Dinamarca nega crise e quer debater com EUA após declarações de Trump sobre Gronelândia
O Governo dinamarquês rejeitou hoje que haja uma crise com os Estados Unidos da América (EUA) e afirmou-se “aberto ao diálogo”, depois de o Presidente eleito norte-americano ter expressado o desejo de anexar o território autónomo da Gronelândia.
“Não me parece que estejamos numa crise de política externa”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros dinamarquês, Lars Løkke Rasmussen, que sublinhou que a Dinamarca “não procura fricção, mas sim colaboração”.
Rasmussen, que foi primeiro-ministro em dois mandatos (2009-2011 e 2015-2019), aludiu às suas “próprias experiências” com Trump, que esteve na Casa Branca entre 2017 e 2021, e salientou que “nem sempre é preciso dizer em voz alta o que se pensa”.
“Tento manter-me fiel à realidade. Penso que todos faríamos um favor a nós próprios se nos acalmássemos um pouco”, afirmou.
O chefe da diplomacia dinamarquesa disse que simpatiza com as “ambições” da Gronelândia, embora não acredite que o território queira tornar-se um estado norte-americano, mas também descreveu as preocupações de Washington relativamente ao Ártico como “completamente legítimas”, num contexto de rivalidade de poderes e de colapso global.
Rasmussen recordou que a Dinamarca, a Gronelândia e as Ilhas Faroé constituem a chamada Comunidade do Reino Dinamarquês, o que implica um compromisso coletivo e a responsabilidade de cuidar da sua parte do Ártico.
“E isso também pressupõe que estamos abertos a um diálogo com os americanos sobre como podemos cooperar ainda mais do que já fazemos para garantir que as ambições americanas sejam satisfeitas”, disse Rasmussen.
Trump declarou no mês passado que a “propriedade e o controlo” da ilha, que pretendia adquirir durante a sua primeira presidência, é “uma necessidade absoluta” para a segurança nacional dos EUA.
Após a visita privada do seu filho mais velho, Donald Trump Jr., à Gronelândia, na terça-feira, o Presidente eleito não excluiu, numa conferência de imprensa no mesmo dia, um hipotético recurso à força militar ou à imposição de tarifas à Dinamarca para assumir o controlo da ilha.
A primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, já na véspera tinha apelado à calma e desvalorizado os comentários de Trump, enquanto o presidente autónomo da Gronelândia, Mute B. Egede, considerou-as “graves” e reiterou que o destino da Gronelândia é decidido pelos seus habitantes.
O líder do território deveria ser recebido hoje em audiência em Copenhaga pelo rei Frederico X, depois de a visita ter sido inicialmente cancelada devido a problemas de agenda, de acordo com o governo de Nuuk (capital da Gronelândia), o que deu origem a especulações na Dinamarca.
Mute B. Egede levantou suspeitas ao dizer, no seu discurso de Ano Novo, que era altura de dar “o próximo passo” no território, que deverá realizar eleições regionais em meados de abril.
Esta ilha ártica com dois milhões de quilómetros quadrados (80% dos quais cobertos de gelo) conta com uma população de apenas 56 mil habitantes.
Desde 2009, a Gronelândia tem um novo estatuto que reconhece o direito à autodeterminação.
Embora a maioria dos partidos e a população defendam a separação da Dinamarca, metade do orçamento da ilha depende da ajuda anual de Copenhaga e as tentativas de obter receitas da sua riqueza mineral e petrolífera falharam até agora devido às dificuldades e ao elevado custo da extração.
Os EUA mantêm uma base militar no norte da Gronelândia ao abrigo de um amplo acordo de defesa assinado em 1951 entre Copenhaga e Washington.
JH // SCA
By Impala News / Lusa
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