Ucrânia debaixo de bombardeamentos mortais e população aterrorizada em fuga
Corpos de civis abandonados nas ruas por entre prédios em esqueleto. A imagem descreve os ataques indiscriminados russos à Ucrânia. Biden acusa Putin de ser “criminoso de guerra” e Schwarzenegger pede-lhe que pare a guerra.
As forças armadas russas – em grande parte estacionadas fora das principais cidades da Ucrânia – passaram a bombardeá-las à distância, incluindo dezenas de ataques confirmados a instalações de saúde durante esta semana que, na quinta-feira, 17 de maço, entrou na quarta semana. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse no discurso noturno à nação que agradece ao presidente dos EUA, Joe Biden, pela ajuda militar adicional, mas não disse especificamente o que o novo pacote inclui porque não quer alertar a Rússia.
Os ministros das Relações Exteriores das principais economias do G7 disseram em comunicado conjunto que o presidente russo, Vladimir Putin, está a conduzir uma “guerra não provocada e vergonhosa”. Os ataques levaram mais de 3 milhões de pessoas a fugir da Ucrânia, estima a ONU, mas que mais do dobro estejam deslocados dentro do próprio país. O número de mortos permanece desconhecido, embora a Ucrânia tenha dito que milhares de civis perderam a vida.
Registados 43 ataques a hospitais e instalações de saúde da Ucrânia
A Organização Mundial da Saúde verificou 43 ataques a hospitais e instalações de saúde, com 12 pessoas mortas e 34 feridas, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, ao Conselho de Segurança das Nações Unidas num briefing virtual na quinta-feira. Na cidade sitiada de Mariupol, no sul, equipas de resgate continuam a busca por sobreviventes de um ataque aéreo russo a um teatro onde centenas de pessoas estavam abrigadas.
Com as comunicações interrompidas em toda a cidade e o movimento difícil por causa de bombardeamentos anteriores, houve relatos contraditórios sobre se alguém foi resgatado dos escombros. Vídeos e fotos fornecidos pelos militares ucranianos mostraram que o prédio havia sido reduzido a uma ruína sem teto, com algumas paredes externas desmoronadas. Petro Andrushchenko, do gabinete do presidente de câmara, afirmou que o prédio tinha um abrigo antiaéreo relativamente moderno, projetado para resistir a ataques aéreos.
Nos últimos dias, foram sendo reveladas imagens de corpos abandonados nas ruas por entre prédios em esqueleto. Os mortos apresentavam cicatrizes de estilhaços enquanto o fumo dos bombardeamentos continuava a avistar-se ao longe, acima do horizonte de Mariupol. “Estamos a tentar sobreviver de alguma forma”, disse uma habitante da cidade sitiada, que deu apenas o primeiro nome, Elena. “O meu filho está com fome. Não sei o lhe que dar de comer.” Durante um discurso em vídeo dirigido à Alemanha, Zelensky condenou a Rússia pela terrível situação em Mariupol. “Para eles, tudo são alvos.”
O governador da cidade de Chernihiv, no norte do país, afirma ter sofrido “perdas humanas e destruição colossais” em face da artilharia russa e dos ataques aéreos. Viacheslav Chaus relatou à TV ucraniana que a cada 24 horas chegam mais de 50 corpos às morgues da cidade. Um albergue foi bombardeado, matou mãe, pai e três filhos, incluindo gémeos de 3 anos, de acordo com as autoridades. No leste da Ucrânia, um complexo municipal de piscinas onde mulheres grávidas e com crianças se abrigavam também foi atingido na quarta-feira, de acordo com Pavlo Kyrylenko, chefe da administração regional de Donetsk, não havendo houve informação sobre o número de vítimas.
Um incêndio irrompeu num edifício de apartamentos na capital, Kiev, na quinta-feira, depois de ter sido atingido pelos fragmentos de um míssil russo, matando uma pessoa e ferindo pelo menos três, segundo os serviços de emergência. Os combates continuaram nos subúrbios de Kiev, privando milhares de aquecimento e água potável. O Ministério da Defesa do Reino Unido considerou que a invasão da Rússia “está em grande parte paralisada em todas as frentes”, devido à forte resistência ucraniana. Afirmou que as forças russas fizeram “progressos mínimos” em terra, no mar ou no ar nos últimos dias e estão a sofrer “pesadas perdas”. As forças ucranianas estão usar drones elementares, fabricados na Turquia, para realizar ataques letais aos invasores russos.
Os ataques em Mariupol estilhaçaram janelas de edifícios de habitação e elevaram o fumo dos bombardeamentos acima do horizonte. Viaturas, muitas com o símbolo “Z” da força de invasão russa, passaram por pilhas de caixas de munição e projéteis de artilharia num bairro controlado por separatistas apoiados pela Rússia.
Em Kharkiv, os médicos estão a lutar para tratar pacientes com covid-19 enquanto as bombas caem do lado de fora das unidades médicas. Várias vezes por dia, sirenes de ataques aéreos soam num hospital local, obrigando pacientes infetados – alguns ligados a ventiladores e a lutarem para respirar – em abrigos antiaéreos. “Os bombardeamentos ocorrem de manhã à noite”, disse o diretor do hospital, Pavel Nartov. “Pode acontecer a qualquer momento.”
Schwarzenegger pede a Putin para parar a guerra
O ícone do cinema Arnold Schwarzenegger dirigiu-se aos russos, num vídeo legendado em russo publicado nas redes sociais na quinta-feira, explicando-lhes que estão a ser enganados sobre a guerra na Ucrânia. Também acusou Putin de sacrificar a vida de soldados russos por ambições exclusivamente pessoais. O ator pediu aos russos que informassem os seus concidadãos sobre “a catástrofe humana que está a acontecer na Ucrânia”.
Schwarzenegger dirigiu-se depois diretamente a Putin, pedindo-lhe o fim da guerra. “Você começou esta guerra. Você está a liderar esta guerra. Você pode parar esta guerra.” Horas depois, Anton Gerashchenko, conselheiro do Ministério do Interior ucraniano divulgou informações sobre o curso da guerra e pediu aos ucranianos que partilhassem o vídeo de Schwarzenegger com amigos e familiares na Rússia. “Putin e os seus propagandistas chamam-nos fascistas ucranianos e nazis”, disse Gerashchenko. “Mas a sua propaganda cai por terra em mil pedaços quando pessoas super famosas em todo o mundo falam a uma só voz: ‘Não à guerra’.”
Joe Biden advertiu Xi Jinping para “consequências” de eventual ajuda da China à Rússia. O presidente chinês pediu entretanto ao homólogo norte-americano para trabalharem juntos pela paz. Biden planeia viajar para a Europa na próxima semana para conversar com líderes europeus sobre a invasão russa e participar numa cúpula extraordinária da NATO, em Bruxelas. A NATO tem reforçado o seu flanco leste com tropas e equipamentos para impedir a Rússia de invadir qualquer um dos membros.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse ainda que as autoridades norte-americanas estão a avaliar e a documentar eventuais crimes de guerra cometidos pela Rússia na Ucrânia. Antes, o presidente norte-americano tinha acusado Putin de ser um “criminoso de guerra”. Blinken reforçou a ideia de Biden, ao considerar também que o ataque intencional a civis é crime de guerra, pelo qual haverá “consequências enormes”.
Luís Martins
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