Manuel Godinho julgado por alegadamente desviar 56 mil euros
Manuel Godinho, principal arguido do processo Face Oculta, está a ser julgado em Santa Maria da Feirapor, em 2017, por ter alegadamente desviado 56 mil euros de uma empresa da qual era gerente.
Manuel Godinho, principal arguido do processo Face Oculta, está a ser julgado em Santa Maria da Feirapor, em 2017, por ter alegadamente desviado 56 mil euros de uma empresa da qual era gerente, para evitar a cobrança de dividas fiscais. A primeira sessão do julgamento teve lugar na passada quinta-feira, mas tal como tem acontecido noutros processos onde é arguido, Manuel Godinho não compareceu à audiência, tendo sido representado por uma advogada oficiosa. Além de Manuel Godinho, o processo tem como arguidos a namorada de um dos filhos do sucateiro e uma advogada, por terem disponibilizado contas bancárias para fazer circular o dinheiro.
Segundo a acusação do Ministério Público (MP), consultada pela Lusa, a quantia em causa resultou do reembolso de impostos pagos pela empresa de comércio de sucatas e que tinham sido impugnados judicialmente, com o Tribunal Administrativo e Fiscal de Aveiro a decidir pela anulação da liquidação.
De acordo com a investigação, Manuel Godinho solicitou, em 10 de janeiro de 2017, a transferência daquele montante para uma conta bancária de uma sociedade gerida pela namorada do seu filho, que tinha sido aberta uns dias antes.
No entanto, esta operação não veio a realizar-se porque o sucateiro decidiu alterar o destino da transferência para uma conta co-titulada por uma advogada.
A acusação refere que o arguido não apresentou qualquer justificação económica para esta operação, que apenas terá servido para o mesmo se apropriar dos 56 mil euros.
O MP ordenou, entretanto, a suspensão de todos os movimentos a débito nesta conta.
Manuel Godinho e a mulher, que foram declarados insolventes em 2016, têm dívidas às Finanças no valor de 51,2 milhões de euros, enquanto a sociedade, que está inativa, deve 5.306 euros.
Manuel Godinho e a advogada estão acusados de um crime de falsificação de documento, um crime de frustração de créditos, um crime de abuso de confiança agravado e outro de branqueamento. O sucateiro responde ainda, em co-autoria com a namorada do filho, por um crime de abuso de confiança agravado e um crime de branqueamento, ambos na forma tentada.
O MP requereu a perda a favor do Estado dos 56 mil euros. A leitura do acórdão está marcada para o dia 27 de junho.
Este é o quarto processo em que Manuel Godinho é julgado na sequência do Face Oculta. No processo principal, o sucateiro foi condenado em 2014, no Tribunal de Aveiro, a 17 anos e meio de prisão.
O empresário das sucatas recorreu para a Relação do Porto, que reduziu a pena para 15 anos e dez meses, e voltou a recorrer, desta feita para o Supremo Tribunal de Justiça, que diminuiu a pena para os 13 anos de prisão.
O acórdão condenatório já transitou em julgado, mas o arguido continua em liberdade, porque foram declarados prescritos vários crimes que lhe tinham sido imputados, aguardando a marcação de uma nova audiência de julgamento para determinação de um novo cúmulo jurídico.
Além deste caso, o sucateiro foi condenado por crimes de corrupção ativa em dois processos que resultaram de certidões extraídas do caso Face Oculta e que já transitaram em julgado, tendo sido fixado um cúmulo jurídico de três anos de prisão efetiva.
No início deste mês, Godinho iria começar a ser julgado no Tribunal de Aveiro por uma alegada fraude fiscal que terá lesado o Estado em cerca de 330 mil euros, mas o coletivo de juízes deu sem efeito o julgamento, determinando o reenvio dos autos ao juiz de instrução para a repetição do debate instrutório.
O processo Face Oculta, que começou a ser julgado em 2011, está relacionado com uma alegada rede de corrupção que teria como objetivo o favorecimento do grupo empresarial do sucateiro Manuel Godinho nos negócios com empresas do setor do Estado e privadas.
Além de Manuel Godinho, foram arguidos no processo o ex-ministro Armando Vara, o ex-presidente da REN (Redes Energéticas Nacionais) José Penedos e o seu filho Paulo Penedos.
Na primeira instância, dos 36 arguidos, 34 pessoas singulares e duas empresas, 11 foram condenados a penas de prisão efetiva, entre os quatro anos e os 17 anos e meio.
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