Milhares despedem-se de Francisco e muitos lamentam não existir procissão por Roma
A Praça de São Pedro, que acolhe hoje as exéquias do Papa, começou a encher-se de fiéis quatro horas antes, com muitos a passarem a noite em claro e a lamentar o facto de não existir procissão por Roma.

Os controlos policiais começaram dias antes e, durante a manhã, as autoridades italianas intensificaram a vistoria dos peregrinos, mas houve quem tenha passado a noite já dentro do perímetro, como é o caso da portuguesa Joana Santos, que veio do Porto.
“Chegámos ontem, já de noite, e viemos para cá. Ainda não fomos ao hotel, porque não conseguimos ver o Papa na Basílica (onde a urna esteve exposta entre quarta-feira e sexta-feira) e não podemos falhar hoje”, afirmou a mulher de 44 anos.
“Ele era tudo, ele era a nossa Igreja”, desabafou, emocionada e com sinais de cansaço de uma noite sem dormir.
Ao lado, Francesca queixa-se das autoridades do seu país. “Isto está tudo demasiado preso, demasiado organizado. Não faz sentido não haver uma procissão para que nós, os romanos e as pessoas do mundo, se possam despedir finalmente dele”.
Após as cerimónias, que começam às 10:00 locais (09:00 em Lisboa), o caixão do jesuíta argentino seguirá num cortejo até à Basílica de Santa Maria Maior.
O percurso de seis quilómetros será feito em meia hora, segundo a Santa Sé, demasiado rápido para que as pessoas o possam seguir a pé, algo que Francesca lamenta.
“Seria bonito, seria um imenso sinal de fé, se pudéssemos segui-lo, mesmo de longe. Imagine essa imagem de milhões a seguirem o Papa até à sua última morada. Seria magia”, disse.
Francesca esteve por duas ocasiões na Basílica de São Pedro para prestar homenagem a Francisco e já foi a Santa Maria Maior para ver o local de sepultamento, mas estava tudo vedado.
O José Martins não viu sequer o Papa. Chegou hoje de madrugada depois de um atraso de três horas do voo e quase nem dormiu no hotel.
“Vinha cá para a canonização do Carlo Acutis e depois aconteceu isto. Por isso quero estar lá, no meio das ovelhas, a despedir-me do meu pastor”, explicou o sacerdote, que veio de Guimarães com um grupo de oito pessoas.
Carlo Acutis, conhecido como o “influencer” de Deus, deveria ser canonizado no domingo, no contexto do Jubileu dos Jovens, mas a cerimónia acabou por ser suspensa devido à morte do Papa.
Para José Martins, “Francisco abriu portas que não é possível fechar”, porque é isso que “as pessoas querem e que Jesus Cristo quereria”.
“O caminho é ‘adelante’, como dizia o Papa”, acrescentou o sacerdote, considerando que “não há hipótese de recuo na Igreja”.
Nas ruas em redor da Praça é visível a azáfama. A rua da Conciliação, que desemboca no Vaticano está já cheia de peregrinos que querem chegar à praça, com muitos grupos ostentando bandeiras dos seus países.
Depois das exéquias fúnebres, presididas pelo camerlengo, o cardeal irlandês Kevin Farrell, a urna, que foi selada na sexta-feira à noite numa cerimónia privada, será sepultada na basílica, numa campa simples, a pedido do Papa, com a inscrição “Franciscus”.
Cerca de 50 chefes de Estado e de uma dezena de monarcas, bem como líderes de organizações internacionais, num total de mais de 160 delegações internacionais, estarão presentes na cerimónia, que exigiu medidas reforçadas de segurança na região da capital italiana, Roma.
Entre os dignitários presentes, incluem-se o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o seu antecessor Joe Biden, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, ou os Reis de Espanha, Felipe VI e Letizia.
O chefe de Estado russo, Vladimir Putin, e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, serão dos poucos líderes internacionais ausentes.
Portugal está representado pelas três mais altas figuras do Estado – o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, e o primeiro-ministro, Luís Montenegro -, bem como pelo ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel.
Na cerimónia na Praça de São Pedro, os líderes mundiais ficarão sentados por ordem alfabética, com os lugares da frente reservados para as autoridades italianas, nomeadamente o Presidente, Sergio Mattarella, e a primeira-ministra, Giorgia Meloni, bem como para Javier Milei, chefe de Estado da Argentina, país natal do Papa.
O Ministério do Interior italiano estima em 200 mil o número de fiéis que assistirão às cerimónias fúnebres de Francisco. Para o próximo conclave – ainda sem data marcada – e a eleição do novo Papa, esse número sobe para 250 mil.
A dimensão da cerimónia obrigou a medidas de segurança extraordinárias, com 11 mil soldados e membros das forças de segurança mobilizados, sem contar com as equipas das delegações internacionais.
Nascido como Jorge Mario Bergoglio em Buenos Aires, em 17 de dezembro de 1936, Francisco foi o primeiro jesuíta e o primeiro latino-americano a chegar à liderança da Igreja Católica.
A sua última aparição pública foi no domingo de Páscoa, no Vaticano.
PJA // MCL
By Impala News / Lusa
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