Sociedade de Pneumologia quer via verde para diagnóstico de cancro do pulmão
A Sociedade Portuguesa de Pneumologia alerta para a urgência de criar uma via verde de diagnóstico para as suspeitas de cancro do pulmão para acelerar exames e garantir que estes doentes tenham o tratamento adequado.
A Sociedade Portuguesa de Pneumologia alerta para a urgência de criar uma via verde de diagnóstico para as suspeitas de cancro do pulmão para acelerar exames e garantir que estes doentes tenham o tratamento adequado.
Em declarações à agência Lusa a propósito do Dia Mundial do Cancro do Pulmão, que se assinala no domingo, o presidente da Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), António Morais, sublinhou que na área da oncologia todo o tempo perdido conta e pode significar perder o doente para a cirurgia ou para um tratamento que lhe pode dar mais tempo de vida.
“O conceito de recuperação de consultas, no cancro do pulmão, não existe. Aquilo que temos de fazer é repor os serviços e dar-lhes condições para, quer a nível da medicina geral e familiar, nos cuidados de saúde primários, quer a nível hospitalar, com o diagnóstico, tudo seja o mais rápido possível”, afirmou o responsável.
“Podemos estar a perder o doente para as terapêuticas”
Nesta situação, disse, uma demora é absolutamente dramática. “Podemos estar a perder o doente para as terapêuticas que podem ou curar a doença ou pelo menos dar [ao doente] um tempo de vida maior”, acrescentou.
António Morais explica que, hoje em dia, a dificuldade do diagnóstico a nível hospitalar tem que ver com os tempos que são dados aos setores onde são feitos os exames.
“Estes doentes têm de fazer broncoscopia, têm que fazer muitas vezes eco-endoscopia, têm de fazer muitas vezes biópsias guiadas por TAC e, depois, têm o percurso normal da avaliação da biópsia para nos dar as informações todas de que precisamos para fazer um tratamento adequado. Hoje é muito mais demorado fazer um diagnóstico”, explicou.
Reconhece que as coisas estão a melhorar, depois dos bloqueios da pandemia, mas que ainda há dificuldades tanto nos serviços de cuidados primários como a nível hospitalar.
Diz que as consequências da pandemia foram evidentes logo que os doentes começaram a aparecer mais tarde e, por vezes, em estadios mais avançados da doença, colocando em risco a oportunidade de avançar com os tratamentos adequados, e que agora é preciso “correr mais depressa” no diagnóstico, sublinhando que a única forma de o fazer é criar uma ‘via verde’.
“Existem vias verdes de urgência, como a coronária”
“Existem vias verdes de urgência, como a coronária, (…) e aqui também é preciso uma via verde de forma que o doente em que haja uma suspeita de neoplasia demore o mínimo de tempo possível a fazer todos os exames que são necessários para chegar a um diagnóstico objetivamente correto”, defendeu.
Se não for assim, acrescentou, “vamos perder doentes quer para a cirurgia, quer mesmo para tratamentos que poderão estar associados a uma sobrevida mais longa”.
O especialista alerta ainda para o facto de o cancro do pulmão, a principal causa de morte por doença oncológica em Portugal, apenas dar sintomas já em fases muito tardias da doença e diz que as pessoas devem estar muito atentas e não desvalorizar sintomas, procurando ajuda médica sempre que necessário.
Sintomas como a dor torácica, tosse seca persistente, expetoração hemoptoica (secreções com sangue), dispneia (falta de ar), astenia (fraqueza) ou o emagrecimento devem fazer soar o alerta e levar a pessoa ao médico.
António Morais lembra também que o principal fator de risco é o tabagismo e sublinha: “a sensibilização e a luta antitabágica são medidas cruciais de intervenção de saúde pública, que devem envolver a desconstrução dos mitos associados a estas novas formas de consumo, apresentadas de forma errada com sendo menos prejudiciais para a saúde”.
O responsável adiantou ainda que a SPP está a preparar uma proposta para que passe a existir um programa de rastreio para o cancro do pulmão, que pretende apresentar em novembro, no congresso nacional.
“É muito complexo porque envolve não só a sustentação dessa possibilidade, porque é um programa do ponto de vista logístico muito exigente, e por outro lado tem que ter também todos os cálculos em termos de ganhos e de eficácia económica”, explicou.
No âmbito do Dia Mundial do Cancro do Pulmão, a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), a Associação Careca Power, a Liga Portuguesa Contra o Cancro, a Pulmonale e a Sociedade Portuguesa de Pneumologia (SPP), em parceria com a AstraZeneca, vão lançar a campanha “O cancro do pulmão não tira férias” (https://saudeflix.pt/cancronaotiraferias/) , com o intuito de alertar para os sinais e sintomas da doença, considerada uma das mais mortais no mundo inteiro.
O presidente da SPP concorda que a altura de férias, não só pela disponibilidade mental, mas também de tempo, é uma oportunidade para a adoção de melhores hábitos de vida, sublinhando que é igualmente “uma boa altura para o estabelecimento de planos de cessação tabágica, o maior fator de risco” para esta doença e responsável por cerca de 90% dos casos diagnosticados.
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