Especial julgamento | Rosa Grilo assume amante e mantém tese dos angolanos
A primeira sessão de julgamento do homicídio do triatleta Luís Grilo, esta terça-feira de manhã, no Tribunal de Loures, foi marcada pelas declarações de Rosa Grilo que entrou várias vezes em contradição. Arguida reitera “as declarações iniciais no primeiro interrogatório”, assume relação extraconjugal e voltou a defender que o marido foi assassinado por um grupo de angolanos, devido a negócios com diamantes.
Rosa Grilo e António Joaquim chegaram na manhã desta terça-feira, 10 de setembro, a ser julgados no Tribunal de Loures pela morte de Luís Grilo, marido da suspeita. O julgamento no Tribunal de Loures conta com a presença de seis mulheres e um homem que vão decidir o futuro de Rosa Grilo e do amante. Visivelmente mais magra, Rosa Grilo e António Joaquim viram-se pela primeira vez desde a detenção mostravam estar serenos e não dirigiram a palavra, uma vez que estão proibidos de manter contacto.
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Ministério Público aperta com arguidos
O Ministério Público começa por dizer que pretende que “os dados que constam na acusação sejam provados”. Quer então a “descoberta da verdade material”. Tânia Reis, advogada de Rosa Grilo, disse também que a arguida iria prestar declarações e que a “sua versão era só uma”. Afirma ainda que a acusação é uma “compilação de factos em que não foi dado o benefício da dúvida”. “A versão de Rosa Grilo merece tanta credibilidade quanto a acusação” e, opor isso, a defesa da arguida pede a sua absolvição.
Já Ricardo Serrano Vieira, advogado de António Joaquim diz que “o processo tem apenas subjacente uma tese dada pela PJ.” refere que a acusação carece de investigação e que “tudo o resto está assente em considerações”.
Rosa reitera “todas as declarações iniciais no primeiro interrogatório”
Rosa Grilo foi a primeira a ser inquirida pela juíza. E a única da parte da manhã. A juíza pretendia apurar a versão da arguida sobre os angolanos que alegadamente mataram o marido. No início do julgamento, Rosa Grilo diz que reitera “todas as declarações iniciais no primeiro interrogatório”, confirma que tinha uma relação extraconjugal com António Joaquim mas que “não sabe se Luís Grilo sabia” e voltou a defender que Luís Grilo foi assassinado por um grupo de angolanos, devido a negócios com diamantes.
Processo apreciado por jurados
Mais de um ano após o desaparecimento do triatleta, a 16 de julho de 2018, Rosa Grilo e o ex-amante sentam-se no banco dos réus para responder pelos crimes de homicídio qualificado agravado, profanação de cadáver e detenção de arma proibida. Os arguidos encontram-se em prisão preventiva desde 29 de setembro do ano passado. O Ministério Público anunciou, em março, que o processo de Rosa Grilo e António Joaquim, acusados formalmente do homicídio do triatleta Luís Grilo, marido da arguida, não será apenas apreciado do ponto de vista jurídico, mas também à luz da experiência comum. O julgamento tem jurados que foram chamados ao Tribunal de Loures para ajudar os juízes a decidir se Rosa Grilo e António Joaquim são ou não inocentes.
Cronologia do crime
16 de julho de 2018 – Desaparecimento de Luís Grilo
Luís Grilo sai de casa pelas 16h30 para ir fazer um treino de hora e meia a duas horas. Depois seguiria para a piscina com o filho, Renato, de 13 anos. Partiu sem documentos. Levava apenas o relógio e o telemóvel dentro de uma bolsa de plástico no interior da roupa de treino, para proteger o aparelho do suor. Esta foi a versão apresentada por Rosa Grilo às autoridades. Sem notícias do marido, a mulher do triatleta deu conta do desaparecimento à GNR de Castanheira do Ribatejo neste mesmo dia.
18 de julho de 2018 – Telemóvel encontrado
Dois dias depois de Luís Grilo ter sido dado como desaparecido, o seu telemóvel é encontrado na berma da estrada, desligado, fora da bolsa de plástico, em Casais da Marmeleira de Cadafais, Alenquer, a seis quilómetros de casa. A forma como o aparelho foi encontrado mudou o rumo da investigação. As autoridades levantaram a suspeita de o desaparecimento estar associado a um crime.
24 de agosto de 2018 – Corpo de Luís Grilo aparece com sinais de grande violência
A 24 de agosto, pelas oito e meia da manhã, o corpo do triatleta é encontrado numa estrada sem saída, perto de Alcórrego, distrito de Portalegre, a 134 quilómetros de casa. Estava em avançado estado de decomposição, sem roupa e com um saco de plástico na cabeça. O alerta foi dado por um popular que fazia uma caminhada na zona e sentiu um cheiro a putrefação.
Tudo apontava para homicídio. O corpo tinha sinais de grande violência e, após várias perícias ao local, a PJ verifica que o crime não se consumou onde o corpo foi encontrado, porque havia sinais de ter sido arrastado. Dadas estas circunstâncias, a GNR passou o caso para a equipa de Homicídios da Polícia Judiciária. Dois dias depois, a autópsia confirma que o corpo é de Luís Grilo e que as marcas de violência presentes no cadáver foram provocadas por terceiros.
Luís Grilo é descrito por amigos e familiares como um homem com uma vida normal, sem problemas familiares, nem dificuldades financeiras que lhe trouxessem instabilidade. Não existiam motivos para um crime violento.
29 de setembro de 2018 – Rosa Grilo e o amante, António Joaquim, são detidos
Rosa Grilo é detida pela Polícia Judiciária de Lisboa, sob suspeita de ter matado o marido em conluio com o amante, António Joaquim, detentor da arma do crime. A PJ avança que tudo terá acontecido por motivos sentimentais e financeiros, pelo que foi premeditado pelos homicidas. Os dois amantes são acusados de crimes de homicídio qualificado, profanação de cadáver e detenção de arma proibida.
Apesar de ter dado o alerta do desaparecimento do marido a 16 de julho e de ter participado nas buscas, Rosa Grilo foi sempre considerada suspeita para os investigadores. A viúva era a única testemunha da alegada saída do marido para ir andar de bicicleta. O próprio treinador de Luís Grilo achou estranho este tipo de treino, uma vez que o triatleta não gostava de pedalar em estrada e tinha feito recentemente uma prova de triatlo na Alemanha, pelo que deveria estar a descansar. Durante os 39 dias em que Luís esteve desaparecido, Rosa Grilo nunca fechou a loja de informática do marido, onde trabalhava como administrativa, o que levantou mais suspeitas da PJ.
Rosa Grilo e António Joaquim planearam durante 7 semanas a morte do triatleta
O despacho de acusação do MP conta que, em 15 de julho de 2018, os dois arguidos, de 43 anos, após trocarem 22 mensagens escritas em três minutos, «combinando os últimos detalhes relativo ao plano por ambos delineado para tirar a vida de Luís Grilo», acordaram desligar os respetivos telemóveis. Numa hora não apurada, mas entre essa noite e a manhã do dia seguinte, «em execução do plano comum que já haviam acordado há, pelo menos, sete semanas», António Joaquim, na posse de uma arma de fogo municiada, dirigiu-se à casa onde residiam Luís Grilo e Rosa Grilo.
Após morte do triatleta, António Joaquim começou a frequentar a casa de Rosa Grilo
A acusação relata que o arguido entrou na residência «com o conhecimento» da arguida e que ambos se dirigiram ao quarto dos hóspedes, localizado no primeiro andar, onde se encontrava Luís Grilo a dormir. No dia após a morte do triatleta, António Joaquim começou a frequentar a casa de Rosa Grilo, «não obstante estarem em curso diligências tendentes à localização do paradeiro de Luís Grilo por familiares, amigos e autoridades policiais», segundo a acusação.
Rosa Grilo alega que marido terá sido morto por dois angolanos
Após ser detida, Rosa Grilo apresentou uma outra versão dos factos, que mantém até hoje: «não podia contar mais cedo porque estava a ser ameaçada». Diz ainda que o marido terá sido morto com dois tiros, à sua frente, por dois angolanos na cozinha. No entanto, não existem vestígios de sangue nesta zona da casa e, segundo a acusação, foi apenas com um.
Texto: Jéssica dos Santos; WiN
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