O que significará a eleição de Trump como presidente para o resto do mundo
Como a eventual eleição de Trump em 2024, “o mais importante ano eleitoral na história da Humanidade”, de acordo com a ONU, afetará o resto do mundo?
De acordo com as Organização das Nações Unidas (ONU), 2024 é “o maior ano eleitoral da história da Humanidade”. Metade da população mundial – cerca de 3,7 mil milhões de pessoas em 72 países – vota em todo o mundo, mas, “na verdade, algumas eleições são mais consequentes do que outras, e é por isso que o mundo está de olhos postos nos EUA”, para a eleição de Trump ou de Harris – diz David Hastings Dunn, professor de Política Internacional no Departamento de Ciência Política e Estudos Internacionais da Universidade de Birmingham.
Os EUA são a maior economia do mundo e a maior potência militar. Mas também são “o eixo de muitas alianças estratégicas internacionais, do sistema económico e financeiro e de muitas das instituições liberais do mundo”. Estas eleições são um “momento crucial na história dos EUA, que pode ter implicações enormes na forma como o país é governado e no futuro da ordem pós-guerra que Washington ajudou a construir”, considera Dunn.
Independentemente de qualquer eleição desde 1945, os princípios básicos das relações dos EUA com o resto do mundo “estão em disputa”. A escolha é entre o partido Republicano de Donald Trump, que “oferece potencialmente uma rutura completa com o papel dos EUA na comunidade internacional”, em comparação com a agenda mais internacional de Kamala Harris sob os Democratas. Com Harris, “os EUA continuarão provavelmente a desempenhar um papel significativo na NATO, por exemplo”.
Taxas sobre a China
O ataque mais notório à tradição da política externa dos EUA tem que ver com “os planos de Trump de impor uma tarifa universal de 20% sobre todas as importações estrangeiras“. As taxas sobre a China “podem ser muito maiores, com ameaças de Trump de levá-las de 60 a 200%“. “Além de inflacionárias e prejudiciais à economia norte-americana, tais movimentos resultarão provavelmente em retaliações, guerras comerciais e deslocamento da economia mundial“. Ao limitar o acesso ao maior mercado nacional do mundo, “também dificultariam os esforços globais para a transição para uma economia de carbono zero“, assegura Dunn.
Estas questões “preocupam pouco Trump”, que planeia ainda “repetir a retirada de Washington do acordo de Paris” sobre alterações climáticas, “revogar as medidas de proteção ambiental implementadas por Joe Biden e autorizar a exploração irrestrita de depósitos de petróleo e gás dos EUA através de fracking desregulamentado” (extração de petróleo e gás). “Se executados, os planos de Trump aumentariam toneladas de carbono extra à atmosfera e prejudicariam provavelmente de forma muito significante o trabalho global sobre alterações climáticas.”
Também em disputa na eleição de 2024 está “o compromisso dos EUA de defender amigos e aliados de estados hostis. Como membro da NATO, os EUA são obrigados a ajudar os outros membros, o artigo 5.º, se outro país atacá-los. Além deste tratado, os Estados Unidos têm também “acordos semelhantes com o Japão e a Coreia do Sul“. “O governo Biden liderou a NATO no apoio à Ucrânia com ajuda militar e financeira para evitar a sua subjugação total à ocupação russa.”
“Em contraste, Trump anunciou que ‘exterminaria’ esse apoio e pressionaria Kiev a aceitar a paz nos termos de Moscovo. Em vez de ver uma rede de alianças como a base de força e influência, Trump vê-as como uma fonte de risco e um fardo”, indica David Hastings Dunn.
Defesa dos aliados
Muitos antigos oficiais, como o ex-conselheiro de segurança nacional John Bolton, suspeitam de que “Trump tentará abandonar a NATO” se assumir um segundo mandato ou que “enfraqueceria a sua eficácia com um apoio ‘morno'” – como fica patente nos comentários recentes de que “Taiwan deveria pagar pela defesa”. “Não somos diferentes de uma companhia de seguros”, acrescentou Donald Trump. Estas afirmações, para Dunn, “sugerem um enfraquecimento do comprometimento dos EUA para com a ilha”.
Para muitos observadores, estas eleições também são importantes porque “está em causa a capacidade dos EUA para conduzir eleições livres, justas e incontestáveis e a transferência pacífica de poder”. Desde o seu primeiro envolvimento no processo primário do partido Republicano em 2016, Trump nunca aceitou os resultados de uma eleição que perdeu.
“O que é mais notável é que ele convenceu a maioria dos eleitores republicanos a ficarem ao lado dele quando disse que as eleições de 2020 foram um roubo – apenas um terço acredita que a eleição foi legítima. Quando a fé no processo eleitoral é tão minada, é difícil saber como podem os EUA unirem-se para serem governados após a eleição”, diz Dunn.
Para o campo de Trump, no entanto, “há uma resposta pronta para esta pergunta”. “Se eleito, o Projeto 2025, documento de políticas preparado por uma thinktank de direita, sugere que a sua administração substituiria o nível mais alto da burocracia de Washington por 50 mil funcionários que lhe juram lealdade, acima da Constituição. Também sugere que uma administração Trump dissolveria uma miríade de agências federais, como os departamentos de justiça, energia e educação, bem como o FBI e a Reserva Federal, e usaria a sua recém-reivindicada autoridade executiva para impor a sua agenda política pessoal.”
Estas medidas são projetadas para “permitir que Trump introduza uma série de políticas que muitos consideram autoritárias”, como a deportação de milhões de “estrangeiros ilegais”, “através da Guarda Nacional e do exército, se necessário”.
O exercício da Democracia nos EUA “tem fascinado e inspirado o mundo desde o seu início”, em 1776. “Nunca antes, contudo, pareceu tão em perigo. Os EUA estão profundamente divididos em muitas questões fundamentais – impostos, imigração, aborto, comércio, energia e política ambiental e o seu papel no mundo“.
“Pela primeira vez, estas divisões parecem mais importantes para muitos eleitores do que o respeito pelas suas instituições e tradições democráticas. Mais fundamentalmente ainda, muitos cidadãos norte-americanos parecem incapazes de aceitar o resultado do processo democrático e a subsequente legitimidade do vencedor. Quem ganha as eleições e como os EUA serão governados importa mais agora, para mais pessoas, do que nunca”, observa David Hastings Dunn, professor de Política Internacional no Departamento de Ciência Política e Estudos Internacionais da Universidade de Birmingham.
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