Novo túnel do rio da Vila no Porto deverá estar pronto em setembro
O novo túnel do rio da Vila, no centro do Porto, deverá estar pronto em setembro de 2023 e terá cerca de seis metros de diâmetro, servindo para desviar as águas da futura estação de metro de São Bento.
O novo túnel do rio da Vila, no centro do Porto, deverá estar pronto em setembro de 2023 e terá cerca de seis metros de diâmetro, servindo para desviar as águas da futura estação de metro de São Bento. Ainda antes das fortes chuvas que assolaram o centro histórico do Porto no sábado, a agência Lusa visitou a empreitada do desvio do rio da Vila, que criará um curso alternativo ao atual escoamento de águas, devido à necessidade de construção da nova estação da Linha Rosa do metro.
No total, o novo desvio do rio da Vila, a cargo da Metro do Porto no âmbito da construção da Linha Rosa (São Bento – Casa da Música), terá um túnel com o comprimento de 536 metros, dos quais 170 já estão escavados.
Na quinta-feira, à sombra da estátua de D. Pedro IV, o silêncio imperava no estaleiro montado para construir a nova estação de metro de São Bento, na Praça da Liberdade, local então despido de movimento devido às festividades de Reis, celebradas pela maioria dos trabalhadores espanhóis.
À acalmia causada pela festividade espanhola juntou-se a italiana banda sonora de “O Padrinho”, tocada por um artista de rua a partir do lugar da temporariamente ausente estátua d’O Ardina, o único som que logrou ultrapassar barreiras e passar para dentro do estaleiro.
Mas não era para o submundo do crime que corria a pouca água que ali se ouvia, numa quantidade ainda não comparável à que chegará à boca do novo rio da Vila quando a obra estiver concluída, ou à que percorreu a rua Mouzinho da Silveira e a Ribeira no sábado.
O rio da Vila, que desagua no Douro na zona da Ribeira, formava-se na zona da atual Praça de Almeida Garrett, em frente à estação ferroviária de São Bento, com cursos de água vindos do Marquês e da Fontinha, que acabaram encanados com o desenvolvimento urbano da cidade.
Na frente da Praça da Liberdade já há 13 metros executados, prontos para se juntarem aos 165 vindos do Largo de São Domingos, cuja água que ali foi parar já ‘irrigava’ a profundeza da Rua das Flores, mas numa quantidade baixa devido ao sol que raiou na última semana, antes da tempestade.
“O rio dá início na caixa montante, que é no centro da Praça da Liberdade, atravessa a nova estação da [Praça da] Liberdade, a construir, passa por baixo do Palácio das Cardosas, entra na Rua das Flores e vem ter aqui a esta caixa, onde nós entrámos, a chamada caixa jusante, que irá ligar, novamente, à galeria que vem da Rua Mouzinho da Silveira”, disse, à entrada do túnel no Largo de São Domingos, Vasco Nascimento, engenheiro de frente da nova estação.
Também a engenheira de túneis Mónica Fernandes explica que a obra foi necessária “porque a estação da Liberdade intercetava o antigo rio da Vila” e “os diversos braços que tinha”, motivo pelo qual foi necessário “refazer a estrutura para escoamento de águas que vêm de diversos pontos da Praça da Liberdade”.
Apesar do ocasional dia soalheiro de quinta-feira, rapidamente ‘arruinado’ pelas enxurradas de sábado, a responsável reconheceu que a chuva que caiu na cidade do Porto no mês de dezembro provocou “alguns condicionalismos” à empreitada. “Temos um aumento de água tanto a entrar pelos acessos, que tem de ser bombada e retirada da frente de obra, [e] temos também o maciço rochoso que, com a chuva, também satura e nos provoca dificuldades, depois, na escavação e nos avanços das frentes”, explica.
Vasco Nascimento refere que as dificuldades se relacionam com “o nível freático que pode aparecer nas frentes de escavação”, algo que também tem criado “bastantes problemas” na construção da estação.
O responsável afirmou que face à construção da estação “em frente ao hotel do Palácio das Cardosas”, tornou-se necessário intercetar “galerias antigas, e para isso resolveu-se, então, fazer um túnel hidráulico que encaminhasse as águas todas para entrar aqui na rua Mouzinho da Silveira, para ir desaguar ao rio Douro”.
O ambiente junto ao Largo de São Domingos contrastava com o panorama anterior, já com a azáfama dos carros no exterior bem audível e com a contínua escavação do túnel, que obriga ao funcionamento ininterrupto do ruidoso sistema de ventilação e da bombagem de água.
Entrando no túnel de cerca de seis metros de diâmetro, desenvolve-se uma curva que perfura o subsolo da Rua das Flores, num percurso de 165 metros marcado pelo castanho do maciço rochoso e da lama, bem como pela água suja e pela iluminação artificial. Nesta ‘gruta’ em pleno centro histórico do Porto, as gotas caíam e a lama colava os pés ao solo, chegando-se com dificuldade à parede limite que vai sendo escavada 24 horas por dia, divididas por três turnos, que fazem a estrutura avançar quatro a cinco metros por jornada.
“Aqui na zona das Rua das Flores, dentro da zona da abóbada do túnel até à superfície, temos, grosso modo, entre 16 e 17 metros [de profundidade], na zona dos Lóios a profundidade do túnel vai muito mais abaixo, temos à volta de 30 metros, entre 30 e 40 metros, e depois quando já passamos ali a frente do Banco de Portugal já temos uma altura outra vez menor”, diz Mónica Fernandes sobre quão fundo esta estrutura vai.
A responsável assume que na frente do Largo de São Domingos a obra “torna-se mais fácil” por se estar “quase a fazer a escavação de uma forma horizontal”. “Temos alguma pendente, porque isto é um túnel hidráulico, tem de ter uma pendência para escoamento de águas, e a escavação é mais simples”, ao contrário do que sucede na Praça da Liberdade, onde se registam algumas “dificuldades inerentes a uma inclinação muito grande”, nomeadamente “para colocar e estabilizar equipamentos”.
No entanto, apesar das maiores dificuldades na Praça da Liberdade, “as duas obras decorrem ao mesmo tempo”, tanto a do túnel como a da construção da estação, ainda que “com faseamentos”.
A conclusão do desvio do túnel do rio da Vila está prevista para setembro deste ano e a sua “durabilidade será sempre para mais de 100 anos”, refere Vasco Nascimento. “O túnel garante-nos uma estrutura nova, uma estrutura pensada para receber as águas todas que desaguam aqui no centro da cidade”, salientando o responsável que “as galerias existentes eram muito antigas, tinham alguns problemas”.
As obras na totalidade da nova Linha Rosa do Metro do Porto, incluindo nas estações de São Bento, Hospital Santo António, Galiza e Casa da Música, estão previstas para o final de 2024.
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