HRW acusa Trump de “pôr em risco” investigação sobre deportação de crianças ucranianas
A Human Rights Watch (HRW) acusou hoje a administração norte-americana de Donald Trump de pôr “em risco os esforços” para localizar as crianças ucranianas deportadas ilegalmente para a Rússia e Bielorrússia, devido aos cortes orçamentais à Universidade de Yale.

“A administração [do Presidente norte-americano] Trump pôs em risco os esforços para encontrar milhares de crianças ucranianas deportadas ilegalmente para a Rússia e a Bielorrússia e, ao fazê-lo, pode ter comprometido provas de crimes de guerra cometidos por funcionários russos”, denunciou Bill Van Esveld, diretor-adjunto da organização não-governamental (ONG) para a área dos Direitos das Crianças, num comunicado.
O Departamento de Estado dos Estados Unidos da América (EUA) financiou em 2022 o Laboratório de Investigação da Universidade de Yale, cujos trabalhos de investigação estavam focados na Ucrânia e nas deportações de crianças ucranianas.
A equipa de investigação de Yale tem denunciado os vários casos de deportação de crianças das zonas ocupadas da Ucrânia pela Rússia, situação classificada como um crime de guerra. Os peritos têm documentado a cumplicidade de vários funcionários russos e bielorrussos a todos os níveis e localizaram milhares de crianças cujas identidades e localização a Rússia se recusa a partilhar.
“A Human Rights Watch documentou de forma independente a forma como algumas destas crianças foram retiradas de instituições residenciais ucranianas em zonas ocupadas. As famílias não consentiram a que as forças de ocupação hostis levassem os seus filhos para sempre. Os oficiais russos submeteram as crianças a doutrinação anti-Ucrânia, treino militar e castigos por questionarem a guerra”, informou a ONG.
O laboratório da Universidade de Yale revelou vários dados sobre as crianças ucranianas, enviadas para dezenas de instituições residenciais em toda a Rússia, e identificou os nomes de algumas crianças que constavam nas bases de dados russas de acolhimento e adoção, sem a indicação do seu país de origem, mas com nacionalidade russa atribuída.
“Os cortes orçamentais da administração Trump interromperam o trabalho do laboratório. Mas não só. Nos termos do contrato celebrado com o laboratório, o Governo dos EUA é responsável pela base de dados do laboratório. Quando o Governo cortou o seu apoio, os membros da equipa do laboratório perderam o acesso aos dados insubstituíveis que haviam recolhido”, salientou o representante da HRW.
Os dados da investigação do laboratório de Yale incluíam provas de crimes de guerra, que, com a autorização do Governo dos EUA, foram partilhados com várias autoridades europeias e com o Tribunal Penal Internacional (TPI), que emitiu em março de 2023 mandados de captura contra o Presidente russo, Vladimir Putin, e a comissária russa para a proteção das crianças, Maria Lvova-Belova, pela deportação de crianças ucranianas das zonas ocupadas.
“Trata-se de uma potencial catástrofe para os esforços para encontrar as crianças e para que seja feita justiça pelos crimes cometidos contra elas”, lamentou Bill Esveld, no mesmo comunicado divulgado pela HRW.
“O Congresso deve pressionar [o secretário de Estado norte-americano] Marco Rubio a confirmar a integridade e a segurança dos dados e a restabelecer o acesso do laboratório aos dados, bem como o seu financiamento, para que possa continuar o seu trabalho essencial em prol da justiça e encontrar e repatriar as crianças ucranianas raptadas”, instou a organização.
Em dezembro de 2024, a universidade norte-americana publicou um relatório no qual defendia que a Rússia havia submetido pelo menos 314 crianças ucranianas a um programa de adoção forçada desde o início da guerra na Ucrânia, em fevereiro de 2022.
A investigação identificou 166 crianças já adotadas por cidadãos russos e outras 148 inscritas em bases de dados dirigidas pelo Governo russo.
As 314 crianças foram retiradas das províncias de Donetsk e Lugansk, transportadas para pontos temporários e distribuídas por 21 regiões da Rússia, destas, 67 foram naturalizadas e 42 estão no processo de adoção.
O estudo concluiu também que a Rússia recorre a psicólogos para legitimar este programa de adoção como uma “necessidade médica” e que as crianças foram sujeitas a uma “reeducação pró-russa” depois de ficarem sob custódia russa.
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By Impala News / Lusa
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