Trappel defende que “quanto mais incerto o mundo fica, mais importante o jornalismo se torna
O professor da Universidade de Salzburgo Josef Trappel considera, em entrevista à Lusa, que quanto mais incerto o mundo fica, mais importante o jornalismo se torna, incluindo no combate à desinformação feita pelo populismo que está em crescendo.
Josef Trappel, que foi orador principal da conferência da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), que decorreu na terça-feira em Lisboa, é professor de política e economia dos media no Departamento de Estudos de Comunicação da Universidade de Salzburgo, Áustria.
Questionado como vê o jornalismo no futuro, com uma mudança na liderança dos EUA, aumento do populismo e os conflitos que perduram, o académico manifesta-se “otimista” porque acredita que “os cidadãos precisam de informação e de orientação em tempos de incerteza”.
E “fomos abençoados por incertezas: Não sabemos o que vai acontecer com Donald Trump na América, não sabemos o que vai acontecer com a guerra da Ucrânia na Europa, não sabemos o que a Rússia vai fazer a seguir, nem como o conflito do Médio Oriente vai afetar a Europa Ocidental”, prossegue.
Em suma, “há uma série de incertezas e é em tempos como esses que as pessoas tendem a voltar ao jornalismo sério”, porque “já não estão satisfeitas com qualquer tipo de notícia pequena que chega aqui e ali, não comprovada, sem saber se é verdade ou não”, argumenta.
Ou seja, regressam “à fonte onde confiam nas notícias e na informação” e essas fontes são “os meios de comunicação”, não apenas o serviço público de media, mas também jornais e todo o tipo de media profissionais, diz o académico.
“Portanto, quanto mais incerto o mundo fica, mais importante se torna o jornalismo”, reforça Josef Trappel.
Nesse sentido, “sou pessimista no que respeita às incertezas, mas sou otimista de que isso é bom para o jornalismo”, enfatiza.
Quanto ao que o mais preocupa, Josef Trappel refere que é mais uma preocupação política do que de media.
“Acredito que os media estarão bem e Trump é um trunfo (…) porque agora têm algo sobre o que reportar. Esta é uma boa notícia. Isso é bom todos os dias”, mas “estou mais preocupado com a possibilidade de os movimentos populistas assumirem o poder em cada vez mais países”, admite.
Até porque “eu próprio venho da Áustria, onde os populistas de direita são o maior partido a sair das últimas eleições” e o mesmo se pode observar “em algumas partes da Alemanha”, França “e até em Portugal”, onde há 50 deputados de um partido de direita de um total de 230.
O populismo “usa a desinformação como ferramenta para ganhar atenção e atração e é aqui que entra, novamente, o jornalismo”, aponta.
O jornalismo “pode ser um exemplo importante no combate à desinformação. Portanto, o jornalismo é o principal agente na competição ou na luta contra o populismo de direita”, por isso “tem um papel enorme e importante a desempenhar no futuro”, conclui.
Trappel é diretor do Departamento de Estudos de Comunicação da Universidade de Salzburgo e do programa de Mestrado conjunto Erasmus Mundus Comunicação Digital e Liderança.
Estudou Comunicação e Ciência Política nas universidades de Salzburgo e Zurique e o trabalho científico e de investigação que conduz centra-se na relação entre os media, as plataformas digitais e a democracia; nas alterações às estruturas dos meios de comunicação social e as suas implicações na comunicação e na política e economia em matéria de comunicação social a nível nacional e internacional.
Juntamente com Werner A. Meier, Trappel é presidente do Grupo de Investigação Euromedia.
*** Alexandra Luís, da agência Lusa ***
ALU // CSJ
By Impala News / Lusa
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