Bancas de serviços financeiros por telemóvel são alternativa ao desemprego em Maputo
Na azáfama do coração da capital moçambicana não se medem esforços para fugir ao desemprego e, entre a juventude, a opção agora são as pequenas bancas improvisadas de agentes que vendem serviços financeiros por telemóvel.
“Eu estou neste trabalho há três anos e faço-o normalmente, tendo em conta que os jovens atualmente para ganhar o pão devem andar atrás das oportunidades”, conta à Lusa Jorge Pinto, a poucos metros da sua banca instalada entre as avenidas Eduardo Mondlane e Karl Marx, no centro de Maputo.
Os dados do último censo populacional (2017) do Instituto Nacional de Estatísticas indicam que, no universo de 32 milhões de moçambicanos, cerca de 9,4 milhões são jovens, um terço dos quais sem emprego, escolaridade ou formação profissional.
Por muitos anos, Jorge Pinto fez parte destas estatísticas, mas em 2021 decidiu abandonar a província onde nasceu (Zambézia) para se tornar agente de serviços financeiros por telemóvel na capital.
“Nasci num país onde as coisas são um pouco complicadas, mas eu consigo sustentar-me a partir deste trabalho. Consigo mandar algum valor, pelo menos mil meticais [14 euros] por semana, para a minha família na Zambézia”, acrescenta Jorge Pinto, que, além dos serviços financeiros, vende rebuçados e bolachas na sua banca improvisada.
Como tantos outros jovens que abraçaram este negócio, Jorge, 25 anos, sobrevive das comissões retiradas em cada transação solicitada por um cliente, que varia em função do montante depositado ou transferido a partir das três instituições de moeda eletrónica pertencentes às três operadoras de telecomunicações móveis em Moçambique.
“Este negócio facilita as nossas vidas. Pelo menos evitamos arrombar as casas dos outros para roubar”, declara José Sebastião, outro jovem agente de serviços financeiros por telemóvel, enquanto atende um cliente na sua banca improvisada no meio da azáfama de Maputo, entre as avenidas 24 de Julho e Filipe Samuel Magaia.
Tal como Jorge Pinto, José Sebastião, 29 anos, é oriundo da província da Zambézia, no centro de Moçambique, e, em busca de oportunidades, está também há quase três anos no negócio.
“Dá para sustentar a família”, frisa José Sebastião, notando o número crescente de pessoas que procuram, no país, serviços financeiros por telemóvel.
Segundo dados do Banco de Moçambique, o país contava, em 2021, com 11.412.194 contas de Instituições de Moeda Eletrónica (IME) e, no ano seguinte, 11.975.063. Em 2023, esse número disparou para 16.607.021, só até outubro, enquanto os bancos contam com quase 5,5 milhões de contas.
“Muitas pessoas, principalmente no meio rural, não têm acesso aos bancos e, por isso, recorrem a estes serviços. Por exemplo, eu estudei em Magude [na província de Maputo] e lá as pessoas, na sua maioria, não têm contas bancárias. Eles usam estes serviços”, explica à Lusa Edilton Xavier, um cliente de José Sebastião.
Mas o aumento do número de pessoas que procura por estes serviços leva consigo novos desafios para os jovens que abraçaram o negócio, com destaque para as burlas, com estratégias cada vez mais sofisticadas, e até assaltos aos agentes, que por vezes são obrigados a andar com dinheiro vivo de depósitos efetuados por clientes.
“Há sim muita burla e cada um de nós é obrigado a estar atento. É preciso verificar o nome e o número da pessoa com atenção durante a transferência. Não só, há pessoas que conseguem os nossos contactos e ligam a pedir que façamos transferências, com intenção de nos burlar”, lamenta Moisés Mateus, outro agente cuja banca está instalada na Karl Marx.
Moisés Mateus também preferiu diversificar o negócio e, além de serviços financeiros por telemóvel, engraxa sapatos.
“Eu estou evoluindo com calma, assim sigo a estrada. Não vou parar”, conclui o jovem agente.
De acordo com um relatório estatístico do banco central, com dados de janeiro a outubro, as IME somaram neste período 401.178.582 transferências – 338,5 milhões de operações em todo o ano de 2022 e 324,1 milhões em 2021 -, movimentando mais de 340,2 mil milhões de meticais (4.860 milhões de euros).
Moçambique conta atualmente com três Instituições de Moeda Eletrónica, das três operadoras de telecomunicações móveis, que assim prestam serviços financeiros via telemóvel, incluindo transferências de dinheiro entre clientes ou pagamento de serviços.
A Carteira Móvel mKesh, da operadora estatal Tmcel, foi a primeira criada em Moçambique, em 2012, seguindo-se o M-Pesa, da Vodacom, em 2013, e, no ano seguinte, o e-Mola, da Movitel.
Trata-se de uma solução que permite facilitar e massificar o acesso da população a serviços financeiros, apenas recorrendo ao telemóvel.
Na proposta orçamental para 2024, o Governo moçambicano prevê continuar as reformas de política fiscal para “incrementar o nível de arrecadação de receitas”, avançando nomeadamente com a “tributação das comissões dos agentes e instituições de moeda eletrónica”.
*** Estêvão Chavisso (texto e vídeo) e Luísa Nhantumbo (fotos), da agência Lusa ***
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By Impala News / Lusa
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