Guerra na Ucrânia não terá um vencedor, diz a ONU
O coordenador da ONU na Ucrânia considerou hoje que a guerra não terá um vencedor, numa declaração sobre 100 dias de “sofrimento, devastação e destruição em grande escala” no país.
“Esta guerra não terá vencedor e, em vez disso, temos testemunhado o quanto se perdeu: vidas, casas, empregos e prosperidade”, disse Awad, citado pelas agências espanhola EFE e francesa AFP.
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Falando numa conferência de imprensa em Kiev para a imprensa acreditada na sede da ONU em Genebra, Awad afirmou que pelo menos 15,7 milhões de pessoas na Ucrânia, o equivalente a um terço da população do país, “necessitam urgentemente de assistência e proteção”. “Precisamos de paz. A guerra tem de acabar”, insistiu o representante da ONU, numa altura em que as negociações entre Kiev e Moscovo estão paradas há semanas. A Rússia invadiu a Ucrânia em 24 de fevereiro, para “desmilitarizar e desnazificar” o país vizinho, que fez parte da antiga União Soviética.
Nas últimas semanas, os combates intensificaram-se no leste, na região do Donbass, considerada um alvo prioritário para Moscovo, e no sul, onde os pró-russos admitiram a possibilidade de a Rússia anexar os territórios ocupados. “Em pouco mais de três meses, quase 14 milhões de ucranianos foram obrigados a fugir das suas casas, a maioria deles mulheres e crianças”, disse Awad, considerando tratar-se de algo “sem precedentes na História”. Awad disse que mais 15 a 16 milhões de pessoas “permanecem nas suas casas, mas foram igualmente afetadas pela perda de empregos ou da capacidade de se mudarem”.
O diplomata sudanês alertou também para a necessidade de se “encontrar rapidamente uma estratégia para apoiar milhões de pessoas” no próximo inverno, dada a “destruição de muitas das centrais energéticas e a perda de fontes de energia alternativas” na Ucrânia. “Já estamos em junho, o inverno está ao virar da esquina e, nesta parte do mundo, as temperaturas são abaixo de zero”, lembrou Awad. O balanço de baixas na guerra é desconhecido, mas a ONU confirmou a morte de 4.200 civis em ataques armados, que também provocaram 4.000 feridos, referiu.
Segundo Awad, 269 hospitais e outras instalações de saúde foram atacados e cinco milhões de crianças não podem frequentar a escola. Awad advertiu que “1.700 milhões de pessoas no mundo podem ser afetadas pela escassez de trigo e outros cereais”, dado que Ucrânia e Rússia estão entre os principais exportadores mundiais de alimentos. Referiu mesmo que a Ucrânia garantia “cerca de 15 a 20% das necessidades alimentares mundiais”. “Estes alimentos estão retidos e temos outra época de colheitas a aproximar-se”, lembrou.
A situação já está a ter impacto em áreas dependentes da ajuda humanitária internacional, como o Sahel e o Corno de África, disse Awad, que salientou a urgência de desbloquear as rotas alimentares para reduzir a crise global. “Desbloquear o comércio no Mar Negro deve ser uma prioridade, e não o fazer pode levar à fome, instabilidade e migração em massa em todo o mundo”, alertou.
Outra das consequências é a inflação a nível global, havendo “países em situação de incumprimento da sua dívida”, como o Sri Lanka, que “é incapaz de pagar os seus empréstimos”. Amin Awad foi nomeado coordenador de crise da ONU na Ucrânia pelo secretário-geral da organização, António Guterres, em fevereiro, na sequência da invasão russa.
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