Meloni diz que voto “coerente” contra Von der Leyen não compromete cooperação
A primeira-ministra de Itália disse hoje que o voto contra dos eurodeputados do seu partido à recondução de Ursula Von der Leyen como presidente da Comissão Europeia foi “coerente” e não comprometerá a cooperação entre Roma e Bruxelas.
Numa declaração à margem da cimeira da Comunidade Política Europeia (CPE), que ocorreu hoje no Palácio de Blenheim, no Reino Unido, Giorgia Meloni disse que “os Irmãos de Itália [‘Fratelli d’Italia’] decidiram não votar” a favor da reeleição da presidente da Comissão Europeia por uma questão de “coerência com a posição expressa no Conselho Europeu” do mês passado, quando a primeira-ministra italiana foi a única líder dos 27 a votar contra as escolhas para os cargos de topo da União Europeia (UE), incluindo o nome de António Costa para presidente do Conselho Europeu, por discordar do “método e substância”.
No entanto, Meloni desejou “bom trabalho” a Von der Leyen e afirmou-se convicta de que o voto contra dos Irmãos de Itália à sua recondução para um novo mandato de cinco anos à frente do executivo comunitário “não comprometerá a cooperação em muitas questões, como a imigração”, do mesmo modo que não deverá “comprometer o papel de Itália na Comissão” Europeia 2024-2029.
“Somos um país fundador, o segundo maior produtor, a terceira maior economia, com um dos governos mais sólidos, e é com base nisso, e só nisso, que definimos o ‘peso’ da Itália” no novo executivo comunitário, completou a primeira-ministra italiana, líder dos Irmãos de Itália e também presidente do grupo dos Conservadores e Reformistas Europeus (ECR), bancada de direita radical do Parlamento Europeu.
De acordo com a imprensa italiana, nos dias que antecederam a votação de hoje em Estrasburgo (França), Meloni falou por duas vezes ao telefone com Von der Leyen, não tendo recebido as garantias que desejava para dar o seu apoio à dirigente alemã de centro-direita, entre as quais uma vice-presidência executiva na próxima Comissão.
Apesar de Von der Leyen ter anunciado hoje algumas medidas que vão ao encontro de ideias defendidas por Itália — como uma linha mais interventiva na imigração, com o anunciado reforço da Frontex (agência europeia para a gestão das fronteiras), a criação do posto de comissário para o Mediterrâneo, e uma forte aposta na desburocratização -, a “demasiada abertura à esquerda” demonstrada pela líder alemã ditou o voto contra dos Irmãos de Itália.
“As escolhas feitas por Ursula von der Leyen nos últimos dias, as orientações políticas, a procura de apoios à esquerda, indo até aos Verdes, tornaram impossível o nosso apoio à sua recondução. A forte mensagem de mudança que saiu das urnas a 09 de junho [eleições europeias] não foi ouvida”, justificou hoje, em conferência de imprensa em Estrasburgo, o líder da delegação dos Irmãos de Itália ao Parlamento Europeu, Carlos Fidanza.
Von der Leyen foi hoje eleita para um novo mandato de cinco anos à frente do executivo comunitário com 401 votos a favor (bem acima dos 360 necessários), graças ao apoio do Partido Popular Europeu (PPE, principal família política, da qual era a candidata cabeça de lista nas europeias), Socialistas Europeus, Liberais e também Verdes.
A dirigente alemã contou, no entanto, com o apoio de um dos três partidos que formam o Governo de coligação de direita e extrema-direita em Itália, o Força Itália (PPE).
A par do voto contra dos Irmãos de Itália, o partido pós-fascista liderado por Meloni, a recondução de Von der Leyen também foi rejeitada pela Liga, a força política de Matteo Salvini que integra o grupo Patriotas pela Europa, extrema-direita.
ACC // SCA
By Impala News / Lusa
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