Novos disparos para dispersar manifestantes na periferia de Maputo
A Polícia da República de Moçambique (PRM) voltou hoje a realizar diversos disparos para dispersar manifestantes no bairro da Urbanização, na periferia da cidade de Maputo.
Os confrontos começaram por volta das 12:00 (menos duas horas em Lisboa) e os manifestantes, que tinham bloqueado a avenida da Forças Populares de Liberação de Moçambique (FPLM) com troncos, reagiram com o arremesso de pedras, acusando as autoridades de estarem a “disparar indiscriminadamente”.
“Eles queriam remover a nossa barricada e tentaram primeiro negociar. Nós dissemos que não aceitávamos porque manifestar-se é nosso direito e explicámos que não estávamos ali para fazer confusão. Do nada, começaram a disparar indiscriminadamente. Usaram até balas verdadeiras”, disse à Lusa um dos jovens manifestantes.
Os confrontos prologaram-se por mais de três horas, descendo até ao interior do bairro da urbanização, pela avenida Milagre Mabote, de onde se podia ver o fumo de pneus queimados a sobressair entre as casas e ouviam-se diversos disparos.
Na FPLM, a avenida que dá acesso à Praça dos Heróis moçambicanos, após dispersar os manifestantes com gás lacrimogéneo, a polícia, com cães e pelo menos um veículo blindado, tentou desbloquear a rodovia, mas os manifestantes voltavam a colocar obstáculos, queimando também pneus, a poucos metros da 12.ª esquadra da PRM.
Desde 21 de outubro, Moçambique vive sucessivas paralisações e manifestações, convocadas pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que contesta os resultados das eleições gerais de 09 de outubro.
Pelo menos 103 pessoas morreram nas manifestações pós-eleitorais em Moçambique desde 21 de outubro, segundo atualização feita hoje pela Organização Não-Governamental (ONG) Plataforma Eleitoral Decide.
De acordo com o relatório divulgado por aquela plataforma de monitorização eleitoral moçambicana, só de 03 a 07 de dezembro, na atual fase de manifestações, há registo de 27 vítimas mortais, nomeadamente 10 em Gaza e oito em Nampula, além de três mortos em Cabo Delgado.
Anteriormente, aquela ONG já tinha também contabilizado pelo menos 274 pessoas baleadas durante as manifestações e paralisações de contestação aos resultados eleitorais desde 21 de outubro e 3.450 detidos.
O anúncio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), em 24 de outubro, dos resultados das eleições de 09 de outubro, em que atribuiu a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição para Presidente da República, com 70,67% dos votos, espoletou protestos populares, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane e que têm degenerado em confrontos violentos com a polícia.
Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas este não reconhece os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
EAC // VM
By Impala News / Lusa
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