DECO encontra substâncias fecais que «podem matar» em 80% da carne picada
Deco apela aos consumidores para que não comprem hambúrgueres já picados nos talhos, onde encontrou bactérias nocivas e aditivos alergénicos usados para fingir que a carne é fresca.
A Deco Proteste apela aos consumidores para que não comprem hambúrgueres já picados nos talhos, onde encontrou bactérias nocivas e aditivos alergénicos usados para fingir que a carne é fresca.
Num estudo publicado esta segunda-feira, a associação de defesa dos consumidores diz que identificou carne guardada a temperaturas demasiado altas, «milhões de bactérias por grama», entre as quais a Salmonella e outras de origem fecal, demasiada gordura e sulfitos usados ilegalmente como conservantes.
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«Desaconselhamos de todo a compra de carne previamente picada e de hambúrgueres frescos já preparados nos talhos», diz Lusa o técnico Nuno Lima Dias, que defende que o Governo deve proibir a venda deste formato.
Deco encontrou conservantes escondidos em 80 por cento das amostras de carne nos talhos da Grande Lisboa e do Grande Porto
Para o estudo, a Deco foi a 25 talhos de Lisboa e do Porto e pediu hambúrgueres de carne de vaca que não contivessem cereais ou vegetais, para que estivessem livres de sulfitos, mas mesmo assim encontrou este tipo de conservantes de forma «escondida e ilegal» em 80 por cento das amostras, por vezes em «quantidades enormes».
Os sulfitos podem provocar alergias, náuseas, dores de cabeça, problemas de pele, digestivos e respiratórios, alertou, acrescentando que a reação alérgica pode, embora em casos muito raros, ser potencialmente mortal.
Os talhos estão fora da lei também por armazenarem a carne a temperaturas «muito superiores ao que a lei permite», apontou, referindo que se recomenda que não excedam os dois graus centígrados, mas a média ronda os oito graus, chegando em alguns casos aos 14.
Foram encontradas Salmonella e E Coli, de origem fecal, que podem provocar infeções alimentares
Nuno Lima Dias afirma que «os consumidores estão desprotegidos» quando compram os hambúrgueres já picados, uma vez que não há maneira de detetar, olhando para a carne, se esta é de qualidade inferior, sobretudo quando se usam sulfitos, que evitam o escurecimento da carne.
Foram encontradas ainda bactérias como a Salmonella e E Coli, de origem fecal, que podem provocar infeções alimentares. A Deco defende que se deve escolher a peça de carne no talho e pedir para a picar na hora, ou comprar e picar em casa.
Como preparar a carne
Na preparação da carne, deve cozinhar-se bem o alimento e evitar que entre em contacto com outros que são consumidos crus. «Nada passou do razoável, a grande maioria dos estabelecimentos chumbou», diz Nuno Lima Dias.
Como é feita a análise à carne picada
Foram compradas 26 amostras de carne de bovino já picada, vendida a granel em talhos da Grande Lisboa, Grande Porto e Setúbal. No dia da compra, foram transportadas para o laboratório a uma temperatura inferior a 2ºC numa carrinha refrigerada.
Temperatura e microbiologia
Foi medida a temperatura da carne logo a seguir à compra com um termómetro calibrado. Verificou-se se era carne de bovino e se continha vestígios de outras espécies. A determinação da humidade, da proteína, do colagénio, da gordura e da cinza permitiu avaliar o interesse nutricional.
Para identificar práticas incorretas ou enganadoras, determinou-se o amido, os cloretos e os sulfitos. Realizaram-se análises microbiológicas: contagem de microrganismos a 30ºC, E. coli, Listéria monocytogenes, Estafilococos.
«Pode também ocorrer choque anafilático e a morte»
«O caso mais preocupante é a utilização ilegal e escondida de sulfitos, aditivos adicionados à carne para lhe conferir um aspeto fresco. As concentrações eram enormes, próprias de quem não sabe muito bem o que está a fazer.
«Os sulfitos mantêm-se na carne cozinhada. Podem provocar alergias com consequências graves para quem é sensível. Dores de cabeça, náuseas, problemas digestivos e cutâneos e crises de asma são alguns sintomas.
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«Em casos extremos, pode também ocorrer choque anafilático e a morte. A higiene e a conservação foram deploráveis. No total, 40% dos talhos vendiam carne com Listeria monocytogenes.
«No Grande Porto, 30% das amostras estavam contaminadas com Salmonella. São bactérias potencialmente patogénicas. É importante interditar a venda de carne já picada e alertar o consumidor para que não a compre. A melhor solução é picar em casa.»
[Nuno Lima Dias, técnico alimentar]
«Quem põe em risco a saúde dos consumidores tem de ser punido»
«Vamos pedir à Autoridade de Segurança Alimentar e Económica uma intervenção mais forte no terreno, que demonstre aos operadores económicos que o controlo está ser realizado.
«Também vamos solicitar uma componente mais pedagógica e formativa junto de associações comerciais e industriais para sensibilizar estes operadores a atualizarem a informação dos seus associados, para lhes darem mais documentos com checklists que possam ser implementados. Quanto aos grupos parlamentares, é importante refletir sobre a alteração da lei e criar sanções para quem continua a recorrer a estes produtos, como os sulfitos, para aparentar um grau de conservação acima do que os testes comprovam.»
[Bruno Santos, relações institucionais]
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