Ana Catarina Mendes estupefacta com mudança do PS e aproximar à agenda da direita na imigração
A antiga ministra socialista Ana Catarina Mendes mostrou-se hoje estupefacta com a “mudança de posição” do PS sobre a imigração e o discurso sobre aceitação de culturas, criticando uma aproximação à agenda da direita e extrema-direita.
Em declarações à Lusa, a eurodeputada do PS, que no último Governo do PS tinha no seu ministério a pasta das migrações, deixou críticas à entrevista do líder socialista ao Expresso, na qual admitiu que não se fez tudo bem nos últimos anos quanto à imigração e anunciou que vai apresentar uma solução legislativa que permita regularizar imigrantes que estão a trabalhar mas recusando recuperar a manifestação de interesse.
“Vejo com enorme estupefação esta mudança de posição do PS quer quanto à manifestação de interesse quer naquilo diz respeito ao discurso sobre a cultura e aceitar as culturas”, criticou.
Segundo a antiga ministra, é um “enorme erro o fim da manifestação de interesse”.
“Acho um erro porque vai ao arrepio de tudo aquilo que é a nossa visão, do PS, há 30 anos sobre o que deve ser uma política de integração de imigrantes daqueles que chegam a Portugal à procura de uma nova oportunidade”, considerou.
Ana Catarina Mendes, que nas últimas eleições europeias ocupou o terceiro lugar na lista do PS, disse ainda ver “com muita preocupação este aproximar daquilo que é a agenda que a direita e a extrema-direita têm sobre a imigração”.
Esperando para ver qual é o instrumento que Pedro Nuno Santos vai propor, a eurodeputada do PS avisou que quanto mais se fecharem “os canais seguros, legais e regulares de imigração”, mais se está “a entregar as pessoas à sorte das redes que se aproveitam da vulnerabilidade dos cidadãos estrangeiros”.
“Vejo com enorme, enorme, enorme preocupação a mudança de discurso sobre aquilo que deve ser o acolhimento e a integração de cidadãos estrangeiros em Portugal”, criticou.
Para Ana Catarina Mendes, a cultura passa por se absorver e acolher, respeitando “as culturas uns dos outros”.
“A lei é para todos e o artigo 15 da Constituição é muito clarinho quando diz que os cidadãos estrangeiros têm os mesmos direitos e os mesmos deveres. Aquilo que deve acontecer é um prevaricador deve ser punido pela lei porque é assim que funciona um estado de direito”, disse.
O líder do PS, Pedro Nuno Santos, recusou hoje qualquer contradição nas suas posições sobre imigração e afirmou que não foi ao encontro das do Governo.
“Eu respeito as críticas. Eu queria deixar claro que não há nenhuma contradição. Quem tem falado comigo sobre imigração nos últimos meses sabe que sou bem crítico do instrumento manifestação de interesse”, defendeu.
No entanto, a eliminação feita pelo atual Governo do instrumento manifestação de interesse “sem a sua substituição por outros mecanismos na lei criou um vazio legal que é muito pior que a situação que estava antes”, empurrando muitos trabalhadores estrangeiros para a ilegalidade.
Sobre o facto de o ministro da Presidência ter saudado “a mudança de opinião” do secretário-geral do PS sobre a política da imigração do Governo, dizendo que Pedro Nuno Santos “dá razão” agora ao primeiro-ministro, o líder do PS recusou esta ideia.
“Eu não fui ao encontro do governo sobre este tema, há uma grande confusão sobre isso. Não há nenhuma cambalhota, não há nenhuma contradição, porque o instrumento legal que existia não era o mais adequado, o vazio legal que o Governo deixou ainda é pior porque empurra muitos trabalhadores estrangeiros para a ilegalidade”, respondeu.
JF // JPS
Lusa/fim
By Impala News / Lusa
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