Goucha paga curso de treinador a ex-jogador que agora trabalha no Lidl
Tiago Pires foi uma das promessas de Alcochete e participou nos trabalhos da selecção de Scolari. A vida acabou levá-la para longe do mundo do futebol e o ex-jogador é agora funcionário do Lidl.
Tiago Pires, ex-jogador do Sporting CP, teve em si todos os sonhos de um jogador de futebol. De promessa da Academia, onde foi companheiro de equipa de Rui Patrício, Tiago Pinto (filho de João Vieira Pinto) ou Fábio Paim, Tiago era o central parceiro do agora jogador do Sevilha, Daniel Carriço.
O jovem passou onze anos nas equipas de formação leoninas e viveu o sonho de sair para o estrangeiro com um bom contrato, tendo rumado ao Génova, de Itália, com apenas 18 anos.
Ainda na Academia, Tiago acabou por ser chamado por Scolari para participar num treino da selecção A, que se encontrava em preparação para o Euro 2004. Em entrevista ao MaisFutebol, o ex-jogador confidenciou: «Foi antes do Euro 2004. Foi uma experiência diferente, foi bom. Estava no Sporting, jogava nos juniores, ia à seleção e, entretanto, o diretor do Sporting, o mister Jean Paul, disse-me que no dia a seguir ia treinar com a Seleção A. Fiquei surpreendido, mas contente. O mister Scolari gostou do meu treino e chamou-me para ir também no dia a seguir».
Tiago Pires acabou por contar ao jornalista Sérgio Pereira que foi alvo após um dos treinos da equipa nacional. «Geralmente os jogadores têm sempre um lugar marcado no autocarro. No primeiro dia entrei e perguntei onde me podia sentar. Nisto o Costinha diz-me: Podes ficar aqui, senta-te aqui, que não há problema nenhum. Eu sentei-me, tranquilo», depois chegou Figo ao autocarro, dizendo: «Nisto chega o Figo, que era o capitão, olha para mim: ó miúdo o que estás a fazer no meu lugar? E eu todo atrapalhado a dizer que tinha sido o Costinha a mandar-me sentar ali. Sai já do meu lugar, imediatamente. Levantei-me envergonhado e ele começa a rir-se. Deixa-te estar, estou a brincar. Na altura fiquei em apuros. Mas foi engraçado e agora já me rio com a história».
Da vida de jogador de futebol ao desemprego
O antigo central afirma que o contrato apresentado pelo emblema italiano era «muito melhor» do que o dos leões e que não «pensei em mais nada».
Contudo, a vida em terras transalpinas não foi fácil. A Itália, que seria campeã do mundo no ano seguinte, tem o seu futebol muito defensivo – o chamado catenaccio – e com defesas maduros e experientes, prejudicando a evolução de Pires. «O primeiro ano no Génova foi muito complicado. Assinei com a equipa principal, mas o treinador Gian Piero Gasperini apostava pouco nos jovens e passei muito tempo no banco ou na bancada», conta o ex-jogador.
Depois da experiência falhada no norte de Itália, Tiago rumou à Suíça por empréstimo e acabou por ser devolvido. Regressado ao Génova, o clube acabou por rescindir com o futebolista de forma caricata. «rescindi de forma amigável, sem saber, porque o meu empresário não ia resolver a minha vida, eu é que assinava os contratos todos e, no meio de um contrato de empréstimo ao Potenza, meteram um contrato de rescisão, que assinei».
Depois de mais alguns fracassos e de ordenados por receber, a antiga promessa voltou a Portugal para começar do zero e estar mais perto da família. «Fui para Leiria. Estive lá com o Manuel Fernandes, num ano em que subimos à Liga. Depois fui para o Operário dos Açores, começar tudo de novo, e ainda passei pela Naval, novamente pelo Leiria, pelo Juventude de Évora, pelo Reguengos».
A última experiência profissional foi de novo na Suíça, ao serviço do AC Vallemaggia.
O mundo para lá da bola
Após terminar carreira, surgiu um grande dilema. «Não estava a fazer entrar dinheiro em casa e a minha mulher fez-me optar, ou o futebol ou a família. Tive que arranjar um trabalho e deixar o futebol (…) Até que apareceu o Continente».
Tiago contou na entrevista o primeiro dia ‘do resto da sua vida’. «O primeiro dia foi mau de mais. Muito, muito complicado. Já o regresso a Portugal, depois de ter estado em Itália, tinha sido difícil. Saí de um Génova para um Operário dos Açores, as pessoas perguntavam-me o que estava a fazer ali e isso custava-me. Mas o primeiro dia de trabalho foi ainda pior. Estar a trabalhar para ganhar 400 ou 500 euros… muito duro. Custou-me bastante».
Mais tarde passou a montar aparelhos de ar condicionado e está há cerca de um ano e cinco meses no Lidl. «Ainda me estou a adaptar, ao fim deste tempo todo ainda não me ambientei totalmente. Fui jogador de futebol muitos anos e há coisas que ainda não encaixaram bem em mim: por exemplo, ter uma pessoa a dar-me ordens, trabalhar todos os dias oito horas, enfim, é totalmente diferente e ainda tenho de me acostumar a estas coisas todas».
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Manuel Luís Goucha ajuda ex-jogador
Tiago Pires esteve hoje no programa das manhãs da TVI onde contou a sua história a Manuel Luís Goucha e Maria Cerqueira Gomes. O antigo central pensa agora em voltar a sentir a relva mas com uma nova função, a de treinador.
Ao longo dos últimos tempos, o ex-jogador poupou para ir cumprir o sonho de ser técnico e Goucha decidiu dar um impulso aos sonhos de Pires, oferecendo o pagamento do curso profissional de treinador de futebol.
Esta não é a primeira vez que o apresentador ajuda um dos convidados a cumprir um sonho. Em agosto do ano passado, Nuno Santos, que tinha sobrevivido a um cancro, recebeu 1500 euros para retomar os seus estudos de representação.
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