Ilha Terceira testou evacuação da população em cenário de erupção vulcânica
“É o primeiro exercício deste tipo que se faz. Nós achamos que ele é extremamente importante, porque temos uma probabilidade muito real de algum dia ser preciso fazer isto”, avançou aos jornalistas o presidente do município de Angra do Heroísmo, Álamo Meneses.
O objetivo era evacuar toda a freguesia das Cinco Ribeiras, localizada na zona oeste da ilha Terceira, onde mais se têm sentido os sismos integrados na crise sismovulcânica que afeta a ilha há mais de dois anos.
Desde junho, que o vulcão de Santa Bárbara está em alerta V3, numa escala de 0 a 6, que significa a confirmação da reativação do sistema vulcânico, existindo sinais de atividade elevada.
Segundo o presidente do Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores (SRPCBA), Rui Andrade, o exercício não foi realizado por haver indícios de erupção, mas para preparar a população.
“Penso que a população está esclarecida, agora não podemos ignorar a nossa condição permanente. A nossa suscetibilidade a eventos sísmicos ou vulcânicos era há mil anos aquela que é hoje”, afirmou.
Às 18:00, a população, previamente contactada, juntou-se no centro da freguesia e de lá partiu em viaturas próprias ou em autocarros para a Zona de Concentração e Apoio à População, na cidade de Angra do Heroísmo.
Se o cenário fosse real, a única diferença é que teriam sido avisados por mensagem ou por sirenes.
Os utentes do lar de idosos com menores dificuldades de locomoção também foram deslocados para outra infraestrutura, para testar os planos internos de emergência.
Numa das freguesias menos populosas do concelho, com cerca de 680 habitantes, apenas perto de uma centena aderiu ao apelo, mas foram muitos os que colocaram à porta de casa um pedaço de tecido ou plástico de cor verde, vermelha ou azul, como solicitado pela Proteção Civil.
“O vermelho identifica que naquela casa há alguém que precisa de ajuda. Quando as equipas de reconhecimento fizerem a visita às várias ruas, identificam que têm de parar e ajudar aquele morador”, explicou Rui Andrade.
Na maioria das casas, havia à porta um símbolo verde, sinal de que a casa já estava vazia, mas se tivessem deixado animais para trás devia ser colocado um símbolo azul, para que pudessem ser resgatados.
Chegados ao Pavilhão Municipal de Desportos de Angra do Heroísmo, os habitantes preencheram um primeiro registo e uma ficha do agregado familiar. Depois, aguardaram na bancada, enquanto a Cruz Vermelha montava 120 camas.
Esta noite, dormem todos nas suas casas, mas, se o cenário fosse real, o pavilhão teria capacidade para acolher cerca de duas centenas de pessoas.
Há dois anos que Sandra Fabre sente a terra a tremer e ainda tem bem presente na memória o sismo de 1980, que destruiu parte da ilha.
Acredita que o cenário simulado pode ser real, mas sente que neste momento os meios estão mais preparados.
“É um exercício bom, de prevenção. Nunca se sabe se é possível acontecer isso ou não e se acontecer pelo menos já temos alguma ideia do que havemos de fazer”, contou.
Filomena Brasil partilhou da mesma opinião. “É uma situação que pode acontecer e portanto estamos aqui para aprender. Numa situação real vai ser muito mais fácil”, apontou.
Quanto à possibilidade de o cenário se tornar real, a habitante garante não viver com esse receio.
“Aceito isto como uma coisa muito natural. Nós vivemos numa zona que é vulcânica e estamos sujeitos a que façam sismos, que os vulcões entrem em atividade e, portanto, é normal que aconteça”, declarou.
Para além da população, participaram neste exercício mais de 100 pessoas de 13 entidades, como Proteção Civil regional e municipal, junta de freguesia, departamentos governamentais, Cruz Vermelha, PSP ou GNR.
Numa primeira análise, ainda enquanto decorria o exercício, o presidente da Proteção Civil açoriana fez um balanço positivo.
“As entidades estão a interagir, estão integradas, estão coordenadas. Vejo a população envolvida como não tinha visto em nenhum exercício (…) Os objetivos estão a ser amplamente atingidos, estamos a levar o sistema para níveis de exigência elevados e é assim que eles têm de ser testados, na esperança de nunca termos de os utilizar”, vincou.
Segundo Rui Andrade, o simulacro, integrado nos exercícios trimestrais da Proteção Civil, pretendia testar os instrumentos de planeamento e a articulação entre as entidades, mas também “reforçar a cultura da população em Proteção Civil e garantir que está mais preparada, mais informada, mais capacitada e conscientes dos riscos e os perigos”.
O presidente do município de Angra do Heroísmo garantiu que todas as freguesias do concelho têm já pontos de concentração definidos, para a eventualidade de ser necessária uma evacuação.
Depois do exercício, será feita uma reunião para detetar o que correu menos bem e afinar os procedimentos, estando prevista a “publicação de um conjunto de instruções que serão distribuídas pela população”.
“Nunca foi testado com esta dimensão, estamos a testar em colaboração com a Proteção Civil regional e com a freguesia, para termos a certeza de que, no caso de ser preciso, temos as condições e temos particularmente o nível de coordenação que é necessário para que se faça sem atropelos”, frisou o autarca.
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By Impala News / Lusa
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