindo que o sono pode reduzir o risco de demência através de outros mecanismos por enquanto desconhecidos.

Estas mudanças no estilo de vida tiveram efeitos significativos na vida de Nicholls. Em apenas nove semanas, perdeu quase 10kg e 80% da gordura corporal e reduziu os níveis de açúcar no sangue em jejum.

Alegadamente, Nicholls e Zerbe “reverteram” os sintomas da doença de Alzheimer. Isto ocorre porque condições como obesidade, hipertensão, doenças cardiovasculares, colesterol elevado e insónia são fatores de risco para demência e podem ser modificadas através de um estilo de vida saudável.

É contudo importante interpretar estes resultados com cautela. Trata-se apenas de resultados de duas pessoas no estudo. Sem as especificidades dos resultados reivindicados, trona-se difícil determinar se estas escolhas de estilo de vida “reverteram” realmente a progressão da doença.

O efeito do estilo de vida na cognição está a ganhar cada vez mais atenção, com mais cientistas a investigarem os seus benefícios. Combinar o advento de novos medicamentos modificadores da doença com mudanças rigorosas no estilo de vida pode reduzir significativamente os sintomas e a progressão da doença de Alzheimer.

The Conversation

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