Família de político moçambicano do Podemos raptado em Cabo Delgado pede justiça

O ativista e político moçambicano Arlindo Chissale, militante do Podemos em Cabo Delgado, está desaparecido desde 07 de janeiro, disse hoje à Lusa o irmão, acreditando ter sido morto por militares e pedindo “justiça e a devolução do corpo”.

Família de político moçambicano do Podemos raptado em Cabo Delgado pede justiça

“Sabemos que ele já não está entre nós. Pedimos justiça e que nos devolvam o corpo, porque ele deixa cinco crianças, em idade estudantil, que tenho que cuidar”, disse o irmão, Macário Chissale.

Além da atividade cívica e política no partido que apoiou a candidatura presidencial de Venâncio Mondlane nas eleições gerais de 09 de outubro, Arlindo Chissale cobria os ataques terroristas em Cabo Delgado para o portal de informação online “Pinnacle News”.

O irmão relata que foi “raptado” por militares quando viajava em Cabo Delgado, em 07 de janeiro, entre Silva Macua e Metoro, mas afirma que o crime está relacionado com a atividade política que desenvolvia.

“Não temos dúvidas sobre isso”, afirmou, acrescentando: “Foi retirado da viatura, foi forçado a sair, foi espancado ali e carregado numa outra viatura”.

“Cientificamente não temos confirmações, mas o mano já não se encontra entre nós”, afirmou acrescentou.

Arlindo Chissale tinha residência em Pemba, Cabo Delgado, e Nacala, em Nampula, norte de Moçambique.

“Esperávamos um final trágico, o que não esperávamos era nem ter o corpo. Este é o típico crime de militares, estamos cientes que não vamos ter investigações”, apontou.

Fonte do Podemos em Cabo Delgado explicou à Lusa que o rapto aconteceu quando Arlindo Chissale regressava de Pemba, onde tinha visitado a família, para Nacala.

“Até agora não temos informação do corpo ou do paradeiro. A convicção é que estará morto, mas não temos nenhuma confirmação”, disse a mesma fonte do Podemos, aludindo a uma fotografia de um corpo que chegou a ser associada ao de Arlindo Chissale, mas que o partido não confirma.

Pelo menos 106 membros e simpatizantes do Partido Optimista Para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), atual principal força da oposição moçambicana, foram mortos desde o início das manifestações pós-eleitorais e outros 15 ficaram feridos, disse no sábado o líder da bancada parlamentar do partido, Sebastião Mussanhane, em conferência de imprensa, em Maputo.

Em causa estão alegadas perseguições e mortes a tiro de membros e simpatizantes do partido, incluindo líderes das manifestações, com o objetivo de os “silenciar”, denunciou.

A maioria dos casos foram registados na província de Zambézia, no centro do país, onde pelo menos 100 pessoas morreram a tiro e outras 15 ficaram feridas, disse o responsável, acrescentando que outras seis pessoas foram assassinadas com recurso a arma de fogo na província central de Tete.

O Podemos alertou para o alastramento do fenómeno das “perseguições” de seus membros para outras províncias como Nampula e Cabo Delgado, no norte de Moçambique, pedindo segurança às autoridades moçambicanas e a identificação dos “autores dessas execuções”.

Em 23 de dezembro, o Conselho Constitucional (CC), última instância de recurso em contenciosos eleitorais, proclamou Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), como vencedor da eleição presidencial, com 65,17% dos votos, bem como a vitória da Frelimo, que manteve a maioria parlamentar.

A eleição de Daniel Chapo, já investido como novo Presidente de Moçambique, tem sido contestada nas ruas desde outubro, com manifestantes pró- Venâncio Mondlane — que segundo o Conselho Constitucional obteve apenas 24% dos votos mas que reclama vitória — a exigirem a “reposição da verdade eleitoral”, com barricadas, pilhagens e confrontos com a polícia, que já provocaram mais de 300 mortos e acima de 600 pessoas feridas a tiro, segundo organizações da sociedade civil que acompanham o processo.

 

PVJ // MLL

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By Impala News / Lusa

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