Dezenas no aeroporto na longa espera pelo desbloqueio da circulação em Maputo
No interior do Aeroporto Internacional de Maputo dezenas de pessoas sentadas e deitadas esperam que os ponteiros do relógio marquem 16:00, hora em que é autorizada a circulação de viaturas em dias de manifestações em Moçambique.
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“Não vamos conseguir sair daqui, vamos ter de ficar aqui até pelo menos as 16:00 [menos duas em Lisboa]”, explica à Lusa Arlete Pestana, 45 anos, à porta do Aeroporto Internacional de Maputo.
Em causa está o bloqueio de diversas vias de acesso em Maputo entre as 08:00 e as 16:00, no âmbito dos protestos convocados por Venâncio Mondlane, candidato presidencial que contesta os resultados das eleições de 09 de outubro.
No total, são quase oito horas que Arlete vai ter de aguentar sentada num dos bancos do aeroporto, ao lado de dezenas de outras pessoas.
“Eu estou aqui há mais de quatro horas e estou à espera de um voo que vai chegar as 15:00 (…). Espero chegar mais tarde à casa” depois de ser desbloqueada a circulação, explica à Lusa Ribeiro Mawatareque, que chegou antes das 08:00 e está à espera de um familiar.
No estacionamento, sentados à sombra, taxistas fazem contas à vida, com os olhos na saída do aeroporto, já que alguns passageiros que chegam durante o período da restrição de circulação de viaturas, por vezes, insistem em fazer uma viagem.
“Os preços do próprio aplicativo [de transporte] já são insustentáveis para nós os motoristas e agora temos ainda de pagar algum dinheiro nas barricadas vulgarmente chamadas de `portagens´. Mas é possível fazer uma viagem e nós até saímos daqui para levar os passageiros a diversos pontos da cidade de Maputo”, explica à Lusa Frederico Tembe, um motorista.
Uma das “portagens” que Frederico e os seus colegas têm de enfrentar está a pouco mais 300 metros do aeroporto, onde um grupo de jovens já joga futebol, sob um sol escaldante.
Wilton Justino, 26 anos, está neste grupo e explica que ali ninguém está a cobrar dinheiro.
“Nós estamos a aproveitar a estrada para jogar futebol e socializar. Em meios a isto, há alguns aproveitadores que fazem as cobranças e acabam manchando todos nós (…). Os protestos fazem sentido. O que acontece é que existem aproveitadores que usam a causa para vandalizar e criar tumultos que não têm nada a ver”, declarou Wilton Justino.
Como Wilton Justino, Dorian Matável, outro jovem do grupo, também considera que as manifestações são “justas”.
“Todos nós concordamos e por isso o país está parado. Todo mundo está a sentir os efeitos da má governação (…). Até os que estão a colocar barricadas, em algum momento, isso é resultado do tal sofrimento”, acrescentou Dorian Matável.
Pelo menos 12 pessoas morreram e outras 34 foram baleadas na nova fase de manifestações e paralisações de contestação aos resultados eleitorais iniciada na quarta-feira, indicou hoje a Organização Não-Governamental (ONG) Plataforma Eleitoral Decide.
Estes casos somam-se a outros 76 mortos e 240 baleamentos em 41 dias de manifestações de contestação dos resultados eleitorais, de 21 de outubro a 01 de dezembro, segundo o relatório anterior daquela plataforma de monitorização eleitoral, que estimou ainda “mais de 3.000 detenções”.
O anúncio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE) de Moçambique, em 24 de outubro, dos resultados das eleições de 09 de outubro, em que atribuiu a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição a Presidente da República, com 70,67% dos votos, espoletou protestos populares, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane e que têm degenerado em confrontos violentos com a polícia.
EAC // JMC
By Impala News / Lusa
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