Falta de mão-de-obra é um dos problemas “mais preocupantes” nos transportes

A presidente da Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT), Ana Paula Vitorino, destacou hoje a falta de mão-de-obra como um dos problemas “mais preocupantes” no setor em toda a Europa, com tendência para se agravar.

Falta de mão-de-obra é um dos problemas

“O setor dos transportes enfrenta problemas relacionados com a falta de mão-de-obra. É uma das matérias mais preocupantes em toda a Europa”, afirmou a líder da AMT durante um seminário sobre transporte rodoviário, promovido no Porto pelo jornal ‘Transportes & Negócios’.

Segundo Ana Paula Vitorino, em 2023 ficou por preencher na Europa “um número de vagas correspondente a 10% do número total de motoristas”, sendo que, face a 2022, isto representa “um aumento de 54% de vagas por preencher, e com tendência para aumentar, de acordo com a União Internacional dos Transportes Rodoviários (IRU).

Fatores como as condições de trabalho e as mudanças demográficas, incluindo a concentração nas cidades e o envelhecimento da população, são os que mais contribuem para esta escassez de mão-de-obra, que a presidente da AMT destacou ter de ser “cada vez mais qualificada”.

“Adicionalmente — referiu — a mudança para modos mais sustentáveis, a digitalização e o transporte autónomo, conduzem a uma necessidade de requalificação dos profissionais em direção a novas competências, como a análise de dados, a inteligência artificial e robótica”.

Na sua intervenção no seminário, Ana Paula Vitorino referiu ainda, relativamente ao transporte de mercadorias, que “o transporte rodoviário é insubstituível no fornecimento de bens essenciais e deve ser pensado no âmbito de toda a cadeia logística”.

“Deve ser pensado de forma holística, tendo em conta não só o abastecimento de longa distância, mas também a logística urbana, conjugando as infraestruturas portuárias, as capacidades e vocações específicas do transporte rodoviário e ferroviário e as plataformas logísticas e as soluções digitais”, sustentou.

A presidente da AMT salientou que a aposta no tráfego ferroviário de mercadorias — que a Comissão Europeia defende que até 2050 deve duplicar “através de uma cada vez maior integração e articulação dos vários modos em sistema de transportes intermodais” — não implica “que o modo rodoviário não deva ser apoiado, incentivado e tornado competitivo, porque continua a ser essencial na capilaridade do sistema de transportes e, em última análise, na distribuição porta a porta”.

“Aliás, dada a estrutura do mercado nacional de transporte rodoviário de mercadorias, assente em pequenas empresas, as exigências são ainda maiores, pois necessitam de um esforço adicional para se tornarem competitivas no contexto nacional e europeu”, enfatizou.

Já quanto ao transporte de passageiros, Ana Paula Vitorino referiu que a AMT está “a refletir, entre os fatores críticos para os contratos de segunda geração, sobre as obrigações de serviço público”.

“É essencial uma gestão próxima e exigente do contrato, procurando detetar e corrigir qualquer falha e, assim, garantir um melhor serviço aos seus utilizadores, com qualidade, segurança, fiabilidade e pontualidade”, afirmou.

Paralelamente, destacou a necessidade de “haver maior flexibilidade na gestão dos contratos de serviço público”, já que, “por esta via, a sustentabilidade dos operadores pode ser melhor assegurada e a supervisão do regulador será também agilizada”.

Ao mesmo tempo, os contratos de serviço público de nova geração terão de ser “mais exigentes, mais verdes e mais sustentáveis”, promovendo “a acessibilidade em zonas de baixa densidade e menos atrativas para o investimento”, assim como “a robustez dos agentes económicos”.

Para assegurar uma maior sustentabilidade do sistema de transportes, Ana Paula Vitorino reforçou ainda a importância de “atuar no ordenamento do território, nos espaços urbanos e rurais”, sob pena de “nenhum sistema de transportes ser eficiente”.

“É preciso também reinventar as formas de financiamento do sistema, de forma a combater as assimetrias territoriais e a efetiva potenciação da inovação tecnológica alavancadas pelos contributos da academia e das empresas”, rematou.

Neste sentido, lembrou que a AMT está a realizar diversos estudos, entre os quais um “sobre o financiamento do sistema de transportes como um todo, que ficará pronto este ano”.

PD // CSJ

By Impala News / Lusa

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