Motorista de José Sócrates diz que ele «rebentava com o dinheiro todo. E emprestava também muito»

Antigo motorista de José Sócrates afirma que não era ele quem guardava o dinheiro, tendo sempre, e apenas, cumprido ordens. «Era o primeiro-ministro. Eu ia lá meter em questão alguma coisa?»

Sócrates permitiu benefícios comerciais ao grupo Lena, Santos Silva foi intermediário
O antigo primeiro-ministro, José Sócrates, em 2011, na zona de Albufeira
Operação Marquês: Sócrates diz que responderá a todas as questões e reafirma-se vítima de campanha
8 - 11.2017 - Na sequência da investigação Operação Marquês, o Ministério Público acusou o antigo primeiro ministro, José Sócrates, de cometer 31 crimes. No total foram acusadas 19 pessoas singulares e nove empresas, que incluem o ex-banqueiro Ricardo Salgado, o antigo ministro socialista Armando Vara, os gestores Henrique Granadeiro e Zeinal Bava e o fundador do Grupo Lena Joaquim Barroca. A acusação, que se traduz num documento de mais de 4000 páginas, acusa José Sócrates de três crimes de corrupção passiva de titular de cargo político, dezasseis de branqueamento de capitais, nove de falsificação de documentos, três de fraude fiscal qualificada e de acumular 24 milhões na Suiça. O julgamento deve realizar-se no segundo semestre de 2018 ou, na pior das hipóteses, em 2019.

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Sócrates «rebentava com o dinheiro todo com a vida que tinha. E emprestava também muito dinheiro», diz João Perna, antigo motorista de ex-primeiro e arguido da Operação Marquês, ao Correio da Manhã esta terça-feira.

O arguido da Operação Marquês foi motorista do antigo primeiro-ministro desde 2011 e admite em entrevista que era Carlos Santos Silva quem, todas as semanas, entregava dinheiro a José Sócrates que, mais tarde, o colocava na sua conta.

João Perna é acusado de receber cheques ou dinheiro vivo de Carlos Santos Silva. «Acha que eu ia confrontar o homem a perguntar-lhe: ‘Ó senhor engenheiro, onde é que foi buscar este dinheiro e a que pretexto é que você vai transferir dinheiro para a minha conta?», questionou.

«Era o primeiro-ministro. Eu ia lá meter em questão alguma coisa? Em três anos com aquele homem, eu chegava de manhã e dizia-lhe bom dia. A resposta era ‘João, traz-me dois cafés’. O meu crime foi levantar-me todos os dias para ir trabalhar para aquele homem. Esse é que foi o meu verdadeiro crime», conta ainda o homem que garante que se limitou a cumprir ordens.

Perna, que está atualmente desempregado e à procura de novo emprego, conta ainda que o antigo primeiro-ministro «rebentava com o dinheiro todo com a vida que tinha. E emprestava também muito dinheiro».

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