Maior jornal moçambicano com dificuldades na distribuição devido a protestos
A Sociedade Notícias, que publica o maior jornal de Moçambique, comunicou que está a “enfrentar dificuldades na distribuição” impressa das suas três publicações devido às “manifestações violentas” pós-eleitorais em todo o país
“A situação é agravada pelas limitações na importação de matéria-prima para a impressão, nomeadamente papel, tintas e chapas”, da vizinha África do Sul, lê-se num comunicado publicado na primeira página do diário Notícias.
O documento acrescenta que como “solução transitória para mitigar o impacto desta situação”, e embora “reconhecendo a relevância que o jornal impresso tem para muitos” dos seus clientes, a Sociedade Notícias “está aberta” a fornecer o acesso à versão digital das suas três publicações.
“A distribuição dos jornais ‘Notícias’, ‘Domingo’ e ‘Desafio’ na versão impressa será retomada com a necessária normalidade para todo o país assim que as condições o permitem”, conclui o comunicado.
Pelo menos 47 pessoas ficaram feridas em confrontos entre manifestantes e a polícia nos últimos cinco dias de manifestações de contestação de resultados eleitorais, anunciaram na segunda-feira as autoridades moçambicanas, que detiveram ainda 77 pessoas.
Os dados indicam que foram igualmente instaurados 119 processos-crimes, submetidos ao Ministério Público.
A polícia moçambicana registou a destruição, com recurso a bombas de fabrico caseiro, de pelo menos cinco postos policiais, quatro postos administrativos, uma conservatória de serviços de notariados, uma invasão e vandalização a um estabelecimento penitenciário e ataques incendiários contra quatro residências.
Pelo menos 103 pessoas morreram nas manifestações pós-eleitorais em Moçambique desde 21 de outubro, segundo a Organização Não-Governamental Plataforma Eleitoral Decide.
O Presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, alertou na segunda-feira para o risco de “soluções políticas” em face à tensão pós-eleitoral caracterizada por manifestações e paralisações no país, defendendo que obrigam a abandonar a lei.
“Há uma linguagem que usou na sua introdução, que é preciso soluções de índole político e não policiais e militares, mas também podia dizer não legais, porque, às vezes, quando se toma uma medida política, às vezes abandona-se a lei e essa lei é o que nos amarra”, defendeu Nyusi.
Num encontro com o setor privado empresarial do país, o chefe de Estado afirmou que tem realizado várias reuniões na busca de soluções para a crise pós-eleitoral, num cenário em que as “muitas sensibilidades conflituam” nas suas propostas.
“As leis são feitas por pessoas e temos que ver em que momentos se vai para uma solução ou outra para evitar criar precedentes cíclicos a nível do nosso país (…) Os encontros que estamos a desenvolver tendem a procurar soluções e muitas vezes podemos estar numa caixa, fechados, a pensar que temos melhores soluções”, apontou o Presidente, referindo-se ainda à solução de “índole política” proposta pelos empresários.
O candidato presidencial Venâncio Mondlane apelou para uma nova fase de contestação eleitoral de uma semana, de 04 a 11 de dezembro, em “todos os bairros” de Moçambique, com paralisação da circulação automóvel das 08:00 às 16:00 (menos duas horas em Lisboa).
O anúncio pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), em 24 de outubro, dos resultados das eleições de 09 de outubro, em que atribuiu a vitória a Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975) na eleição para Presidente da República, com 70,67% dos votos, espoletou protestos populares, convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane e que têm degenerado em confrontos violentos com a polícia.
Segundo a CNE, Mondlane ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas este não reconhece os resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
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By Impala News / Lusa
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