Guterres alerta que eclosão de antissemismo é “um mal e um presságio”
O secretário-geral da ONU, António Guterres, alertou hoje que o ódio antissemita, na sequência da guerra na Faixa de Gaza, “é um mal e também um presságio” que têm de ser combatidos.
Através de uma mensagem por vídeo numa cerimónia evocativa do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto e contra o Antissemitismo, na Sinagoga de Lisboa, Guterres recordou que o genocídio contra o povo judaico, há cerca de oito décadas, “não começou com os nazis nem terminou com a sua derrota”.
Atualmente e na sequência da guerra iniciada em 07 de outubro com um ataque sem precedentes do grupo islamita palestiniano Hamas em solo israelita, o ódio antissemita propaga-se “a uma velocidade assustadora” e, constatou, as suas manifestações na Internet deixaram de ser marginais para se tornarem generalizadas.
“A negação e distorção do Holocausto proliferam e as comunidades sentem-se ameaçadas. Uma realidade que, além de ser um mal, é também um presságio”, advertiu o líder das Nações Unidas.
A demissão de Guterres foi exigida pelas autoridades israelitas quando afirmou em outubro que os ataques do Hamas, que deixaram centenas de mortos em Israel, não aconteceram do nada”, em alusão a décadas de “ocupação sufocante” da Palestina, mas ao mesmo tempo que condenava o ato terrorista do grupo palestiniano.
Hoje voltou a fazê-lo, quando recordou Aristides de Sousa Mendes, antigo cônsul português em Bordéus, que, à revelia do regime, salvou centenas de judeus da perseguição nazi, e apelou para que seja seguido o seu exemplo de coragem tal como a dignidade dos sobreviventes: “Especialmente na sequência dos ataques abomináveis e terroristas de 07 de outubro perpetrados pelo Hamas”.
Para Guterres, este é também um exemplo de como “atos individuais podem fazer a diferença”, quando “nenhuma sociedade está imune à intolerância e a intolerância contra um grupo significa intolerância contra todos”.
O antigo primeiro-ministro português lembrou também a perseguição de judeus no virar do século XVI em Portugal, descrevendo-a como “uma imensa crueldade e um erro colossal” e expressou a sua “grande alegria” por ter sido permitido que os descendentes das famílias judias expulsas pudessem adquirir a nacionalidade.
“Cabe a cada um de nós insurgir-nos contra o antissemitismo quando e onde o encontramos, tal quando devemos condenar todas as formas de racismo preconceito e intolerância, incluindo ódio anti muçulmano e violência contra comunidades cristãs minoritárias”, declarou o secretário-geral da ONU, que deixou uma promessa a todos aqueles que enfrentam o ódio e perseguição: “Afirmo perentoriamente que não estão sozinhos. As Nações Unidas estão convosco”.
O Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, ou ‘Shoah’ em hebraico, coincide com o aniversário da libertação pelo Exército soviético do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, em 27 de janeiro de 1945 na Polónia ocupada pela Alemanha nazi, após a eliminação pelo Terceiro Reich de cerca de seis milhões de judeus.
O mais recente conflito entre Israel e o Hamas foi desencadeado pelo ataque sem precedentes do movimento islamita palestiniano em território israelita, matando 1.140 pessoas, na maioria civis, e levando mais de 200 reféns, segundo números oficiais de Telavive.
Em retaliação, Israel, que prometeu eliminar o movimento islamita palestiniano considerado terrorista pela União Europeia e Estados Unidos, lançou uma ofensiva em grande escala na Faixa de Gaza, onde, segundo as autoridades locais tuteladas pelo Hamas, já foram mortas mais de 27.000 pessoas — na maioria mulheres, crianças e adolescentes.
O conflito provocou também cerca de 1,9 milhões de deslocados (cerca de 85% da população), segundo a ONU, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária.
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By Impala News / Lusa
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