Governo grego acusado de “dissimulação” no mortífero desastre ferroviário de 2023
Os partidos da oposição na Grécia acusaram hoje o Governo conservador de “dissimulação” de responsabilidades no desastre ferroviário de 2023, o mais mortífero no país, e que um relatório parlamentar apenas atribuiu a um “erro humano”.
Em 28 de fevereiro de 2023, a colisão de um comboio de mercadorias com um comboio de passageiros em Tempe (centro), na principal linha férrea que liga Atenas a Salónica (norte), provocou 57 mortos, grande parte deles estudantes.
“Trata-se de uma dissimulação organizada pelo Governo”, denunciou Milena Apostolaki, deputada do partido socialista Pasok, no decurso de um debate parlamentar sobre as conclusões da comissão de inquérito após um relatório redigido pela Nova Democracia (ND), o partido de direita no poder.
“O argumento do erro humano é falso e sobretudo ofensivo para a memória dos nossos cidadãos mortos”, acrescentou.
Numerosos deputados, da extrema-direita ao Partido comunista (KKE) ou ao Syriza, o principal partido de oposição de esquerda, qualificaram de “enviesado” o relatório parlamentar, que apenas se destina a confirmar a tese inicial do Governo de Kyriakos Mitsotakis que atribuiu a catástrofe a “erro humano”.
Sokratis Famellos, dirigente do grupo parlamentar do Syriza, denunciou os “constantes esforços do Governo para dissimular o crime de Tempe”.
O coletivo de famílias das vítimas muito ativo, tem acusado o antigo ministro dos Transportes, Kostas Karamanlis, que se demitiu um dia após o acidente, e o seu antecessor de esquerda, Christos Spirtzis, ambos atualmente deputados.
O coletivo pediu hoje ao parlamento o “levantamento da imunidade parlamentar” dos dois deputados ao considerar que o procurador europeu (EPPO) abriu um inquérito sobre os atrasos verificados na instalação do sistema de sinalização de comboios e o controlo à distância.
A representante do coletivo, Maria Karystianou, cuja filha de 19 anos morreu no acidente, submeteu na segunda-feira à comissão de petições do Parlamento europeu a petição da associação “Tempe 2023” assinada por mais de um milhão de pessoas e que exige o levantamento da imunidade parlamentar de responsáveis políticos.
“Falamos precisamente de dissimulação”, assinalou Maria Karystianou num incisivo discurso, amplamente difundido na Grécia, designadamente pela internet.
Segundo o relatório da comissão parlamentar de inquérito grego, cabe à justiça esclarecer em definitivo este caso.
“Apenas a justiça terá a última palavra” sobre as responsabilidades deste drama, declarou o primeiro-ministro numa recente entrevista.
Até ao momento já foram indiciados 34 trabalhadores dos caminhos-de-ferro, e dois permanecem detidos por “homicídio por negligência”.
Esta catástrofe ferroviária revelou as falhas da rede ferroviária e os atrasos na modernização dos sistemas de segurança, que os sindicatos do setor vinham denunciando nos últimos anos.
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By Impala News / Lusa
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