Governo investiga exploração sexual de reclusas em prisão de Maputo

A ministra da Justiça anunciou hoje a criação de uma comissão de inquérito para investigar denúncias de uma alegada rede de exploração sexual em que guardas prisionais forçam mulheres reclusas a sair de uma cadeia de Maputo para se prostituírem.

Governo investiga exploração sexual de reclusas em prisão de Maputo

“Criámos uma comissão de inquérito, que será dirigida pelo Ministério da Justiça, Assuntos Religiosos e Constitucionais”, disse Helena Kida, momentos após uma visita ao Estabelecimento Penitenciário Especial para Mulheres de Maputo (EPEMM), mais conhecida por Cadeia Feminina de Ndlavela, nos arredores da capital moçambicana. A denúncia partiu da organização não-governamental Centro de Integridade Pública (CIP), que levou a cabo uma investigação naquela cadeia e alertou para a existência de uma alegada rede de exploração sexual envolvendo guardas prisionais, tendo pedido também a criação de uma comissão de inquérito para investigar o caso.

Durante a visita de hoje à cadeia, a ministra moçambicana manteve encontros privados com reclusas “escolhidas aleatoriamente” durante quase duas horas e relatou não ter encontrado “nenhum indício da existência deste tipo de casos”, embora prefira deixar as conclusões para a comissão de inquérito criada, que precisa de, pelo menos, 10 dias para o trabalho. “Não existe nenhum caso registado nem queixas reportadas pelas arguidas”, frisou Helena Kida, remetendo, no entanto, à comissão criada a conclusão das investigações.

Além do Ministério da Justiça, a comissão vai integrar os Serviços de Investigação Criminal, o Ministério Público, a Comissão Nacional dos Direitos Humanos e a Associação de Mulheres de Carreira Jurídica. “Havendo pessoas envolvidas, elas serão responsabilizadas. Pelo que se pôde ver nesta peça, parece haver clientes e é preciso saber quem são estes clientes para que também sejam responsabilizados”, frisou a governante, acrescentando que a ambição do executivo moçambicano é estender este tipo de investigação a outras cadeias moçambicanas.

Durante a visita ao estabelecimento penitenciário, a comunicação social foi autorizada a conversar com as reclusas, mas as entrevistas com os jornalistas só podiam acontecer depois de um encontro privado entre as reclusas e a direção da cadeia, uma condição que a imprensa rejeitou de forma unânime e abandonou o local. Segundo o relatório do CIP, divulgado na terça-feira, a alegada rede para a exploração sexual das reclusas “é um negócio lucrativo” e “as reclusas são tratadas como uma mercadoria e têm um preço”, só ao alcance de pessoas com algumas posses em Maputo.

“Pombinhas”, “coelhinhas” são alguns dos termos usados pelos guardas prisionais para se referir às mulheres durante a negociação com os clientes: acerta-se o dia, o local do encontro e o preço – os guardas podem receber cerca de 40 a 400 euros por cada reclusa entregue, acrescenta o documento. O Estabelecimento Penitenciário Especial para Mulheres de Maputo alberga um total de 97 reclusas, distribuídas por oito celas, com capacidade para 20 pessoas cada.

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