Portugal pode ser pioneiro na utilização de cânhamo em vez de betão

O arquiteto Pedro Gadanho, autor do livro “Climax Change!: How Architecture Must Transform in the Age of Ecological Emergency”, defende “uma arquitetura mais local” e refere o potencial português na produção de cânhamo em alternativa ao betão.

Portugal pode ser pioneiro na utilização de cânhamo em vez de betão

Portugal pode ser pioneiro na utilização de cânhamo em vez de betão. “Portugal é um país que já teve uma cultura de cânhamo muito, muito forte, e que depois foi abandonada, por razões económicas. Hoje em dia, o cânhamo está a ser utilizado como alternativa ao betão. Portugal podia-se tornar pioneiro na utilização de cânhamo na produção de um material alternativo ao betão”, diz o arquiteto Pedro Gadanho, autor do livro “Climax Change!: How Architecture Must Transform in the Age of Ecological Emergency” – ainda sem tradução em português, é editado pela Actar e lançado este sábado, às 18:00, na livraria Circo de Ideias, no Porto.

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Para fazer face à emergência climática, o arquiteto sugere que a disciplina olhe para “a questão da economia circular, no facto de, também nas construções que são feitas, estar previsto o reaproveitamento dos materiais após a exaustão do seu uso no edifício, e isso são coisas que estão a ser investigadas, e fazem parte dessa tal inovação tecnológica que o livro também refere como um dos caminhos, não uma solução mágica, (…) mas uma das possibilidades que temos de encarar para responder à escala massiva dos problemas que vêm aí”.

Segundo o arquiteto, a pandemia de covid-19 e a guerra na Ucrânia vieram evidenciar a crise dos recursos: “é óbvio que estamos a esgotar os materiais todos com os quais estamos habituados a construir, ou estamos a usar materiais que contribuem para o ecocídio — o último crime reconhecido pelo Tribunal Penal Internacional”. “Mesmo após a pandemia, aqueles que advogam um regresso ao normal não se aperceberam de que havia aqui uma oportunidade, que a pandemia mostrou bem — até fomos capazes de parar o nosso crescimento económico — para rever como é que fazíamos uma transição justa”.

O autor reconhece que “a Europa de facto advoga” princípios como “uma transição energética, económica e a nível de recursos”, mas “às vezes não é implementado com a rapidez que era necessário”. “Daí a necessidade de todos poderem contribuir para a mudança”, considera, “e o campo da arquitetura, seguramente, pode ser um dos que tem um papel decisivo”. Para isso, é preciso recuperar “uma arquitetura mais local, que usa recursos locais”, que podem tornar-se economicamente viáveis através da “inovação tecnológica”.

O caminho é o “regresso à arquitetura orgânica, muito mais inspirada na natureza”, considera. “Hoje em dia, com as tecnologias digitais que temos disponíveis, é possível fazer imitações da natureza muito mais perfeitas e muito mais dinâmicas do que era possível no passado”.

Há já, relata, “arquitetos que estão a investigar as qualidades estruturais de plantas e a adaptar esses modelos através de inteligência artificial para criar novas estruturas mais resistentes e mais leves no campo da arquitetura”. Mas até que essas exceções se tornem norma, diz, “tem de haver uma mudança de mentalidades também nos arquitetos, para abraçarem esses caminhos, e não estarem à espera que [as inovações] façam o seu caminho lento”. “Tem de haver uma certa pressão para que haja essa mudança”, conclui.

Pedro Gadanho é professor convidado da Universidade da Beira Interior e lecionou também, entre 2000 e 2012, na Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto. Foi Loeb Fellow na Universidade de Harvard, entre julho de 2019 e junho de 2020, que o ajudou na preparação deste livro. No campo da cultura, foi curador de arquitetura contemporânea no Museum of Modern Art (MoMA), em Nova Iorque, entre 2012 e 2014, diretor do Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MAAT), em Lisboa, de 2015 a 2019, e dirigiu a candidatura da Guarda a Capital Europeia da Cultura em 2027, de 2020 a 2022.

 

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