Descubra como é que os jornalistas escolhem as fotos gráficas da guerra da Ucrânia que publicam
A guerra da Ucrânia deu início à discussão sobre a dureza das imagens que têm sido publicadas em todo o mundo. Fique a saber como é feita a escolha.
Não há volta a dar. A guerra da Ucrânia está em todo o lado. Televisões, rádios, imprensa e sites estão repletos de notícias relacionadas com a invasão russa. Sendo que um dos destaques vai para as imagens fortes que chegam do palco de guerra. Algumas delas são consideradas demasiado gráficas e acabam por dar origem a diversas discussões. Deveriam ou não ter sido publicadas? E isto leva a outro debate. Afinal, como é que os jornalistas decidem se as fotos de guerra devem ou não ser publicadas?
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O tema é debatido num extenso artigo publicado pelo Washington Post. Que começa por destacar que fotos de mortos nunca são uma garantia de publicação. E que as redações têm sido bastante cautelosas em relação às mais diversas guerras. Tendo sempre em conta o peso jornalístico da fotografia em relação ao horror e aquilo que pode provocar nos leitores. Daqui, o debate salta para uma das fotos mais duras captadas na Ucrânia. Que é da autoria da fotógrafa Lynsey Addario e mostra uma família morta na estrada depois de um ataque russo a civis. E que esteve em destaque na primeira página do New York Times e no site do jornal.
“Era uma fotografia que o mundo precisava de ver para entender o que está a acontecer na Ucrânia”
“A imagem era tão excecionalmente gráfica que a conversa foi elevada a um alto nível [entre os editores] rapidamente”, explica Meaghan Looram, diretora de fotografia da publicação. “Mas o sentimento era universal. Esta era uma fotografia que o mundo precisava de ver para entender o que está a acontecer na Ucrânia”, acrescenta. É também explicado que escolher uma fotografia é sempre um desafio. E que nem sempre as escolhas são as mais acertadas.
A verdade é que não existem regras rígidas para fazer uma escolha. Aquela que separe uma foto publicável de uma que não deverá ser dada a conhecer ao público. Aquilo que costuma ser tido em conta é o julgamento profissional e experiência dos profissionais. O artigo recorda ainda o “teste da mesa do café da manhã”, que costumava ser feito. E que passava por imaginar se a imagem seria perturbadora para um leitor que abrisse o jornal durante o café da manhã. Só que, como salienta o Washington Post, tudo isto mudou. Até porque vivemos numa era em que os videojogos, entre outras recriações, exibem violência. Que acaba por retirar sensibilidade aos espetadores.
Em tempos era feito o teste do café da manhã
Esta nova era significa que tudo é publicável e que os filtros são cada vez menores? Não! Continuam a evitar-se fotos em que estejam expostos os rostos das vítimas. Ou com uma exagerada quantidade de sangue. E isto não tem em conta apenas quem lê as publicações, mas também a defesa dos familiares e amigos das vítimas. Curiosamente, aquela que está a ser vista como a foto da guerra da Ucrânia ultrapassou estes limites. Rostos estão visíveis e existe sangue no rosto e mãos do único sobrevivente.
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Mas desenganem-se aqueles que acreditam que esta é a imagem mais forte captada na Ucrânia. Marcus Yam, fotógrafo do Los Angeles Times, captou imagens de um soldado decapitado e de um coração sem corpo. Algo que acabou por não ser publicado. O tiroteio entre soldados russos e ucranianos foi notícia, mas sem estas imagens. “Às vezes as palavras são mais poderosas do que uma foto”, defende Calvin Hom, diretor executivo de fotografia do jornal.
Imagem marcante dos atentados do 11 de setembro
O Washington Post recorda ainda aquela que é uma das fotos mais marcantes dos atentados do 11 de setembro. Que aconteceram em 2001 e que tiveram como alvo o World Trade Center, nos Estados Unidos da América. A imagem em questão mostra um homem a cair de um dos edifícios. Na altura, aqueles que publicaram a fotografia foram acusados de insensibilidade. Só que os anos fizeram daquele que ficou conhecido como “Falling Man” um símbolo do fatídico dia. Sendo anualmente divulgada para assinalar a data.
O Washington Post falou ainda com David Ake, diretor de fotografia da Associated Press. Serviço que distribui qualquer coisa como três mil fotografias diariamente. “Tentamos ter em mente a dignidade [da vítima], mesmo na morte”, refere. Por fim, é destacado que nos dias que correm é possível, nos meios online, alertar os leitores para a dureza das imagens. Deixando que cada um escolha aquilo que quer ver.
Texto: Bruno Seruca
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