Teatro Nacional São João no Porto, inicia sábado ciclo dedicado a Gil Vicente

O Teatro Nacional São João (TNSJ), no Porto, inicia no sábado um ciclo dedicado a Gil Vicente (1465-1536), com várias iniciativas dedicadas à obra do mais importante dramaturgo português.

Teatro Nacional São João no Porto, inicia sábado ciclo dedicado a Gil Vicente

O Teatro Nacional São João (TNSJ), no Porto, inicia no sábado um ciclo dedicado a Gil Vicente (1465-1536), com várias iniciativas dedicadas à obra do mais importante dramaturgo português.

A homenagem a Gil Vicente, um “autor tão grande”, como classificou o diretor artístico do TNSJ, Nuno Carinhas, na apresentação da programação, em dezembro de 2017, enquadra a exibição da peça “Embarcação do Inferno”, uma conferência, uma sessão de leitura encenada e uma oficina de trabalho.

O ciclo arranca no sábado com um “atelier de leitura encenada” da chamada “trilogia das barcas” (“Auto da Barca do Inverno”, “Auto do Purgatório” e “Auto da Glória”), orientado pelo diretor artístico do TNSJ, Nuno Carinhas, e pelo encenador Nuno M. Cardoso.

A iniciativa, intitulada “Atelier 50”, é “uma ação de envolvimento da comunidade no universo teatral”, pode ler-se num texto de apresentação, e visa recordar a trilogia apresentada entre 1517 e 1519, na corte do rei D. Manuel I, como “o ponto culminante do teatro religioso ‘vicentino'” e como destaque da “alegoria sagrada do teatro europeu do século XVI”.

A atividade tem entrada gratuita, até à lotação de 50 pessoas, e decorre das 10:00 às 17:30, no Mosteiro de São Bento da Vitória, espaço sob a alçada do teatro nacional.

No dia 15 de janeiro, é a vez do Teatro Carlos Alberto acolher a conferência “Gil Vicente no seu tempo e no nosso tempo”, ministrada por José Augusto Cardoso Bernardes, professor catedrático da Universidade de Coimbra e especialista no dramaturgo, poeta e ourives.

Marcada para as 21:00 de dia 15, com entrada gratuita, o autor de “Sátira e Lirismo no Teatro de Gil Vicente” ou “Gil Vicente”, vai desdobrar-se sobre “a caleidoscópica obra daquele que é tido como o fundador do teatro português”.

A conferência precede a apresentação de cinco récitas de “Embarcação do Inferno”, uma coprodução da Escola da Noite, de Coimbra, e do CENDREV – Centro Dramático de Évora, que recupera um texto do precursor do teatro português, com encenação de António Augusto Barros e José Russo, no Teatro Carlos Alberto, de 17 a 21 de janeiro.

Estreada a 06 de outubro de 2016, no Teatro Garcia de Resende, em Évora, e com consultoria científica de Cardoso Bernardes, a peça é criada a partir “do mais estudado texto do ‘Livro das Obras'”, com cinco séculos de antiguidade.

Com cinco séculos de antiguidade, “Auto da Barca do Inferno” é a mais reconhecida obra do autor e “um ápex do teatro europeu do final da Idade Média”.

“Talvez no tempo em que vigoram conceitos como os de ‘pós-verdade’, os dilemas do Bem e do Mal dramatizados no início do século XVI nos pareçam obsoletos. Mas, entre risos, pragas, blasfémias, orações e lamentos, vislumbramos no teatro de Gil Vicente o que somos: talvez mesmo aquilo que estamos em vias de ser”, descreve o texto de apresentação da produção.

Com interpretação de Ana Meira, Igor Lebraud, Jorge Baião, José Russo, Maria João Robalo, Miguel Magalhães, Rosário Gonzaga e Rui Nuno, “Embarcação do Inferno” estará em cena até 21 de janeiro, com a última récita a ter tradução em língua gestual portuguesa.

Se Gil Vicente é um “enigma que não se desfaz, a despeito de todas as leituras que sobre a sua obra possam ser realizadas”, o São João dá espaço ao trabalho do ‘Trovador’ e convida ainda professores e outros curiosos da comunidade escolar para uma oficina dedicada a Gil Vicente, no dia 20, no TNSJ.

Durante todo o dia, a formação “tem como objetivo a partilha de algumas ferramentas de trabalho teatral que possam auxiliar os professores na sala de aula no ensino de teatro”.

Dramaturgo, poeta e ourives, Gil Vicente partilha com o espanhol Juan del Encina, também compositor, o papel de impulsionador da dramaturgia na Península Ibérica, sendo uma das principais figuras do seu tempo na dramaturgia europeia e na transição entre a Idade Média e o Renascimento.

Como ourives, é-lhe atribuída a Custódia de Belém, mandada lavrar por D. Manuel I e datada de 1506, que faz parte do acervo do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA).

No Teatro Nacional São João, a obra vicentina tem sido presença recorrente, e “Breve Sumário da História de Deus”, em 2009, foi a primeira peça encenada por Nuno Carinhas, enquando diretor artístico da instituição.

 

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