Alegações no julgamento da tragédia do Meco adiadas. Novos documentos vão ser avaliados
O tribunal de Setúbal adiou hoje as alegações finais no julgamento cível da Lusófona e do ex-`dux´ João Gouveia para 22 de julho, para que o advogado da universidade possa avaliar os documentos apresentados por um oficial da Marinha.
A decisão da juíza Elsa Ribeiro foi tomada depois de ter sido ouvido o capitão de Mar e Guerra António Martins, que apresentou as conclusões de uma avaliação do estado do mar na noite em que ocorreu a tragédia da praia do Meco, na qual seis alunos da Universidade Lusófona perderam a vida.
Além do testemunho, o oficial da Marinha deixou ao tribunal um conjunto de documentos que o advogado da Lusófona, Flávio Roques, pretende analisar antes das alegações finais, pelo que não prescindiu do prazo legal de cinco dias, a que tem direito para esse efeito.
De acordo com o oficial da Marinha Portuguesa, na noite em que os seis jovens perderam a vida, a ondulação na praia do Meco terá atingido os “cinco metros de altura” e nem mesmo um nadador olímpico conseguiria lutar contra a força das ondas, se tivesse sido arrastado para o mar.
Na opinião do advogado das famílias das vítimas, Vítor Parente Ribeiro, as declarações do oficial da Marinha corroboram a ideia de que o único sobrevivente da tragédia, o ex-‘dux’ da Universidade Lusófona João Gouveia, só terá sobrevivido à força das ondas porque estava num patamar diferente, o que confirma a tese das famílias de que o ex-‘dux’ estaria a liderar uma praxe.
“Aquilo que ele [o oficial da Marinha] diz é que, naquele exato local onde aqueles jovens foram colhidos [por uma onda], é impossível alguém resistir e sobreviver. Dá inclusive um exemplo: quem sobrevivesse num primeiro momento, a seguir era arrastado. E o próprio impacto das ondas destruía completamente a pessoa”, disse o advogado, procurando evidenciar alegadas contradições na versão apresentada pelo ex-‘dux’ João Gouveia, de que estaria precisamente no mesmo local em que se encontravam os seis jovens que morreram na praia do Meco quando foram apanhados por uma onda e arrastados para o mar.
Para Vítor Parente Ribeiro, as declarações do capitão de Mar e Guerra António Martins, tal como as declarações do perito de medicina legal que também foi ouvido anteriormente pelo tribunal, corroboram a tese de que o ex-‘dux’ não estaria tão próximo da linha de água como os outros seis jovens que morreram em 15 de dezembro de 2013 na praia do Meco.
“Entendo que a reunião de todas estas peças de ‘puzzle’ levam claramente a perceber aquilo que aconteceu. E aquilo que aconteceu foi, claramente, uma situação que envolvia uma praxe”, disse.
Questionado pelos jornalistas, Vítor Parente Ribeiro afirmou-se confiante de que, no final do processo cível, será dada razão às famílias das vítimas, seja “na primeira instância, no Tribunal da Relação ou no Supremo Tribunal de Justiça”.
No julgamento a decorrer em Setúbal estão em causa seis ações cíveis contra o único sobrevivente e a COFAC — Cooperativa de Formação e Animação Cultural, CRL (Universidade Lusófona), em que as famílias dos seis jovens reclamam uma indemnização de mais de um milhão de euros.
A sessão de hoje do julgamento ficou também marcada pela declaração de parte de Fernanda Cristóvão, mãe da Catarina, uma das seis vítimas da tragédia do Meco, que, emocionada, afirmou que o que move as famílias dos seis jovens “não é o dinheiro, é o amor e a justiça”.
As alegações finais, que estavam previstas para hoje, estão agora marcadas para as 14:00 do próximo dia 22 de julho.
Siga a Impala no Instagram