Crónica de Mariana Mortágua no JN acaba por causa de “remodelação”
A deputada bloquista Mariana Mortágua acusa o presidente da Global Media do fim da sua crónica no Jornal de Notícias (JN), mas a direção esclarece que a sua saída decorre de uma “profunda remodelação” da opinião.
Na sua última crónica hoje publicada no JN, Mariana Mortágua escreve um artigo com o título “Como Marco Galinha acabou com esta crónica”, em que refere lhe foi comunicado pelo jornal, “na semana passada”, de que este “deixará de ter titulares de cargos públicos como colunistas regulares”. Ao longo do texto, Mariana Mortágua refere que a administração da Global Media Group (GMG) – grupo dono do JN – “tentou colocar entraves” à sua participação no jornal, salientando que o processo “tem agora o seu desfecho com a anunciada exclusão de todos os políticos no ativo que mantinham participação regular” no jornal. “O JN, com século e meio de história, é uma presa demasiado grande para dinheiro tão fraco. O que Marco Galinha não poderá tirar-me é o gosto, que devo ao 25 de Abril, de ser insuportável para figuras como ele”, remata a deputada.
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Numa nota, a direção do JN sublinha que, “no que concerne à sua saída destas páginas, Mariana Mortágua lavra sobre um equívoco”, explicando que “a profunda remodelação da opinião, por ocasião do 134.º aniversário do Jornal de Notícias, que inclui um conjunto de iniciativas em maio e junho, irá abranger uma dezena de cronistas regulares”. Dessas mudanças, “daremos mais detalhes no arranque dos novos espaços, a partir de 1 de maio”, acrescenta a direção.
Por sua vez, Marco Galinha, presidente executivo da GMG, escreveu sobre o tema nas redes sociais. “A direção do JN tomou uma decisão de reformular os quadros de colaborações do jornal e que afetou, entre outros casos, a deputada Mariana Mortágua”, escreve o presidente do grupo Bel no LinkedIn. “Soube-o pela sua ‘coluna’ em que, lavrando em erro, desata num rol de imputações e insinuações sobre a minha pessoa, destilando inverdades. Haverá local próprio para as discutir”, remata o empresário. Em 25 de maio do ano passado, na comissão parlamentar de Cultura e Comunicação, no âmbito de um requerimento apresentado pelo Bloco de Esquerda (BE), Marco Galinha tinha referido o fim do pagamento a Pessoas Expostas Politicamente [PEP], ou seja, deputados.
Em 1 de junho, a administração da GMG, que além do JN detém o Diário de Notícias (DN) e TSF, entre outros, determinou o fim do pagamento a políticos por textos que escrevem em qualquer das marcas do grupo. “O que foi pedido é que qualquer político que escreva para uma das marcas ou um dos meios da Global Media não seja pago por isso”, explicou, na altura, a diretora de comunicação à Lusa. “Qualquer político pode livremente e em nome do pluralismo escrever no jornal que entender para o qual foi convidado, desde que não receba por isso”, sublinhou, referindo tratar-se de uma “prática internacional”. Entretanto, deu entrada na Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), em 24 de agosto, uma exposição do Conselho de Redação (CR) do JN sobre a atuação da GMG, entre os quais a “alegada interferência na área editorial – exclusão de colaboradores de opinião”.
De acordo com a deliberação, datada de 02 de fevereiro último, “tendo apreciado uma exposição” do CR do JN, o Conselho Regulador delibera “considerar que à administração da Global Notícias não cabe, por se tratar de matérias de natureza editorial, estabelecer condições visando um ou outro setor específico da sociedade para preenchimento dos espaços de opinião o que, fora do quadro orçamental aprovado para o setor informativo, constitui uma atuação suscetível de configurar mais do que um ato de gestão, o que pode comprometer o espaço de liberdade e autonomia das direções dos órgãos de comunicação social na escolha dos seus colaboradores”.
O CR tinha solicitado que a ERC se pronunciasse sobre a “interferência da administração” na “orientação do Jornal de Notícias através da proibição do pagamento de colaborações a colunistas ‘politicamente expostos'”. Sobre este tema, o Conselho de Administração da Global Notícias, através do seu presidente, respondeu à ERC, em 29 de setembro, que a “decisão – geral e abstrata – de não remunerar ex nunc políticos no ativo e pessoas com intervenção partidária ativa resulta de uma política de ‘compliance'” e do “exercício de uma ética de responsabilidade de que a administração não se pode alhear”. A nova administração encontrou o grupo “numa situação altamente deficitária do ponto de vista financeiro”, na qual “foi confrontada com a necessidade de adotar medidas de gestão que protegessem os seus órgãos de comunicação social de consequências que poderiam advir da incapacidade de cumprimento das obrigações assumidas”, é referido.
Ora, num momento em que JN “se encontrava numa situação de manifesto incumprimento do seu orçamento, o racional económico acabou por confluir com o suporte dos princípios de transparência e integridade que são apanágio do grupo na determinação de terminar com efeitos ex nunc os pagamentos a políticos no ativo”, justificou. “A liberdade de escolha das colaborações, em todas as suas dimensões com substrato editorial, mantém-se intocada dentro do círculo delimitado por critérios de possibilidade impostos pela realidade. Que não haja a menor dúvida sobre isso”, adiantou a administração. Marco Galinha assumiu o cargo de presidente do Conselho de Administração da Global Media em 17 de fevereiro de 2021 e de presidente da Comissão Executiva em 06 de abril do mesmo ano.
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