Automobilistas pedem estradas e transportes para aliviar trânsito em Maputo

Automobilistas de Maputo dizem que a proposta para escalonar horários de trabalho, atrasando a abertura de alguns serviços, não vai resolver os problemas de congestionamento, pedindo antes melhores estradas e transportes públicos de qualidade.

Automobilistas pedem estradas e transportes para aliviar trânsito em Maputo

“O ideal seria propor transporte [público de passageiros] com mais qualidade”, disse à Lusa Aurélio Pereira, mecânico, de 56 anos, enquanto aguardava no entroncamento entre as avenidas Joaquim Chissano e de Angola, dirigindo-se ao coração da capital moçambicana, Maputo, onde trabalha.

Na viagem leva a filha até à Universidade Eduardo Mondlane e pelo trajeto enfrenta o habitual congestionamento que caracteriza as primeiras horas do dia em Maputo, chegando a demorar 60 minutos de casa ao serviço. Para o automobilista, o escalonamento de horários de trabalho “não vai resolver o problema de mobilidade”.

“Não vai alterar nada”, afirmou, acrescentando que a solução “seria um transporte e vias de acesso com mais qualidade”.

“Isto é um caos, tenho de levar a minha filha à faculdade e depois ir ao serviço. É transtorno e acho que na função pública também não vai funcionar”, lamentou, antes de seguir viagem.

O Governo moçambicano pretende escalonar os horários de trabalho de Maputo, atrasando em uma hora a abertura dos grandes supermercados e comércio retalhista, bem como da função pública, para retirar 55 mil passageiros da estrada.

De acordo com a proposta do Ministério dos Transportes e Comunicações, através da Agência Metropolitana de Transportes de Maputo, que está a ser apresentada a várias organizações, “diariamente são feitas cerca de 850 mil viagens” na capital, “das quais 355 mil no transporte público e as restantes em veículos particulares”.

A mesma proposta, que indica que na capital há cerca de 400 autocarros, 15 veículos mistos e 3.000 ‘minibus’ para assegurar o transporte público, só vai complicar a vida dos cidadãos, segundo Mário Sitoe, de 48 anos, que enfrenta diariamente o trânsito da capital moçambicana como motorista.

 “Será também complicado mudar os horários da função pública”, afirmou Sitoe, que diariamente acorda às 05:00 para levar uma hora de casa até ao trabalho.

“O que o Governo deve fazer é organizar a transitabilidade”, defendeu, assumindo que a solução é oferecer melhores vias de acesso no centro da cidade.

“Seria muito bom dar transporte público. A solução também é garantir a mobilidade, boas estradas, resolver os buracos que estão cheios. É o que cria mais engarrafamento e para chegar à cidade é complicado”, disse, enquanto reconhecia que está cada vez mais difícil conduzir no coração de Maputo. 

Tomé Bambo, técnico de relações internacionais, conduz diariamente nas avenidas de Maputo uma hora, até ao serviço, e até antevê melhorias com as medidas em cima da mesa: “Seria boa alternativa se se alterasse os horários, isso faria com que uns entrassem um pouco tarde e outros mais cedo”.

Enquanto aguardava a abertura do semáforo, para seguir viagem, Diogo João, funcionário bancário, de 42 anos, confessou à Lusa dúvidas sobre a eficácia destas alterações.

“Duvido, porque há problemas de vias de acesso”, afirmou o funcionário, que todos os dias demora 45 minutos no trânsito, até ao centro.

No seu entender, o problema de congestionamentos resolve-se com alternativas: “A solução seria haver transportes públicos, mais vias [de acesso], as poucas existentes se estiverem em melhores condições, melhor”. 

Gabriel Malipa, antropólogo de 48 anos, é outro dos milhares que enfrenta diariamente o trânsito da capital, levando 40 minutos de casa ao trabalho, e acredita que o escalonamento dos horários de trabalho vai melhor a mobilidade: “Há de haver esta redução”.

A proposta de horário escalonado prevê a abertura dos grandes supermercados às 09:00, uma hora depois do atual, o mesmo acontecendo no comércio retalhista. Na função pública, a proposta passa por atrasar uma hora o início do serviço na capital, das 07:30 para 08:30, com o encerramento também uma hora mais tarde, às 16:30.

“O escalonamento dos horários de trabalho poderá provocar um decréscimo de passageiros no período da manhã na ordem das 55 mil pessoas em apenas uma hora de diferença”, aponta a proposta do Governo.

A medida permitiria a “redução do período de pico, em especial o pico da manhã”, bem como da sobrelotação dos meios de transporte e dos “congestionamentos, stress e acidentes”, além de aumentar a “velocidade comercial na rede”, com “impacto na redução dos custos operacionais”, diminuindo o tempo de espera por transporte público nas horas de pico e aliviando a “concentração de passageiros nas paragens e terminais”.

 *** Paulo Julião (texto) e Luísa Nhantumbo (vídeo e fotos), da agência Lusa ***

PVJ // MLL

By Impala News / Lusa

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