Empresários moçambicanos alertam que falta de divisas ameaça companhias aéreas
A Confederação das Associações Económicas (CTA) de Moçambique alertou hoje que a falta de divisas no mercado está a levar companhias aéreas a limitar a atividade no país, pedindo medidas urgentes.
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“As companhias aéreas começam a cortar o mercado moçambicano por não conseguirem expatriar os seus capitais e fazer face aos custos envolvidos na sua operação, o que é natural. A partir do momento em que um negócio se torna insustentável, qualquer gestor minimamente preparado tem de tomar ações”, disse hoje, em conferência de imprensa, Muhammad Abdullah, responsável pelo pelouro do Turismo na CTA.
Sem acesso a divisas no mercado cambial, apontou ainda, as companhias aéreas começam a tomar medidas, que numa primeira fase passam por disponibilizar tarifas em meticais (moeda moçambicana) “mais caras” do que em moeda estrangeira, avançando depois com a diminuição das frequências e com o corte das vendas no mercado moçambicano.
Apontou como exemplo a Ethiopian Airlines, que mantém a operação para Moçambique, mas que, disse, “bloqueou” as vendas no país, que apenas podem ser feitas a partir do exterior, em moeda estrangeira.
“Para a potencialidade e os recursos que o país tem, isto é preocupante”, admitiu Abdullah.
De acordo com um levantamento feito na última semana pela CTA – apresentado hoje e que surge após o banco central ter negado a falta de divisas no mercado -, pelo menos 66 empresas sinalizaram ter pagamentos diversos solicitados pelo estrangeiro, para os quais necessitam de divisas, sendo que destes 41% são do setor industrial, 25% da aviação e 21% do comércio geral, representando, só estes, solicitações de pagamento ao exterior aos bancos comerciais no valor de 373 milhões de dólares (356,5 milhões de euros).
“Deste valor, 40% é do setor de aviação, sinalizando ser este o mais afetado, atualmente. Aliás, devido a esta situação, muitas companhias decidiram suspender alguns voos para Moçambique, bem como vender os seus bilhetes a partir de agências de viagens baseadas no estrangeiro”, sublinhou, por seu turno, na apresentação do diagnóstico, Evaristo Madime, responsável pelo pelouro da Indústria na CTA.
Seguidamente, os setores da indústria em 26% e comércio com 12%, “são os mais afetados” em termos de valor, com a CTA a apontar igualmente condicionalismos na importação de medicamentos, sobretudo da Índia (80% do mercado total de compras), mas também na falta de peças de substituição que estão a fazer “parar” o parque automóvel face a faturas por pagar ao estrangeiro desde junho.
Por outro lado, “analisando a dinâmica das exportações e importações de Moçambique”, a CTA nota “que o problema do mercado cambial poderia ser diferente, quando bem endereçado”, já que a cobertura de exportações sobre importações, incluindo os Grandes Projetos (setor mineiro e gás), ronda os 87%.
“Numa situação destas, não seria justificável a escassez de divisas que se verifica. Contudo, dado que a maior parte da receita dos Grandes Projetos não tem sido repatriada para o país, então o problema torna-se visível”, apontou Evaristo Madime.
“Sendo assim, para reduzir a escassez de divisas no mercado para importação de matérias-primas em 500 milhões de dólares [477,8 milhões de euros], propomos que o Governo inste as empresas no setor da indústria extrativa, em particular, a repatriar as suas receitas de exportação, nomeadamente dos grandes projetos”, acrescentou o responsável da CTA, sublinhando que esta medida, “em pouco tempo, poderia contribuir para o restabelecimento normal da fluidez das divisas”.
Segundo a CTA, os dados recebidos das mais de 60 empresas que em cinco dias confirmaram aguardar transferências de divisas para o exterior serão submetidos ao Banco de Moçambique “como prova material e quantitativa de que o problema de divisas no mercado cambial é real e muito sério”.
“Exigindo atenção do governador do Banco para a busca de soluções. A não resolução deste problema a curto prazo, tem o condão de agravar a situação económica na qual Moçambique se encontra e deteriorar ainda mais as oportunidades de emprego, levando a continuidade das convulsões sociais a que se têm assistindo em todo o país”, concluiu Evaristo Madime, apelando ao banco central para ser “mais ágil e criativo para contribuir para a paz social” no país.
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Lusa/Fim
By Impala News / Lusa
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