Sem porto para mercadorias, população da ilha do Maio em Cabo Verde sem recursos
A suspensão do transporte de mercadorias na ilha cabo-verdiana do Maio, devido ao assoreamento do cais, está a cortar os rendimentos de residentes e a semear incerteza, segundo relatos ouvidos pela Lusa.
Quem produz não consegue escoar para fora da ilha, e viver ali fica mais caro.
Gregório Monteiro, ex-presidente da associação para o Desenvolvimento do Maio, referiu que alguns produtos já estão a faltar nas lojas e que vários comerciantes estão a subir os preços.
“O Governo deve intervir, porque a população está a sofrer. Eles têm de assumir as suas responsabilidades, porque um saco vazio não fica de pé”, ilustrou.
“Fui comprar ovos a uma loja e não encontrei. Tive que ir a outro lado e estava mais cara. A diferença é grande: antes eram 550 escudos (cerca de cinco euros) e agora são 750 ou 900 escudos (entre seis a oito euros)”.
Agostinho Silva, dirigente da associação local Pró-Morro, relatou falta de verduras e outros produtos frescos, uma situação que não é novidade na ilha árida de 6.000 pessoas, 50 quilómetros a leste da capital, Praia (Ilha de Santiago).
Periodicamente, semanas de mar bravo são suficientes para deixar na incerteza o abastecimento de produtos essenciais, feito pelo serviço público de transportes marítimos, concessionado à CV Interilhas.
Desta vez, o porto ficou interdito a mercadorias devido à areia que o mar revolto arrastou para a zona do cais, há cerca de duas semanas.
A CV Interilhas, empresa que opera no serviço de transporte interno marítimo de passageiros e cargas, chamou outro navio e fez na segunda-feira um transporte extraordinário entre a capital, Praia, e o Maio, para despachar mercadorias em espera.
Mas avisou que não está a aceitar mais carga, porque não sabe quando haverá profundidade para o catamarã Kriola voltar a aceder à rampa de descargas da ilha.
Agostinho Silva classificou o assoreamento como resultado de um projeto defeituoso para o qual várias vozes alertaram.
“Na segunda-feira houve verduras que chegaram já estragadas. E não se sabe quando é que isto entrará na normalidade”, com transportes que sigam uma programação.
Gregório Monteiro diz que, “nas lojas, percebe-se que os produtos estão a faltar e os empresários não têm certeza de como os trazer. Falei com quatro que estão com falta de ‘stock’. Isto é grave”, criticou.
“A vida tem ficado mais difícil: vida cara e um salário baixo”, acrescentou.
Sem escoar para a capital ou outros destinos, “os pescadores estão a vender peixe abaixo do preço habitual, indo de casa em casa, a pedir para lhes comprar. Um [pescador] estava aqui com um carrinho de mãos cheio de peixes à procura de compradores”, descreveu Manuel Martins, presidente da Associação de Pescadores do Maio.
“Esta situação está a prejudicar a minha vida. Estou há 15 dias em casa. A minha profissão é pescar, mas não vale a pena trazer [peixe] para se estragar” e ganhar dinheiro para o combustível do barco.
Valita Mensa, comerciante da ilha, disse à agência cabo-verdiana Inforpress que o assoreamento veio agravar o escoamento de mercadorias que já era difícil: desde o inicio de maio que está a tentar enviar uma encomenda de pescado para a Europa, mas em vão.
Comerciantes dos diversos ramos estão a acumular prejuízos, mas estão com medo de expressar “as suas dores”, por receios de “represálias politicas”, referiu.
A Lusa tentou obter esclarecimentos junto da empresa de Portos de Cabo Verde (Enapor) sobre uma operação de desassoreamento anunciada no dia 24 de maio, mas ainda não obteve respostas.
ROZS/LFO // ANP
By Impala News / Lusa
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