Já em Portugal, Daniel Raimundo: «Tenham fé em mim, eu não vou morrer»

Daniel Raimundo está de regresso a Portugal. «Estou muito feliz. É um sonho concretizado», confessa o português que pediu para morrer na terra natal.

Sentimento de desejo cumprido é o que sente, neste momento, Daniel Raimundo. O português, de 43 anos, emigrado na Bélgica desde julho do ano passado, a quem foi diagnosticado cancro terminal, regressou a Portugal, por volta das 12h desta segunda-feira, 29 de janeiro.

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Depois de, na quinta-feira, 24 de janeiro, ter feito um apelo nas redes sociais para que o ajudassem a regressar ao seu país, o português voltou para junto dos familiares e amigos, depois de um dia de viagem.

Visivelmente emocionado, Daniel Raimundo foi recebido com aplausos e todo o carinho da família e amigos que o aguardavam, ansiosos, no quartel dos Bombeiros Sul e Sueste, no Barreiro.

«Estou com mais força, estou no meu país» (Daniel Raimundo)

«Estou muito feliz. É um sonho concretizado. Eu não vou morrer desta. Tenham fé em mim, eu vou conseguir. Na Bélgica, estava a perder as esperanças, mas agora aqui, em Portugal, estou com mais força ainda. Estou no meu país», afirma.

À Impala, confessa que o próximo desejo a cumprir será encontrar-se com o pai e a avó, que não vê há cerca de seis meses, data em que emigrou. Na Bélgica, deixou a irmã «lavada em lágrimas». Eliana tem-no acompanhado em todo o processo e regressará a Portugal sexta-feira, 02 de fevereiro.

Quem também tem sido um apoio incondicional para Daniel, além da restante família, é a namorada, Sónia Isabel, que, em Portugal, geriu as redes sociais do namorado. Sónia confessa-nos sentir-se «acima de tudo feliz», mostrando-se disposta a apoiar Daniel «em tudo o que ele precisar».

«Tínhamos de fazer esta missão», afirma o Comandante dos Bombeiros

Acácio Coelho, Comandante dos Bombeiros Sul e Sueste, do Barreiro, mostra-se orgulhoso pela corporação e pelo trabalho feito. «Nunca pensámos que atingisse estas dimensões, mas tínhamos o meio disponível e a vontade do corpo ativo. Independentemente dos sacrifícios, tínhamos de fazer esta missão. Era uma situação humanitária», afirma.

No que diz respeito aos custos que a viagem de mais de 4 mil km exigiu, o Comandante Acácio Coelho explica que tanto o combustível como as portagens no estrangeiro ficaram a cargo dos familiares de Daniel. Em Portugal, as ambulâncias não pagam portagens.

Veja a chegada de Daniel Raimundo ao Barreiro AQUI.

Para Daniel, os Bombeiros voluntários de Sul e Sueste são os seus anjos da guarda e aqueles a quem, agora, chama também de família. Com a corporação que o acompanhou em toda a viagem de regresso a Portugal estava ainda Teresa Marques, enfermeira do serviço de urgência do Hospital do Barreiro.

«A situação é grave, efetivamente. Muito grave», explica a enfermeira do hospital do Barreiro

É a enfermeira, também amiga de Daniel Raimundo, que nos esclarece os procedimentos a seguir, a partir de agora. Neste momento, Daniel não tem ainda lugar no hospital do Barreiro, uma vez que «as camas estão sempre ocupadas e é sempre muito complicado garantir cama» num tão curto espaço de tempo. «Mas não era garantida uma cama nos cuidados paleativos.»

Neste momento, Daniel aguarda resposta do hospital, já que Teresa deu conhecimento ao médico de família do estado de saúde do português e já enviou todos os exames feitos durante a viagem para que as diligências necessárias possam ser feitas.

«A partir de agora, já cá estamos. Temos os documentos necessários e já fiz a primeira investida, que era falar com o médico de família», situa a enfermeira. «Agora, estou a aguardar que ele me diga alguma coisa. Se a situação se degradar, por qualquer motivo, e for necessário recorrer à urgência, terá de ser por aí a via de entrada. Esta é uma situação já conhecida, o Daniel já está diagnosticado, e portanto agora é esperar», conclui.

Viagem agravou edemas de Daniel

Repousar é essencialmente o que, segundo Teresa, Daniel deve fazer. «Repouso e descanso. Os membros inferiores estão inchados e é preciso cuidados gerais. Com esta grande viagem, os edemas estão mais acentuados, mas é manter a medicação e ir tentando que, realmente, a situação não se agrave. Só assim ele poderá usufruir um pouco do tempo que ainda tem com qualidade de vida», explica.

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Quanto aos dois meses de vida que foram dados a Daniel, a enfermeira fala da imprevisibilidade do tempo e do estado de saúde do seu paciente e amigo. «É sempre imprevisível. Poderá ser mais, poderá ser menos. A situação é grave, efetivamente. Muito grave. O prognóstico não é o melhor, mas aqui a ‘palavra-chave’ será qualidade de vida», afirma.

Texto: Marisa Simões; Fotos: Carlos Soares

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