Camarinha acusa Governo de fazer malabarismos com dados sobre salários
A líder da CGTP, Isabel Camarinha, acusou o Governo de fazer “malabarismos” com os dados sobre salários e disse que as contas do executivo são “incertas” para os que não conseguem pagar as contas ao fim do mês.
“Um país que se quer desenvolvido não pode ter os trabalhadores, como temos no nosso país, a empobrecer a trabalhar, não pode ter dois em cada três trabalhadores a ter um salário abaixo dos 1.000 euros por mês, não pode ter os trabalhadores jovens a emigrarem porque não conseguem um trabalho com direitos, não conseguem um salário que lhes permita viver e muito menos uma habitação, uma casa onde morar”, disse em entrevista à Lusa.
Perante os dados oficiais de que os salários têm aumentado nos últimos anos, Isabel Camarinha comentou que “é fácil fazer malabarismos com os números”, referindo por exemplo os referenciais estabelecidos no acordo de rendimentos assinado entre o Governo e os parceiros sociais (com a exceção da CGTP) que preveem subidas da massa salarial, incluindo todas as componentes remuneratórias.
Segundo frisou a sindicalista, “a esmagadora maioria das empresas” está a considerar nos aumentos toda a massa salarial, incluindo progressões, promoções, outro tipo de prestações que são atualizadas “e para os salários vai pouco mais do que dois ou 3%”.
“Nós sabemos bem qual tem sido a perda do poder de compra”, afirma Isabel Camarinha, acrescentando que a inflação e a subida do custo de vida não têm sido cobertos pelos aumentos salariais negociados na Concertação Social ou entre o Governo e os sindicatos da administração pública da UGT.
Para Isabel Camarinha, o Governo poderia ter ido mais longe mas não o fez “por opção”.
“O Governo anunciou um excedente de 4,3 mil milhões de euros [em 2023]. Claro que podia ter feito mais. Não fez, por opção, pela obsessão do défice, das contas certas, mas as contas certas do Governo são as nossas contas incertas, porque nós não conseguimos pagar as contas com os salários que recebemos no nosso país”, disse a sindicalista.
Segundo indicou, “onde tem havido alguma valorização salarial é onde os trabalhadores têm desenvolvido a luta” conseguindo em alguns casos “100, 120, 130 euros e, este ano, muitos já conseguiram 150 euros de aumento”.
Camarinha referiu ainda que os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que os salários em 2023 registaram uma “pequena subida” comparando com 2022, mas “perderam muito poder de compra” face a 2021.
De acordo com o INE, a remuneração bruta mensal média por trabalhador aumentou 6,6% em termos nominais e 2,3% em termos reais (excluindo a inflação) em 2023 face a 2022, para 1.505 euros.
Isabel Camarinha, 63 anos, vai deixar a liderança da intersindical no XV Congresso da CGTP, que se realiza na sexta-feira e no sábado, no Seixal (distrito de Setúbal), porque atingiria a idade da reforma durante o próximo mandato de quatro anos, o que não é permitido segundo as regras internas da central sindical.
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*** Denise Fernandes (texto), Pedro Lapinha (vídeo) e José Sena Goulão (foto), da agência Lusa ***
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By Impala News / Lusa
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