José Sócrates critica Costa e Marcelo pela reação ao homicídio no SEF do aeroporto
José Sócrates critica reações do primeiro-ministro e do Presidente da República à morte do ucraniano Ihor Homenyuk. “É triste” um Governo PS ser acusado de desvalorizar um caso grave de violência policial.
O antigo primeiro-ministro José Sócrates critica reações de António Costa e de Marcelo Rebelo de Sousa à morte do ucraniano Ihor Homenyuk e considera ser “triste” ver o Governo PS acusado de desvalorizar um caso grave de violência policial em que, “depois de várias peripécias”, um cidadão “foi amarrado, espancado e viria a morrer”. A posição é defendida num artigo publicado hoje na revista brasileira Carta Capital, em que alerta ainda para uma “obscena mudança na cultura política europeia” com “reflexos nas culturas internas das polícias”.
“Nesse período de cerca de 57 horas em que esteve detido em território português, [Ihor Homenyuk] não teve acesso a tradutor, nem a advogado, nem foi presente a juiz, como impõe a Constituição da República. Nas horas seguintes, a certidão de óbito foi falsificada, a morte foi dada como natural e o assassinato foi encoberto”, descreve.
É «triste ver um Governo socialista acusado de desvalorizar um grave caso de violência policial», considera José Sócrates
Para o antigo líder do PS, “o tenebroso assunto foi mantido a custo no espaço público por algumas jornalistas da imprensa escrita – o resto, a indústria televisiva que domina a agenda política e que, na prática, decide o que existe e não existe, não viu no caso motivo de indignação, com a virtuosa exceção de uma delas, que deu a notícia”.
“O primeiro-ministro e o Presidente da República, apesar de este último aparecer todos os dias na televisão não se sabendo se a distribuir afetos ao povo ou se a pedi-los, também não sentiram necessidade de se referirem ao desonroso assunto, para além de breves considerações de circunstância no momento em que o crime foi revelado”, critica.
Para Sócrates, é “triste ver um Governo socialista acusado de desvalorizar um grave caso de violência policial em que um cidadão estrangeiro acaba assassinado”. “Mais do que a cultura de uma qualquer instituição policial, o que está em causa é um problema de cultura política”, diagnostica. O que se passou no aeroporto de Lisboa, diz o antigo primeiro-ministro, “não é, ou não é apenas, um infortúnio, um incidente trágico e isolado”. “É um sinal claro de uma obscena mudança na cultura política europeia” com “reflexos nas culturas internas das policias”.
Diretor nacional da PSP também não escapa à crítica de Sócrates
O ex-primeiro-ministro tece ainda críticas às declarações, no domingo, 13 de dezembro, de Magina da Silva, diretor nacional da PSP, depois de ter sido recebido pelo Presidente da República. “O que mais me impressionou na sua estudada e bem preparada declaração foi o ponto prévio em que afirmou que o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras é uma boa polícia e tem excelentes profissionais.”
E acrescenta que não houve “uma palavra para condenar o assassinato, nem uma palavra para apresentar condolências à família, nem uma palavra para lamentar o dano que o caso causa ao Estado”. “Fico com a impressão de que a declaração do chefe da polícia foi feita com o único propósito de afirmar uma certa cultura de autoridade policial”, termina.
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