Jorge Moreira da Silva prevê continuidade da UNOPS em Cabo Delgado

O diretor-executivo do Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos (UNOPS) defendeu hoje a continuidade do apoio daquela agência aos deslocados em Cabo Delgado, face aos resultados alcançados, pedindo que não se esqueça esta “crise” em Moçambique.

Jorge Moreira da Silva prevê continuidade da UNOPS em Cabo Delgado

“O mundo depara-se com outras crises (…). A UNOPS está presente em muitos dos contextos de conflito e de violência, mas não podemos permitir que a situação de Cabo Delgado se torne esquecida no contexto internacional”, disse Jorge Moreira da Silva, após uma reunião em Maputo com a ministra dos Negócios Estrangeiros de Moçambique, Verónica Macamo.

O também subsecretário-geral das Nações Unidas iniciou hoje uma visita de quatro dias a Moçambique, para conhecer os projetos que estão a ser implementados pela UNOPS em Cabo Delgado, para aonde viaja na terça-feira.

Desde 2022 que a UNOPS lidera a execução do apoio aos mais de um milhão de deslocados de todos os distritos de Cabo Delgado, província afetada há quase sete anos por ataques terroristas, no valor de 200 milhões de dólares (cerca de 187 milhões de euros) financiado pelo Banco Mundial e destinado a projetos de desenvolvimento e humanitários na região.

“Construção de 20 escolas, oito centros de saúde, 40.000 pessoas que tiveram acesso a apoio psicológico, mais de 7.000 pessoas, jovens, que tiveram acesso a formação profissional, a construção de oito mercados, quatro incubadoras de empresas, além de todo o apoio social aos deslocados internos, foi um projeto que teve belíssimos resultados, mas a pergunta que eu faço é: está terminado? Não está”, afirmou Jorge Moreira da Silva.

A chefe da diplomacia moçambicana, Verónica Macamo, enalteceu a “pujança” da ação da UNOPS em Moçambique, esperando o reforço da cooperação: “Dizem que uma coisa pode ser excelente, mas ainda assim há forma de tornar melhor”.

Para o antigo ministro português que lidera a UNOPS, em cima da mesa está a continuidade deste projeto de apoio em Cabo Delgado para além de 2025: “Há obviamente necessidade de ir mais longe e eu julgo que se os resultados foram tão bons, eu espero sinceramente que seja possível progredir. Eu não posso anunciar nada neste momento, mas a minha expectativa é de que o Banco Mundial possa ter interesse em continuar esta parceria. Como julgo que haverá interesse de todas as partes que assim aconteça”.

Jorge Moreira da Silva reconheceu que esta missão de quatro dias, em que prevê encontros com vários membros do Governo moçambicano e visitas ao terreno, é feita “num contexto muito específico”.

“Numa altura em que Moçambique é manifestamente um dos países mais ameaçados pelas consequências da mudança climática, tem sido fustigado por sucessivos desastres climáticos que demonstram que, não sendo responsável por emissões de gases com efeito estufa muito significativas, sofre efeitos desproporcionais da mudança climática e, portanto, é fundamental que a comunidade Internacional se mobilize para apoiar Moçambique na resiliência climática, na adaptação às alterações climáticas, mas também na descarbonização, na transição energética”, apontou.

Ainda sobre a situação em Cabo Delgado, que continua a registar ataques de grupos insurgentes, embora em menor escala nas últimas semanas, Jorge Moreira da Silva admite que “a ameaça não está debelada”.

“Aquilo que aconteceu em maio, com o último ataque [tomada da vila de Macomia], demonstra que é importante continuar a enveredar todos os esforços para garantir a segurança naquela parte do país, mas não basta garantir a segurança. É necessário apoio social e apoio económico. É necessário criar condições de bem-estar”, apontou.

“A UNOPS não é uma agência securitária, não é uma agência que trata da segurança ou da defesa, mas é uma agência que trata de projetos humanitários e de desenvolvimento e por isso eu tenho a esperança que este projeto possa prosseguir nos próximos anos”, concluiu.

PVJ // JMC

By Impala News / Lusa

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