Maputo parou de novo ao som de apitos e buzinadelas de contestação

Ainda não eram 12:00 e já os apitos ecoavam nas ruas de Maputo, que rapidamente paralisaram, no terceiro dia de protestos convocados pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, provocando um ruído ensurdecedor na capital durante 15 minutos.

Maputo parou de novo ao som de apitos e buzinadelas de contestação

À hora prevista, Alberto Zimba, e um grupo de amigos, montou o banco no cruzamento das avenidas 24 de Julho e Guerra Popular e dali não saiu, sentado, de apito na boca, cumprindo o protesto, enquanto os automobilistas, parados no trânsito, um pouco por toda a cidade, se juntavam com buzinadelas.

“Estamos aqui, primeiramente, para reivindicar a verdade eleitoral”, explicava o apoiante confesso, como todos os outros que o secundavam, de Venâncio Mondlane.

“Abandonamos os nossos trabalhos, os nossos negócios, estamos aqui para reclamar, para reivindicar e manifestar: Venâncio Mondlane no poder”, atirava.

Naquele cruzamento, no coração da cidade de Maputo, centenas, vestidos de preto, em luto, juntaram-se ao protesto, muitos subiram aos tejadilhos dos carros e até de autocarros imobilizados na via, tocando tambores, com apitos e vuvuzelas, enquanto muitos outros, de telemóvel na mão, transmitiam o momento pelas redes sociais.

Ao volante, Aristides Amocha passava no local antes ainda das 12:00 (10:00 em Lisboa) e por ali ficou, no interior da viatura, buzinando: “Parar das 12:00 às 12:15, apitar, buzinar e depois continuar a exercer as atividades”.

Antes de chegar a hora de libertar a rua, Dinis Alves aproveitava para mostrar o cartaz contra as desigualdades em Moçambique e reclamando pela “reposição da verdade eleitoral”.

“Há muita injustiça no país”, afirmava, para rapidamente continuar a passear por uma avenida totalmente ocupada por manifestantes.

Também para Adélcio Langa foi um dia diferente. Buzinou na avenida 24 de julho, de mãos no volante: “Paralisei a minha viatura e estamos a manifestar”.

“Reivindicar aquilo que é o nosso direito, o nosso voto, sou a favor da mudança”, explicava ainda.

Enquanto decorriam os 15 minutos do protesto, dezenas dançavam, cantavam e lançavam gritos de apoio a Venâncio Mondlane, como Mário Laule, subindo e descendo a Guerra Popular.

“O povo está no poder. Aqui viemos reivindicar a vitória dos moçambicanos. Nós fomos às urnas, votamos no nosso candidato Venâncio Mondlane, queremos ele na Presidência”, garantia.

Com o aproximar das 12:15, muitos começavam a fazer sinal e a gritar: “Está na hora”.

Pouco depois, o trânsito começava a circular, paulatinamente, enquanto muitos dos que antes se manifestavam tentavam agora apoiar na regularização do trânsito, até porque, das 13:00 às 13:25, um novo protesto prometia tomar conta da cidade, igualmente convocado por Venâncio Mondlane, desta vez entoando o hino nacional em homenagem a Elvino Dias e Paulo Guambe, seus apoiantes, assassinados numa emboscada em 18 de outubro, em Maputo.

Esta nova fase de protestos — paragem nas ruas entre as 12:00 e as 12:15 – foi convocada pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados anunciados pela Comissão Nacional de Eleições (CNE), e centenas de pessoas responderam saindo às ruas da capital, vestidas de preto, ou parando as viaturas no meio do trânsito.

Hoje, novamente, carros parados e o buzinão alastraram a outras artérias centrais de Maputo, como as avenidas de Moçambique, Karl Max, 24 de Julho, Eduardo Mondlane, entre outras zonas, como o mercado Estrela.

A ação, disse o candidato, é o luto pelas vítimas, manifestantes – segundo o candidato um total de 50 mortos nos últimos dias – que participaram em ações de protesto anteriores, “baleadas pelas autoridades que as deviam proteger”.

Enquanto carros, camiões e viaturas de transporte público paravam na rua, juntando-se ao protesto com buzinadelas, muitos outros voltaram a sair dos estabelecimentos comerciais e instituições públicas, aglomerando-se também nos passeios, entoando cânticos de apoio a Venâncio Mondlane.

Venâncio Mondlane contesta a atribuição da vitória a Daniel Chapo, candidato apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), com 70,67% dos votos, segundo os resultados anunciados em 24 de outubro pela CNE e que ainda têm de ser validados pelo Conselho Constitucional.

PVJ // MLL

By Impala News / Lusa

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