Milhares de agricultores nas ruas de Madrid contra acordo UE/Mercosul
Cerca de 1.500 agricultores, segundo a polícia, e mais de 5.000, segundo associações do setor, manifestaram-se hoje em Madrid contra “a concorrência desleal” do acordo de comércio entre a União Europeia (UE) e o Mercosul.
“Se alguma coisa, neste momento, constitui uma verdadeira ameaça para o nosso setor é a proliferação de acordos de livre comércio da UE com países terceiros”, consideraram duas das maiores associações de agricultores de Espanha, a COAG e a ASAJA, no comunicado conjunto com que convocaram o protesto de hoje em Madrid, que teve ainda o apoio das Cooperativas Agroalimentares espanholas.
Para estas associações e confederações, as importações de produtos agrícolas dos países do Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), do Chile, de Marrocos ou da Nova Zelândia, com preços inferiores aos custos de produção na União Europeia “e sem cumprirem as regras que imperam para as produções comunitárias têm um impacto grave nos agricultores espanhóis e europeus e provocam perdas incomportáveis e o encerramento de explorações”.
As políticas europeias para agricultura, e em especial aquilo que consideram ser a excessiva burocracia e extrema regulamentação aplicada às produções no espaço europeu, já esteve na origem de manifestações de agricultores em diversos países da UE, incluindo em Espanha, na primeira metade deste ano, nos meses e semanas que precederam as eleições de junho para o Parlamento Europeu.
A ASAJA e a COAG – que levaram centenas de tratores e vários milhares de pessoas em protesto ao centro de Madrid em fevereiro e março – lembraram hoje que essas reivindicações se mantêm atuais e na manifestação que decorreu esta manhã em frente do Ministério da Agricultura de Espanha ouviram-se críticas dirigidas à Comissão Europeia, mas sobretudo ao Governo espanhol e ao ministro com a tutela do setor, Luis Planas.
Na sequência das manifestações de fevereiro e março, Planas assinou um acordo com as associações de agricultores a comprometer-se com 43 medidas que hoje os manifestantes disseram estarem longe de ser cumpridas.
A ASAJA e a COAG perguntaram ainda onde estão, nos acordos de livre comércio da UE com outros países, as garantias das prometidas “cláusulas espelho” por parte do governo espanhol.
As “cláusulas espelho” traduzem-se na imposição das regras de produção aplicadas dentro da UE aos produtos importados.
Os manifestantes lamentaram ainda que o governo espanhol tenha sido um dos maiores defensores, dentro da UE, do acordo de livre comércio com o Mercosul.
“Aquilo que viemos dizer ao ministro Planas é que o acordo com o Mercosul é uma traição à agricultura espanhola”, disse aos jornalistas o presidente da ASAJA, Pedro Barato.
“Concorrência desleal”, “Stop Mercosul”, “Não à concorrência desleal”, “Europa sem soberania alimentar não é Europa” ou “Ursula von der Leyen, cruella de vil da agricultura” foram algumas das frases que os agricultores levaram em cartazes à manifestação de hoje no centro de Madrid.
Nos altifalantes instalados no local, dirigentes das organizações agrícolas gritaram que os agricultores estão “fartos” após um ano de reivindicações, prometeram “guerra, guerra, guerra” se não houver respostas e prometeram ir “também a Bruxelas para dizer aos burocratas” que as políticas da UE arruínam o setor.
“A agricultura não se vende, a agricultura defende-se” e “não ao Mercosul” foram algumas das frases gritadas pelos manifestantes, que acompanharam os protestos com chocalhos, vuvuzelas e petardos.
O acordo de comércio entre a UE e o Mercosul foi selado em 06 de dezembro em Montevideu e espera agora a ratificação por todas as partes.
Espanha é o primeiro exportador da UE de frutas e legumes.
MP // JNM
By Impala News / Lusa
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